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JAMES GRIFFIN

Acordei com um único pensamento rondando a minha mente: mudar as minhas atitudes em relação às pessoas à minha volta. Não por pressão pelo que minha irmã tinha falado, mas o tapa na cara que ela me deu me fez questionar várias coisas dentro de mim. Me fez perceber que eu estava deixando de viver a minha vida, estagnado no lugar por conta dor, e deixando o luto me consumir.

Sentia uma culpa passar por mim ao pensar dessa forma, afinal, imaginar viver uma vida sem Valerim do meu lado e começar a seguir em frente, me deixava com a sensação de que eu estava a esquecendo, que eu estava deixando ir embora os anos que passamos juntos, mesmo que eu soubesse que aquilo era impossível de se acontecer.

No entanto, eu não poderia continuar usando o luto como desculpa ou justificativa para ter caído em uma depressão profunda ou para ter me afastado de pessoas que eram e são importantes na minha vida. Sabia o quanto eu sofri, o quanto perder a minha mulher foi como retirar uma parte da minha alma, mas, lá no fundo, eu sabia que continuar daquela maneira não era certo. E que, aonde quer que estivesse, Valerim não gostaria que eu permanecesse dessa forma.

Foi por isso que, levantei cedo, tomei um café rápido e fui diretamente para o Hospital Veterinário Griffin, onde eu trabalhava como veterinário e diretor geral. O HVG foi fundado pelo meu pai há muitos anos, após sair da faculdade, e desde então, cresceu significativamente, sendo o maior hospital veterinário de Los Angeles, bem no centro da cidade.

Apesar de não ser próximo do meu progenitor, foi impossível não me apaixonar pela medicina veterinária, desde criança, sempre gostei de animais e em como queria trabalhar com qualquer coisa que envolvesse esse ramo e, como cresci passando a maior parte da minha vida dentro do HVG, esse amor só aumentou e foi inevitável não trabalhar lá.

Ao chegar, mudei completamente a minha rotina maluca que havia criado com o passar dos anos. Afinal, após o falecimento da minha esposa, me afundei no trabalho. Ficava dia e noite nesses corredores, cuidando e salvando animais sem me importar com o mundo lá fora, o que ocasionou o afastamento dos meus amigos e da minha própria família.

Com toda a reorganização dos meus plantões, eu teria mais tempo para passar com a minha família e voltar a frequentar os encontros que meus amigos planejavam, mas nunca acontecia por conta de todas as minhas recusas.

— James — ouvi a voz de Marcos me chamar, virei-me para encontrá-lo vindo até mim no fim daquele corredor.

Meu companheiro de profissão, mais também conhecido como um dos meus melhores amigos, se aproximou com seu costumeiro sorriso ladino e olhar de quem não valia o pão que comia. Ele já estava com um pijama cirúrgico, o que indicava que havia acabado de sair de uma operação.

Marcos Spencer era um daqueles caras brincalhões, que leva tudo na esportiva, está sempre sorrindo e fazendo os outros rirem com as suas piadinhas idiotas que vinham não importava o momento ou onde estivesse.

— E aí, Marcos — cumprimentei-o de volta, aceitando o seu aperto que logo se transformou em um abraço. Uma coisa que esse homem também adorava era contato físico, por isso estava sempre em uma cama diferente.

— É impressão minha ou você está cada vez mais velho? — franziu a testa fingindo estar me analisando. — Tenho certeza que estou começando a ver alguns fiozinhos brancos no seu cabelo.

Levantei um dedo do meio na sua direção.

— Vai se foder, idiota. — Ele riu achando graça. — Você fala como se não tivesse a minha idade, né, seu desgraçado.

ℰ𝓈𝒸𝑜𝓁𝒽𝒶 𝒞𝑒𝓇𝓉𝒶Onde histórias criam vida. Descubra agora