Capítulo 04

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— A filha da Zelena começou atrasada na segunda. Porém pelo desenvolver da semana e conversando com outros professores, estou admirada, é uma menina muito inteligente. - Regina comenta com os pés estirados no colo do pai. Recebia uma massagem após reclamar dos saltos que usava.

— Tomara que não nos traga problemas, ela já é mais velha que o restante da turma e tem uma carga pesada. - Com dois tapas leves, indica para a mulher trocar de pé.

— Não vai ser a primeira e nem a última repetente a estudar num colégio, papai. Além disso, eu quero ajudá-las, ela e Ruby. - Fecha os olhos em deleite quando o senhor pega em um ponto dolorido. Esse cuidado tão íntimo era um vínculo que Henry, seu pai, pensou ser impossível de construir quando uma Regina assustada chegou do Brasil no final da infância. Ele era apenas o marido da tia e hoje é um pai orgulhoso. - Cadê a mamãe e o HJ (Henry Júnior) ? Eles virão, certo?

— Ele foi para o apartamento dela depois da aula, matar a saudade do tempo que ela passou no Brasil deixando a gente doido. - O assunto ainda magoava o velho, mas tentou disfarçar indo até o bar da sala estar pegar uma dose de rum. Como Cora poderia ser tão inconsequente? Ela deveria pensar mais de uma vez antes de colocar o nome do colégio em risco, não é? Inconsequente! Talvez, há resquício de ciúmes na frustração e ele jamais admitiria e um sorriso debochado brota nos lábios de Regina por isso.

Como se adivinhasse que seu nome estava sendo tocado, Cora abre a porta da casa sem chamar ou ser anunciada. Não precisava disso na casa do marido, mesmo que estejam separados há tanto, tempo e filho. Em suas mãos tem sacolas de presentes, logo atrás vem Henry Júnior carregando a mochila que usou na aula e uma travessa de lasanha que sua mãe fez para o jantar.

Naquele momento com aquelas pessoas, foi como se sempre tivessem sido uma família inteira e unida. Conversando sobre suas férias, trabalhos e planos. A semelhança física de Cora e Regina era maior que a semelhança de personalidade, todavia qualquer um poderia imaginar que sempre foram mãe e filha. HJ (Henry Júnior) não estava na mesma turma que Emma e revira os olhos, igual a irmã faz, sempre que se sente excluído em alguma conversa. Todos tão parecidos, inacreditável como muitos podem dizer que não são realmente uma família. O que me faz pensar bastante. Porque, se isso não é uma família, o que seria?

Quem, senão uma mãe, vibraria tanto ao receber a notícia de que sua filha finamente se divorciou do homem que tratava tão mal? Quem, senão um irmão, para implicar com a irmã mais velha durante o jantar? Quem, senão um marido apaixonado, esqueceria o mundo ao redor apenas por olhar sua amada?

Se isso não é uma família, o que seria?

{...}

No dia seguinte, foi a vez de Emma estar em família, ou quase isso. Porque jamais acreditou que estaria aqui novamente, nem que passaria tanto tempo da cidade sem visitar o túmulo dos pais, mesmo que tenha se enchido de atividades apenas para não realizar essa tarefa. Porém na manhã de hoje, ao lado de sua avó, não pôde escapar dessa missão.

Mary estava em um banco distante, debaixo de uma árvore do imenso gramado que é o cemitério, dando liberdade para a neta meditar e tocar seu violino para o tumulo vazio da mãe. No passado, antes de perder minha avó, eu acreditava que isso era escrito em um livro apenas para emocionar o leitor. Todavia, após cantar para seu corpo enterrado numa tarde de domingo, decidi abraçar e acolher com empatia quem usa sua arte para expressar a dor. E Emma sendo o tipo de pessoa melancólica que é, não se expressaria de outra forma.

Se não fosse um dia comum, Emms tocaria mais uma música ou tagarelaria incansável por uma eternidade. Infelizmente, hoje ainda teria aula e as horas avançavam. Todavia com o vento acariciando sua tez, acendeu um cigarro antes de partir ao encontro de Mary.

— Obrigada, vovó. - Desperta a senhora de cabelos brancos do próprio pensamento. Para distante, com receio da fumaça lhe causar incômodo. - Realmente vir aqui foi uma ideia legal.

— Fico feliz com isso, qualquer coisa para acalentar essa cabecinha. - Encosta um dedo na testa da garota antes de lhe beijar a testa.

E era verdade, Mary não abriria mão de ajudar a realizar seus sonhos e trazer seu brilho de volta. Se família não é apenas uma avó preocupada com a neta, também não sei o que é. 

Tom MenorOnde histórias criam vida. Descubra agora