Caminhos Cruzados

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Organizo todas as minhas ideias e pensamentos para encontrar uma resposta que não o magoe e que não menospreze meus próprios sentimentos, evitando nos machucar ainda mais.

- Jimin... - As palavras custavam a sair da minha boca. - Vamos conversar em outro momento, você está sob o efeito do álcool.

Ele não voltou a falar, apenas tomou o café conforme pedi, ignorando completamente o bolo. Deitou-se e não demorou muito para adormecer. Observo-o dormir por alguns instantes, ajusto o cobertor em seu corpo e percebo que está dormindo tranquilamente. Quando tenho certeza de que ele ficará bem, me apresso para comer e fazer minhas higienes matinais.

Percorro o caminho até chegar à faculdade, percebo que hoje não iniciaríamos as atividades de ensino, mas apenas teríamos a oportunidade de conhecer o local e participar de uma pequena palestra de boas-vindas. O ambiente está lotado, e me sinto como um peixe fora d'água entre tantos rostos desconhecidos e conversas animadas. Enquanto procuro um lugar para me acomodar, ouço a voz do supervisor soar em um tom animado, fazendo um belo discurso de boas-vindas e apresentando as regras a cumprir. Após isso, partimos para conhecer a localidade, explorando salas e corredores amplos que incluíam até mesmo um laboratório e uma extensa biblioteca. Além disso, descobrimos um belo campo que poderíamos usar nos fins de semana para nos exercitarmos. Tudo diante dos meus olhos parecia um vasto paraíso acadêmico, cheio de oportunidades e conhecimento a ser explorado.

Quando não havia mais nada a fazer na faculdade, decidi dar uma volta sozinho pela cidade para conhecer um pouco mais do ambiente onde iria viver por um certo período. As ruas estavam sempre agitadas, não importava que horas fossem. Aqui, havia várias vendas, além de um parque onde os casais iam para namorar. O ar não era tão puro quanto o de Busan, mas o céu continuava o mesmo, independente do local. Gosto de gastar meu tempo admirando, de alguma forma isso me faz bem. Fiquei perambulando pela cidade sem sequer notar que horas eram, até que meu estômago começou a delatar a fome que sentia.

Começo a me perguntar se ainda haveria comida na república. Cheguei tão cedo que não tinha simplesmente nada pronto, mas não posso reclamar, afinal, não deve ser fácil administrar uma república repleta de jovens. Olho para meu relógio de bolso e me apresso para chegar o quanto antes. O pequeno refeitório ou cozinha estava vazio, exceto pela senhora que muito provavelmente preparava as refeições. Coço a garganta para chamar sua atenção.

- Desculpe o atraso, mas o almoço ainda está disponível?

- É o seu dia de sorte, sobrou uma porção, mas não se atrase, as pessoas neste lugar são esfomeadas. - A senhora me dizia com um sorriso no rosto.

Como saciando minha fome, degustando o bibimbap, que me fazia esquecer qualquer coisa neste momento, apenas me alimento como se não existissem problemas em minha vida. Ao acabar, agradeço pela refeição e ajudo a colocar a cozinha em ordem. Para qualquer pessoa, eu apenas estava sendo gentil, mas no fundo, só estava tentando ganhar tempo antes de voltar para o quarto. Por mais que esteja preocupado, tenho medo de encará-lo de frente, mas sei que não posso fugir para sempre.

Movo meus pés lentamente pelo corredor até me deparar com a porta. Puxo o ar para dentro dos meus pulmões e o solto. Finalmente, abro a porta e não vejo Jimin na cama, mas ouço barulhos vindos do banheiro. Me aproximo o suficiente para ver que ele estava vomitando.

Impulsivamente, me aproximo até permitir que minha mão toque em seu ombro. Percebo que não foi uma boa ideia deixá-lo aqui sozinho. Sei que é por conta da bebedeira da noite anterior, mas acredito que é bom ter alguém por perto para ajudar caso precise. Nunca bebi, mas ao vê-lo neste estado, não seria capaz de me submeter a isso.

- Estás bem, Jimin?

Ele faz um sinal positivo, enquanto ainda está de joelhos diante da privada, esperando se recompor. Por outro lado, apresso-me para pegar-lhe um copo de água, o qual o faço beber.

- Não se exceda no álcool, não vês como fica? Isso é humilhante, Park.

- Não irei beber tanto, foi a minha primeira bebedeira. - Me desculpa... Por estar te fazendo de babá e pelo que eu disse mais cedo, foi um erro da minha parte que não vai se repetir.

- Não há necessidade de se desculpar, Jimin. Só não se afunde por mim, eu não mereço o seu sofrimento.

- Obrigado por, pelo menos, ter se importado comigo, um completo bêbado.

Um sorriso genuíno brotava em nossos rostos, como uma trégua declarada entre nós. Passei o resto do dia no quarto com Jimin, que aos poucos voltava à sua normalidade; o vômito havia cessado.

Conversamos sobre como Seul é estupidamente agitada e como Busan faz falta, mas não é de todo mal, pois também é um lugar muito bonito e um pouco mais avançado, o que nos traz várias oportunidades.

- Jimin, eu... - Reflito em perguntar um pouco mais sobre ti, pois não possuía completa noção de tua vida. - Como foi para ti em nosso colégio? E como é tua família? Sempre desejei saber, mas nunca me senti seguro para perguntar por conta dos boatos.

- Hum... - Jimin faz uma pequena pausa antes de começar a falar. - Inicialmente, nasci em Busan, mas passei minha infância em Jeju com minha avó e minha mãe. Meu avô faleceu quando minha mãe ainda era apenas uma criança, e minha avó cuidou dela sozinha, assim como minha mãe cuidou de mim. Quanto a meu pai, não o conheço. Foi apenas um caso de minha mãe durante a juventude.

- Mas nunca quis conhecê-lo? Não sente raiva de tua mãe?

- Por que sentiria? Ela se esforçou muito para que não me faltasse nada. E quando minha avó faleceu, por conta de sua saúde que já não estava em suas melhores condições, se o homem que se diz ser meu pai não a quis com uma criança, por que eu iria querer conhecê-lo? Para mim, ele é apenas uma pessoa qualquer. Voltamos para Busan após o falecimento de minha avó. É doloroso permanecer em um lugar repleto de lembranças. Fui estudar no colégio onde nos conhecemos e, quanto aos boatos, só surgiram pelo fato de minha mãe ser uma mulher independente e solteira. Eu a admiro muito.

- Mas tua tia ou tio, não vivia contigo e tua mãe? Disseste que tinhas um primeiro.

- O Taehyung não é meu primo verdadeiramente, é filho de uma amiga próxima de minha mãe. Nos conhecemos há bastante tempo.

- Entendo, tua família realmente é especial, Ji.

A família de Jimin era completamente oposta à minha, o que me intrigava. Mesmo sendo diferente diante da sociedade, era uma relação cheia de amor e confiança. Eu podia ver claramente nos olhos de Jimin enquanto o ouvia falar sem parar de suas aventuras de quando era criança. Sua cara de anjo não combinava com o pestinha que ele era. Contou-me como colocou areia nos calções de um colega de classe que recusou deixá-lo brincar com o grupo e como foi repreendido por sua superior. Essas histórias me fizeram bem apenas de ouvi-las; parecíamos dois desajeitados rindo juntos.

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