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EMMA CONWAY

Passava um pouco das onze da noite e eu estava sentada na minha varanda e uma tela estava posicionada no cavalete de madeira enquanto eu deslizava o pincel vagarosamente pelo linho, terminando um quadro do qual não iria fazer parte da minha coleção para a inauguração da minha galeria.

Porque esse, continha um homem de cabelos negros e olhos azuis penetrantes sentado embaixo de uma árvore de cerejeira com uma garotinha sentada em seu colo, enrolados em um cobertor aconchegante e lendo algum livro infantil de princesas.

Eu havia visto essa imagem mais cedo quando cheguei da casa dos Smith. Não saberia dizer quanto tempo fiquei ali, apenas bebendo daquela cena repleta de carinho e deixando meu interior absorvendo esse momento de simplicidade e ternura compartilhado entre eles.

Não conseguia dormir então acabei levantando e deixando Nolan deitado sozinho na cama, vindo para o lado de fora no momento seguinte para poder respirar um pouco de ar puro. Quando vi, já estava sentada aqui, pintando a imagem dos dois que não saía da minha cabeça.

Sempre conseguia transmitir para a pintura aquilo que eu pensava ou sentia. Tudo que eu pincelava na tela tinha um pedaço dos meus pensamentos, então cada uma das minhas obras era parte de mim, da minha história. E de alguma forma, aquelas pessoas tinham ocupado uma parte da minha mente sem nenhuma permissão.

Assustei-me quando ouvi um barulho de algo caindo lá dentro me tirando do mundinho que eu havia entrado. Cobri a obra com o plástico, não me importando se fosse acabar estragando-a e corri para dentro de casa. Quando cheguei até o quartinho da Muse, de onde ouvi o barulho, encontrei toda a ração dela espalhada pelo chão, por conta dela ter pisado, e ela deitada ao lado da tigela virada para baixo.

— Muse?! — corri na sua direção, ajoelhando-me ao seu lado. — Muse, meu amor, o que houve?

Ela convulsionava e tremia. Notei que tinha vomitado ao lado da sua caminha e que onde suas fezes amolecidas estavam, continha sangue. Comecei a ficar desesperada, meu coração batendo acelerado e uma aflição tomando o meu corpo na velocidade da luz.

—  Aí, meu Deus! — lágrimas inundaram meus olhos. — Nolan! NOLAN! — gritei. — Nolan, me ajuda! Socorro! — Passei a mão pelo seu pelo. — Calma, meu amor...NOLAN!

Ouvi seus passos apressados vindo na minha direção enquanto eu sussurrava para a minha cachorra que ela ia ficar bem e que eu estava aqui. Quando ele chegou até mim se abaixou ao meu lado. As lágrimas já banhavam o meu rosto.

— Nolan... — olhei-o com agonia. — Eu... Ela... não...Não sei o que tá acontecendo. Ela estava... — solucei não conseguindo conter.

Ele segurou meus rosto entre as mãos.
— Ei, nós vamos para o Hospital Veterinário, ok? Se acalma.

Afastei-me dele com brutalidade.
— Calma?! Não me pede calma, caramba! Ela tá convulsionando, Nolan! Eu... — arfei aos prantos. —  Ela... Me ajude a levá-la para o carro.

Ele prontamente levantou a pegando no colo, e com uma conferida rápida, peguei tudo que eu conseguia me lembrar com a cabeça trabalhando a mil e, com o cobertor e bolsa nas mãos, fui até o lado de fora onde meu noivo acomodava minha cachorra, do melhor jeito possível, no banco de trás.

Corri até lá, sentando-me onde eu poderia colocar a cabeça dela no meu colo, cobrindo-a e fiz um carinho nos seus pelos tentando acalmar a ela e a mim, tentando de alguma forma passar uma segurança que nem eu mesma tinha.

— Vai ficar tudo bem, meu amor — sussurrei, a voz estrangulada por conta do choro. — Eles vão cuidar de você... Eles tem que... — sufoquei um soluço, as lágrimas descendo sem parar.

ℰ𝓈𝒸𝑜𝓁𝒽𝒶 𝒞𝑒𝓇𝓉𝒶Onde histórias criam vida. Descubra agora