Despedidas e Encontros

130 24 2
                                    

Tempo... Sua definição é basicamente uma medida que usamos para quantificar a sequência de eventos, mudanças e durações que ocorrem no universo. Ele é geralmente representado como uma progressão contínua de passado, presente e futuro. Dizem que o tempo costuma a curar tudo, mas para mim isso não passava de uma grande mentira.

Me encontro arrumando minha mala. Em poucas horas, estaria na estação do trem, a caminho da capital, um lugar desconhecido onde eu ficaria em república com jovens da minha idade que tinham o mesmo objetivo que o meu, cursar Literatura ou qualquer outra coisa, já que a faculdade era consideravelmente ampla.

Com a ajuda do meu pai, colocava as malas com coisas essenciais do dia a dia, apenas o necessário já que eu tinha a opção de passar férias e alguns feriados em meu lar. Com tudo pronto, adentro no carro acompanhado dos meus pais. O caminho foi silencioso; só houve algumas pausas para ouvir as instruções da minha mãe, para que eu não me metesse em encrenca ou ficasse doente por não me alimentar. Apesar das suas mudanças de humor, ela ainda era minha mãe, e isso não impedia sua preocupação comigo. Hoje tenho uma visão diferente; sei que meu lar não é o lugar completamente puro. Meu pai já não era o mesmo. Às vezes estranho seu comportamento machista com a mamãe e com a Ji Eun; ele não é mais o meu herói. Me pergunto como chegamos a esse ponto, ou se era muito ingênuo de não ter enxergado.

Na estação de trem, avisto minha pequena Alice correndo em minha direção, deixando seus pais para trás. Sinto seus braços envolvendo-me, acostumado com seus abraços repentinos, mas desta vez era diferente. Sabia que sentiria minha falta mais do que qualquer outra pessoa poderia sentir. Ji Eun se afeiçoou a mim com tanta intensidade que cheguei a ter receio.

Ao nos afastarmos, percebo seus olhos pesados e cheios de lágrimas, o que faz meu coração partir em mil pedaços.

- Por que as lágrimas, minha pequena Alice? - Indago, preocupado.

- Vou sentir sua falta, vou ficar sozinha neste lugar. - Ela responde, a voz embargada pela emoção.

- Não estás só, eu estarei sempre aqui, mesmo que fisicamente distante, não se esqueça disso. E prometa-me uma coisa...

Seus olhos se encontraram com os meus, esperando ansiosamente pela promessa que eu pediria.

- Antes que eu possa ir, prometa-me que irá se cuidar e não chorar por um garoto bobo como eu. Prometa que continuará a ser essa garota incrível, cheia de vida e alegria. Não deixe que minha ausência a faça esquecer o quão especial és.

- Você não é bobo, mas eu prometo. - Ela responde com determinação, mesmo com as lágrimas ainda escorrendo por seu rosto, seu sorriso surgia timidamente.

Observo o relógio que carregava no bolso, o tic-tac incessante marcando os segundos que se aproximavam do momento inevitável, minha partida rumo a novos horizontes.

Seguro a mão de Ji Eun e a conduzo em direção aos nossos pais, que trocavam algumas palavras em meio à despedida.

- Está quase na hora. Preciso entrar no trem. - Anuncio.

Faço questão de me despedir corretamente de cada um ali presente, sabendo que talvez fique gravado algum resquício na minha memória.

Da janela do trem, observei meu último aceno se dissipar lentamente. Durante horas, fiquei absorto na paisagem em constante mudança do mundo lá fora, até que a exaustão começou a me dominar conforme nos aproximávamos de Seul.

Ao chegar à estação, tirei o pequeno papel com o endereço da república que seria meu lar temporário. Caminhei pelas ruas agitadas, tão diferentes de Busan, absorvendo a energia frenética da cidade enquanto me dirigia ao meu destino.

A república parecia uma casa comum, exceto pelo fato de ter vários quartos e uma espécie de recepção ou portaria onde se podia obter informações. Passei todos os meus dados para a senhora que folheava um extenso fichário. Meu nome estava lá, então ela me forneceu as chaves e o número exato do quarto.

Pelos extensos corredores, finalmente encontrei o quarto 13. O número estava meio apagado na porta, que tinha um aspecto antigo, mas nada que não combinasse com as paredes beges. Ao entrar, estranhei a ausência de uma cama extra, mas não fiquei me questionando. Senti alívio por não ter que dividir o quarto com algum estranho. Deixei a mala na cama, pegando apenas uma muda de roupa, e entrei no pequeno banheiro para uma ducha. A água batia na minha pele, causando uma sensação relaxante, permiti que minha mente vagasse por pensamentos desconexos. A sensação de estar sozinho em um lugar estranho, longe da familiaridade de casa, começava a se tornar mais palpável. Refleti sobre as expectativas e os desafios que me aguardavam na nova jornada acadêmica. Aquele momento de solidão sob o chuveiro era como uma pausa, uma transição entre o conforto do passado e a incerteza do futuro. A água me envolvia, como se lavasse não apenas meu corpo, mas também minha alma, preparando-me para os desafios que estavam por vir.

Seguro, saio do chuveiro e visto as roupas limpas, pronto para desarrumar a mala e organizar o ambiente para torná-lo mais confortável. Enquanto me perco em devaneios mais uma vez, minha mente vagueia por lugares desconhecidos. Escuto passos se aproximando no corredor, até ouvir a maçaneta da porta girar. Meus olhos batem freneticamente, como se tudo não passasse de minha imaginação fútil. Era ele.

A situação era inesperada, uma reviravolta que me deixou perplexo. O destino parecia brincar conosco, mas qual seria a probabilidade de algo assim acontecer? Era uma loucura. A reação de Jimin não foi muito diferente da minha; ele também estava surpreso, assustado, uma mistura de emoções evidente em seu rosto.

- Tenho quase certeza de que este é o meu quarto. - Ele disse, desviando o olhar e explorando o ambiente.

- Me disseram que eu ficaria aqui. Pensei que teria que dividir o quarto, mas só há uma cama disponível - respondi.

- Pode ser que tenha ocorrido algum engano. Irei verificar na recepção. Posso deixar minhas bagagens aqui, só para não ocupar espaço no corredor.

- Claro... Jimin. - O vi se virar para sair, mas o impedi por impulso.

- Sim?

- Não imaginei que você viria para a capital.

- Inicialmente não estava nos meus planos, mas era uma ótima oportunidade.

- Entendo. - Foi a única palavra que consegui pronunciar, antes que ele saísse para resolver a questão do quarto. Por dentro, estava em pura agrura, uma pequena chama reacendia.

AO SEU DISPOR Onde histórias criam vida. Descubra agora