Desejos Obscuros

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Acordei-me indisposto, as imagens dos meus devaneios ainda frescas em minha mente. Dirijo-me à sala de jantar já posta, esperando apenas por mim. Tento tomar o meu café o mais rapidamente possível, incapaz de manter meu olhar em meus progenitores. Sinto-me um traidor, impuro, como se estivesse quebrando a tranquilidade do lar. O peso da culpa e da vergonha paira sobre mim enquanto tento disfarçar minha angústia diante da mesa familiar. Sinto-me culpado por ter gostado, por ter sucumbido aos desejos mais obscuros que tanto condenam, isto me tornava uma pessoa perversa.

Fugindo do lar que outrora me trazia paz, caminho pela estrada em direção ao colégio, observando as pessoas na rua seguindo suas vidas normalmente, como se fossem inabaláveis, enquanto me sinto preso dentro de mim mesmo. Almejo ser qualquer um deles neste momento, fugir do abismo de pecados que me consome.

Sem aviso prévio, adentro a sala ao som do sinal, todos os alunos dirigem-se aos seus lugares, mas aquela cadeira permanece vazia, perturbando meu ser e, ao mesmo tempo, aliviando-o, numa mistura de sensações confusas. Minha mente martela pela ausência. Durante os dois primeiros horários, que parecem uma eternidade, dirigimo-nos à área de jogos, onde o vejo. A pulsação do meu coração se encontra descontrolada ao observá-lo conversando com o professor, seu sorriso tímido transparecendo, o que me faz observá-lo de longe. Jimin, sorrateiramente, causa em mim sensações estranhas, jamais experimentadas antes. Que tipo de feitiço ele lança sobre mim? Que diabos está acontecendo? São perguntas que ecoam em minha mente enquanto tento compreender a influência inexplicável que ele exerce sobre mim.

Nos alongamos antes de começar a partida de futebol, ficando em times diferentes. No entanto, não importava para onde eu corria, seus olhos me acompanhavam, atentos e persistentes, onde quer que eu fosse, como se estivessem ligados a mim que foi desta maneira até o fim do jogo.

Suados e sem fôlego, sento-me no chão da área de esportes para descansar, enquanto os outros se dirigem para o vestiário. Seu sorriso meigo é dirigido a mim.

- Não vais lavar-te? - Sua voz é como música, envolta em um manto de tormento.

- Sim. - Respondo, reprimindo-me ao lembrar-me.

- Acho que entendo. É desconfortável tomar banho com várias pessoas, mesmo que sejamos todos homens. Te espero na aula.

Jimin se dirige para o banho, deixando-me febril com suas palavras e gestos delicados.

Vejo os garotos saindo gradativamente, enquanto preparo minha mente para seguir um caminho límpido. No entanto, o encontro novamente, obrigando-me a olhá-lo daquela forma, seu corpo correspondendo às minhas expectativas como em um dilúvio avassalador. Sinto o suor escorrer pelo meu rosto enquanto Jimin se veste.

- Já estou quase saindo, assim poderás tomar banho sozinho. Jungkook?

- Sim.

- Você está bem? Está vermelho como tomates. - Ele se aproxima rapidamente e toca em meu rosto. - Não está quente, que estranho. Já foi a um médico?

- Não se preocupe, estou bem. Só preciso de um banho frio. - Tento disfarçar o nervosismo.

- Tudo bem, mas vou te esperar do lado de fora, temo que passe mal. Estarei por perto se precisar.

- Não precisa se incomodar, estou no meu mais perfeito estado.

Minhas desculpas não foram suficientemente convincentes para despistá-lo, e sinto seu olhar penetrante enquanto ele se afasta.

Debaixo do chuveiro, as gotículas de água caem sobre minha pele, aliviando-me. Pela primeira vez, toco e descubro as sensações prazerosas daquele ato. Nunca me senti daquela forma antes. Quando finalmente chego ao meu ápice, sinto-me nas nuvens, apesar do quão sujo possa ser. É bom, descubro meu próprio prazer a cada suspiro e gemido abafado.

Com o corpo limpo e sem vestígios do meu prazer, visto-me adequadamente para retornar aos estudos. Avisto Jimin sentado na arquibancada, esperando por mim, como havia prometido. Sinto-me envergonhado, pois minutos antes havia pensado coisas inapropriadas com ele, e agora estava ali, ao seu lado, como se nada tivesse acontecido.

- Vamos? - Pergunto, indicando a entrada que dava acesso às salas de aula. Sua mão segura firmemente meu pulso, fazendo-me paralisar.

- Podemos ficar mais um pouco aqui? - Seus olhos transmitem uma certa doçura que simplesmente não consigo negar.

Meio inquieto, sento ao seu lado, mesmo que nenhum de nós solte uma palavra. Seu braço envolve meus ombros, fazendo meu estômago revirar do avesso, como se dentro de mim habitassem diversas borboletas.

- Parabéns.

Minha mente dá um nó, franzo a testa com tamanha dúvida.

- Pelo que estás me parabenizando?

- Seu noivado. Quase toda a cidade está ciente, a família dela é da alta elite.

- Não sabia que os boatos já haviam chegado aos ouvidos da cidade. Só tomei conhecimento disso ontem.

- Não estás feliz?

- Por que eu deveria? Não faço por minha felicidade, mas irei fazer como meus pais desejam. Não devo ir contra a vontade deles.

- Estás sendo o maior dos tolos, Jeon.

- Não sou tolo, apenas um bom filho.

- E a sua noiva, não pensas nela?

- Ji Eun, eu mal a conheço, mas não é difícil de lidar, apesar de não me fazer vibrar com sua presença ou com seu beijo. - Admito.

- A beijou? - Jimin pergunta, agora sem a essência calorosa de antes, seu braço se desprendia de mim aos poucos, parecendo mais frio ao meu lado.

Assinto, mas o longo silêncio que se segue me deixa desconfortável, e me vejo obrigado a quebrá-lo de alguma forma.

- Hyung... Já se apaixonou alguma vez? Como é?

- Apenas duas vezes. Não sei como lidar com um sentimento tão instigante, mesmo tendo tido um relacionamento anterior. Sempre que podia, tentava ficar perto da minha pessoa amada. No início, parecia que estava passando por momentos difíceis: meu coração batia rapidamente, minhas mãos suavam, e eu agia como um completo bobo. Isso foi normalizando com o passar do tempo, até que chegou um dia em que meu coração não batia mais pelo meu primeiro amor, e acabamos seguindo para lados opostos. Já a segunda vez é mais complexa, pois a pessoa não sabe dos meus sentimentos, então eu a amo em silêncio.

- Por que não confessou seus sentimentos?

- Não é fácil. Não sei como seria a sua reação. - Jimin foca seu olhar penetrante em meus olhos, como se buscasse algo perdido, algo escondido nas profundezas da minha alma. - Achas que devo confessar?

- Se a amas verdadeiramente, deverias tentar conquistá-la. - O respondo com sinceridade, mesmo que me causasse uma sensação ruim.

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