Ecos de Ciúme

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Após aqueles dias, posso afirmar que as coisas se tornaram mais brandas. Embora um sentimento intenso nos permeie, conseguimos lidar com nossos próprios afetos e manter uma amizade. Alguns dos nossos horários coincidem, e frequentemente seguimos o mesmo caminho.

Senti-me em paz, pois já havia aceitado o meu destino, que não era estar ao seu lado da forma que desejava. No entanto, testemunhar seu progresso trazia-me uma sensação de leveza. Ultimamente, trocava cartas corriqueiras com Ji Eun, compartilhando sobre como estavam sendo os estudos e ela expressava sua saudade. Isso era uma das coisas que eu mais detestava; não desejava que ela me amasse tanto, não era conveniente.

O entardecer já se fazia presente enquanto Jimin permanecia concentrado nos livros da biblioteca.

- Vais para o dormitório? - Indaguei.

- Não posso, tenho que concluir esta última pesquisa.

- Queres que te espere? - Perguntei com anseio de vê-lo andar sozinho, pois a cidade era perigosa à noite.

- Não é necessário, podes ir na frente. Logo estarei lá. - Disse ele, voltando sua atenção aos livros.

Assenti, dando-lhe mais uma olhada, mas, como esperado, estava mergulhado em seus estudos. Prossigo o meu caminho, observando os automóveis passarem, assim como as pessoas voltando de seus respectivos trabalhos. Observo minha moradia mais recente da esquina onde estou caminhando em sua direção. Percorro o caminho sentindo o frescor do ar gélido bater em meu rosto, logo iria nevar, e, finalmente, ao chegar ao quarto, me deparo com duas camas lado a lado. Sinto um alívio imediato nas costas, pois não aguentava mais dormir no chão. Insisti para que Jimin ficasse com a cama que inicialmente era minha.

Tomo um banho quente, me agasalho e enxugo meus cabelos cuidadosamente para não correr o risco de pegar um resfriado. Ouço batidas na porta e, por um instante, pensei que pudesse ser Jimin, mas ele nunca bate antes de entrar. Sinto-me constrangido por ter sido pego de roupa íntima certa vez. Apresso-me para abri-la e me deparo com um garoto de pele pálida, que já tinha visto com Jimin. Deduzo que seja Taehyung, seu melhor amigo.

- Jimin, este é o quarto dele? Ele está?

- Sim, mas ele não está no momento. Creio que não demore. Tu és Taehyung, não é verdade? Jimin me falou sobre ti. Quer esperar?

- Estás enganado, não sou Taehyung. Me chamo Min Yoongi, sou um velho amigo íntimo do Jiminie.

O deixo entrar, mesmo que não fosse Taehyung, mas suas palavras, "amigo íntimo do Jiminie", ecoavam em minha mente, um arrependimento batia-me por tê-lo permitido entrar. Tudo que eu queria era que ele partisse e nem ao menos encontrasse Jimin.

- Min Yoongi, certo? - Pergunto, sondando-o.

- Sim, não tive a oportunidade de perguntar como se chamas.

- Me chamo Jeon Jungkook, mas não entendi o que quis dizer com amigos íntimos.

- Desculpe, mas não entendo sua dúvida.

Não tive tempo suficiente para obter a solução das minhas dúvidas e nem suas intenções, pois Jimin atravessava pela porta, dando de cara com nós dois. A princípio, ele parecia surpreso ou assustado.

- Yoongi, o que faz aqui?

- Podemos conversar? - Observo Yoongi fitar Jimin atentamente.

Antes de concordar, Jimin olhava para mim procurando algum tipo de aprovação da minha parte, mas não consigo dizer nada, apenas o vejo sair com aquele cara.

Sinto como se houvesse um clima pesado entre eles, diferentemente da última vez que os vi. Confesso sentir ciúmes, ainda mais com a demora para Jimin voltar. Olho as horas a cada cinco minutos, quando me sinto suficientemente cansado de esperar, vou em direção à porta, prestes a sair para procurá-lo, mesmo que não seja da minha conta. Ouço vozes se aproximando e não consigo evitar de escutar.

- Senti sua falta, não entendo como te deixei escapar tão facilmente. Sei que sou seu primeiro amor, Jimin... Volte a me amar como antes.

- Yoon, não és tão fácil quanto pensas, nosso romance não estava sendo avassalador como quando nos conhecemos.

- Eu sei, foi por isso que terminou, mas quando nos reencontramos fiz questão de ficar por perto, porque sei que podemos voltar a ser como antes. Eu não posso te cobrar seu amor imediato, mas peço que me deixe ficar perto.

Me encontrava grudado na porta, tentando ouvir mais algum vestígio da conversa, mas não ouço mais nada, o que me deixa aflito. Abro a porta em um momento oportuno e vejo-o acariciar o rosto de Jimin, quase a ponto de beijá-lo, meu coração dói ao ver aquela cena. Coço minha garganta propositalmente, fazendo Jimin hesitar.

- Precisas de algo, Jeon? - Pergunta Yoongi, enquanto Jimin me encara atentamente.

- Não, apenas queria pegar um ar, o quarto está abafado. - Respondo, permanecendo no mesmo lugar, mesmo que o rosto dos dois me dissesse para entrar.

- É melhor que vás, Yoongi, está tarde e não é bom ficar perambulando a estas horas.

- Eu irei. - Yoongi envolve o corpo pequeno de Jimin em um abraço, e os vejo cochichando antes de se afastar e ir embora.

Entro antes que Jimin volte seu olhar para mim. Ele também entra, mas não questiona minha atitude, nem ao menos me dirige seu olhar, como se estivesse apenas focando no que aquele cara havia dito, o que me deixa irritado. Ele está agindo como se não se importasse com o que penso.

Me acomodo na cama enquanto o vejo caminhar até a janela e ficar ali, perdido em seus pensamentos.

- Suponho que não der para vê-lo mais, por que ainda estás na janela? Vai acabar nos causando um resfriado com essa ventania se não fechar.

- Imaginei que estivesse abafado aqui. - Ele me responde com rispidez.

- Vais voltar para ele?

- Não sei, Jungkook. Não tens o direito de me perguntar nada. - Sua resposta é dura e direta.

- És um tolo. - Critico, deixando escapar minha frustração.

- Por que? Sou tolo por ter alguém que me ama ? Eu te digo, Jungkook, não sou tolo. És tu quem é. Não sou um completo covarde como você, que foge na primeira oportunidade.

- Ele não te ama tanto quanto eu. - Rebato sem perceber, sou movido pela mágoa e outras emoções acumuladas a meses dentro do meu ser.

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