Café Amargo

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Ando de um lado para o outro, perambulando naquele pequeno cômodo enquanto a ansiedade me corroía internamente. Paro em frente à pequena janela para sentir o ar fresco que vinha de fora, soprando meus cabelos. Ainda com os nervos à flor da pele, me afasto da janela e volto a terminar de guardar meus pertences na cômoda, na tentativa de limpar a minha mente.

Jimin entrou novamente no cômodo, desta vez carregando travesseiros e lençóis.

- Eu falei na recepção, o quarto está correto, mas eles não tiveram tempo suficiente para colocar uma nova cama. Mas já estão providenciando. - Seu tom de voz transmitindo tranquilidade, enquanto explicava a situação.

- Hum. - Respondi, ainda um pouco tenso.

- Me desculpa invadir o seu espaço, mas se for muito incômodo, posso ver se consigo trocar com alguém.

- Não é necessário...Você pode ficar, Jimin.

Ele arrumou uma cama improvisada no chão, que parecia desconfortável. Pego os cobertores que restavam em sua mão.

- Eu durmo na cama improvisada. - Ofereço-me, pois não me sentiria bem em vê-lo dormir assim.

- Não precisa, Jungkook. Afinal, foi você quem estava aqui primeiro, também irei precisar sair, marquei com alguns amigos.

- Mas acabou de chegar e já está escurecendo.

- Eles querem me encontrar justamente porque é meu primeiro dia aqui. Para ser honesto, são amigos de um primo meu.

Senti um misto de alívio e desconforto com sua resposta. Talvez fosse melhor não insistir. Sento-me na cama enquanto pego um livro para ler, buscando uma distração até o sono vir. Observo Jimin se arrumar para sair, ele perambula pelo quarto, vestindo roupas sociais, um terno bege que se ajusta perfeitamente ao seu corpo. Seu perfume enche o ambiente, deixando-me em completo êxtase.

Jimin atravessa a porta, consultando seu relógio como se estivesse atrasado. Não questiono ou faço algo para impedi-lo de partir, mas algo dentro de mim não está contente. Queria que ele pudesse ficar pelo menos um pouco mais. Passei meses tentando me distanciar, mas não importa para onde eu vá, o destino trata de nos juntar, como naquela teoria ou lenda do fio vermelho que interliga as almas gêmeas.

Shakespeare já não me distraí, então encaro a janela por um bom tempo, na esperança de vê-lo voltar e imaginar que correria até mim. Mas isso não pode acontecer, nem mesmo em meus pensamentos. Não é correto. Volto para a cama e tento adormecer, só assim não iria me perder em devaneios mais uma vez.

Na manhã fria de Seul, o sol surgia tímido entre as nuvens, espalhando sua luz pelo quarto e me despertando. Olho para a cama improvisada, vazia. Eram 5:00 horas e Jimin ainda não havia retornado. Preocupo-me com seu paradeiro desconhecido.

Então, escuto a porta ranger. Salto da cama, mas meus pés parecem não se mover em direção a ele. Observo seu terno todo amarrotado, o cheiro de álcool permeando o ambiente. Jimin tropeça em seus próprios pés, e só então descongelo o suficiente para ajudá-lo.

O seguro guio Jimin até a cama, onde ele desaba. Tiro seus sapatos enquanto ele resmunga algo incompreensível.

- Por que bebeste tanto? Não deverias fazer isso.

Não recebo resposta, apenas o observo com uma expressão séria, mas ao olhar diretamente em seus olhos, vejo uma lágrima brotando.

- Estás bem? - Seu silêncio persiste. - Não queres falar? És infantil... Irei pegar um café para você. Se puder, tome um banho; isso ajudará a dissipar um pouco do álcool.

Pego o casaco e visto, sem mesmo ter tempo para jogar água no rosto. Na recepção, pergunto onde posso conseguir café. Por sorte, há uma espécie de quiosque que vende de tudo na esquina.

Ando pela curta distância, ignorando os olhares para mim por conta da minha vestimenta inapropriada. Normalmente, não se anda de pijama com apenas um casaco por cima.

Chego até o balcão, onde um senhor segura uma caneta e um papel para anotar os pedidos. Observo a vitrine com pães e bolos frescos, como se tivessem acabado de sair do forno.

- Um café amargo e um com adoçante, e duas fatias de bolo, por favor. Para viagem. - Falo enquanto o senhor anota o pedido.

- Em breve terás o que pediste. Apenas irei pedir meu assistente que coloque o café, e eu mesmo contarei as fatias do bolo. És novo na cidade, jovem?

- Sim, cheguei ontem. Sou de Busan.

- Entendo. Espero que gostes da cidade, apesar da agitação.

A nova breve conversa foi interrompida pela chagada do café, meu pedido agora chega em minhas mãos, efetuo o pagamento e ouço um educado "Volte sempre", vindo do senhor com um sorriso simpático.

Quando volto, ouço o barulho do chuveiro ser desligado. Com roupas mais confortáveis e o cabelo molhado e bagunçado, ele sai do banheiro ainda meio zonzo. Coloco as sacolas em cima da cômoda, retirando o copo de café que coloco em sua mão ao sentar-se na cama.

- Bebe, tem bolo também. - Aponto para a cômoda.

Seus olhos estavam vermelhos, denunciando seu choro. Eu me esforço para não perguntar, mas minha preocupação não me deixa em paz.

- Não vais falar nada? Por que se embriagou dessa forma? Aconteceu alguma coisa? Sei que choraste. Confesso que estou preocupado.

- Não há necessidade. Estou bem.

Respiro fundo para me recompor. Pela primeira vez, estou tentando me aproximar, mas Jimin está arredio.

- Park, vamos esquecer nossas diferenças, apenas por hoje. Eu lhe peço.

- Por que queres tanto saber? Não estás feliz com tua noiva? Eu não vou mais te esperar, Jungkook. Depois de ver com ela, eu não consigo estar bem. Eu não posso odiar aquela garota por te amar, eu vi o jeito que ela te olhava. Ontem te encontrar aqui foi uma brecha para voltar à única lembrança que temos juntos. Saí com uns amigos como disse, bebi, perdi o controle, beijei um completo estranho, mas eu só conseguia pensar em ti. Estou a enlouquecer.

Permaneço em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Jimin. Seus olhos refletem uma mistura de angústia e desespero, e é difícil não ser afetado por sua sinceridade e vulnerabilidade. Naquele momento, nunca pensei que vê-lo tão vulnerável. Para mim, sempre tive a ideia de que Jimin era forte e indestrutível, e nada o abalaria facilmente, estava errado, jimin era tão vulnerável a mim quando eu era a ele.

- Jimin, eu... - Começo a dizer, mas as palavras ficam entaladas na minha garganta. Como posso responder a isso? Como posso lidar com a intensidade dos seus sentimentos, quando mal consigo compreender os meus próprios?

Sinto-me dividido entre a culpa por tê-lo afetado tanto e a confusão sobre o que isso significa para nós. Enquanto tento juntar meus pensamentos, Jimin desvia o olhar, parecendo desolado.

- Desculpe, Jungkook. Eu não queria despejar tudo isso sobre você. Eu sei que você tem sua própria vida agora, e eu... Eu só preciso lidar com isso sozinho, eu não vou conseguir lidar com isto.

Seu tom é resignado, e isso corta fundo. Eu não posso simplesmente deixá-lo assim, mas também não sei como ajudá-lo.

- Jimin, eu... Eu me importo com você. Sempre me importei. - As palavras saem num sussurro, mas são carregadas de verdade.

- Jungkook, o que sentes por mim? Eu só preciso saber, por favor.

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