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JAMES GRIFFIN

Estacionei minha BMW na garagem aberta ao lado carro da minha irmã após chegar de um expediente completamente exaustivo do Hospital Veterinário Griffin. Minhas mãos estavam doloridas com a quantidade de cirurgia que teve hoje, e com a campanha de vacinação contra o vírus da raiva, foi um dia turbulento de tão movimentado.

Fechei a porta do carro, saindo dele e depois pegando algumas coisas no banco de trás que eu havia trazido do HVG para cá. Com tudo em mãos, me direcionei para a minha casa, mas uma movimentação me chamou atenção na casa ao lado.

A mesma mulher loira que eu havia ficado olhando como um completo idiota há três dias, estava sentada em um banco alto na sua varanda, no entanto o que mais me chamou atenção na cena, foi que na sua frente havia um cavalete com uma tela, e ela pintava tranquilamente a paisagem do mar em frente a nossa casa.

As suas passadas eram leves como pluma, transformando as cores singulares em uma mistura homogênea lindíssima mesmo que vista de longe. Ela transmitia uma paz tão grande e gostosa de sentir, uma que há muito tempo não tinha o prazer de presenciar, que me fazia ficar hipnotizado e com vontade de chegar mais perto apenas para receber mais um pouquinho daquilo diretamente na minha pele.

A cascata de ondas loiras caia pelas suas costas e vez ou outra, o vento, vindo do mar, o balançava, lhe fazendo prendê-lo atrás da orelha. A pele branca reluzente, com um pouco de bronzeado era esbelta e brilhava do mesmo jeito que parecia ser macia e deliciosa ao toque.

Usava um short curtinho que deixava as pernas à mostra e as balançava em algum ritmo de música que tocava nos seus fones de ouvido. Parecia alheia a qualquer coisa que acontecesse ao seu redor que não fosse as cores, os pincéis e sua tela.

Meu coração deu um solavanco forte fazendo-me sair do transe inusitado que eu tinha entrado, minha garganta estava seca, necessitada de alguns goles de água urgente. Não saberia dizer como ou o porquê de me sentir assim apenas olhando para uma mulher da qual eu não conhecia e nem sabia o nome, mas alguma coisa nela me remetia a uma água calma e cristalina que me deixava magnetizado.

Puxei o ar para os pulmões vagarosamente, sentindo meu peito encher e esvaziar quando o soltei pela boca, controlando aquela súbita sensação que me tomou. Desviei, finalmente, o olhar daquela mulher de nuances indecifráveis a olho nu e caminhei até a entrada da minha casa, sendo recebido por um abraço de pequenos braços em torno das minhas pernas.

Um sorriso delineou meus lábios quando seu cheiro chegou até as minhas narinas. Deixei as coisas no móvel que tinha ali no hall de entrada e abaixei-me para pegar a minha princesinha no colo.

— Você já chegou, papai!
— Oi, meu pacotinho.

Caminhei com ela pelo corredor curto até chegar na sala de estar e encontrei Beatriz estirada no sofá no meio de várias almofadas e cobertores com um balde de pipocas no colo e copos de suco na mesinha do centro. Uma imagem da Frozen estava travada na tela da televisão.

Sentei-me na ponta desocupada do sofá.
— Oi, sombra — cumprimentei minha irmã, dando um tapinha fraco na sua testa.

Ela bateu na minha mão para afastá-la e resmungou alguma coisa ininteligível. Parece que alguém hoje não está com o melhor dos humores.

— Como foi o seu dia, pacotinho? — virei-me para a minha filha.

— Foi inclivel, papai — abriu os braços para dar profundidade ao que dizia e seus olhos começaram a brilhar. — Na escola, a tia deixou a gente pintar um moooooontão de casinhas e de flosinhas com gigi cera e montamos um quebla-cabeça muito grandão no chão da nossa sala.

ℰ𝓈𝒸𝑜𝓁𝒽𝒶 𝒞𝑒𝓇𝓉𝒶Onde histórias criam vida. Descubra agora