Nunca tive um amigo; pensava que havia me acostumado à solidão, mas na presença de Jimin, eu sentia uma irresistível vontade de estar junto a ele. Mesmo após covardemente ter fugido outro dia e com o medo ainda presente, tentei me aproximar de Jimin perto do grande pátio. Como de costume, estávamos sós, apesar de estarmos rodeados por pessoas absortas em seus próprios afazeres, mas ao sentir seu olhar pesar sobre mim, fugi mais uma vez, recolhendo-me no banheiro frequentado pelos alunos.Minhas mãos transpiravam e meus batimentos estavam rápidos demais, nunca me sentira desta forma, porém um grande receio ainda estava preso em meu ser. Lavei meu rosto com a água fria que corria da torneira da pia, isso ajudou-me a recuperar o fôlego perdido.
O sinal soava para que nos dirigíssemos à sala para mais uma aula, desta vez de religião, mas não estava tão interessado. Tudo o que mais ansiava era voltar para o conforto de minha casa, longe de Jimin, longe de seu olhar, longe da vontade de me aproximar e tornar-me seu mais fiel amigo.
Caminhei em passos lentos até chegar em meu assento, sentindo uma quentura como se estivesse sendo observado. Não me atrevo a olhar para o lado, pois sabia que aqueles olhos estavam a me perseguir. Questiono-me o porquê de terem tanto poder para me manipular. Sinto-me miseravelmente vulnerável.
Apenas ouço a voz do professor ressoar, fazendo um eco, mas nada do que havia dito chamou minha atenção. Tanto que fiquei como um bobo quando me fez uma pergunta sobre sua aula; não disse uma palavra sequer. Fiquei de pé perante toda a turma, sem saber como agir naquele breve momento de constrangimento.
Até que Jimin respondeu e o questionou, chamando a atenção de todos, era corajoso da sua parte.
- Por que achas que Caim é abominável? Na minha concepção, acho que a sociedade nos educou para pensar desta forma. Apenas ouvimos uma versão da história contada. Se julgamos sem ter conhecimento de todos os fatos, não estaríamos pecando igualmente?
Todos aqueles olhares voltaram-se para Jimin, que parecia superior a todos, como se não se importasse com os julgamentos. O professor buscava explicações, mas nada disse.
- Sei que não estão habituados com esse tipo de pensamento, então não espero uma resposta imediata.
O professor prosseguiu sua aula, apesar de aparentar constrangido por não saber lidar com a pergunta de um mero aluno.
Ajeito-me no assento e involuntariamente o vejo, que logo sibilou um "não há que me agradecer". Não o respondo e viro-me bruscamente, fingindo que não o vi.
Desde o dia em que fui apresentado a Park Jimin, meus dias se tornaram uma tormenta sem fim. Já se passaram dois meses desde sua chegada, mas quando estou diante dele, ainda me sinto um completo tolo. Tolo não é a melhor definição, mas imprudente, pois a qualquer momento irei me render e me aproximar de alguém com uma linhagem familiar podre e impura.
O caminho de nossas casas seguia na mesma direção, tornando quase impossível não esbarrar com Jimin durante o percurso. Eu sempre caminhava à sua frente, mas quase nunca ao seu lado; suas tentativas de estabelecer algum vínculo comigo falhavam na maioria das vezes. Por mais que me sentisse enfeitiçado pelo seus olhos, eu resistia com uma força instigante.
Mas isso estava prestes a mudar quando Gon, um garoto problemático de nossa turma, decide confrontar Jimin. Eu estava caminhando à frente, mas era possível escutar a voz de Gon proferindo insultos para Jimin, que nada respondia. Meus passos diminuíam à medida que o tom de voz aumentava; a insistência dele não tinha fim, e a tática de ignorá-lo só conseguia deixar o garoto mais raivoso.
- É verdade que sua mãe se vende? Quanto é o preço? Se for apresentável, talvez lhe pague algo. Sua mãe deveria te apresentar alguma prostituta igual a ela, assim deixas de ser uma bichinha! Não irá me dizer nada? És um covarde mesmo, não tenho dúvida.
- Por que está me confrontando? Tens medo, essa é a verdade, medo de ser você e se sente infeliz ao me ver, correspondendo às suas expectativas falhas.
- Você não tem moral, Park! És sujo. Podre e repugnante! Devirias morrer.
Gon o empurra com certa agressividade, fazendo-o cair. Nesse momento, já tinha parado de andar e ficado a observar tudo, que parecia passar lentamente diante dos meus olhos. Fico paralisado por um instante. Gon vai embora dando passos pesados e largos, enquanto Jimin continuava no asfalto sujo, um sorriso frio e sarcástico brotando em seus lábios. Caminho até ele estendendo minha mão.
- Não precisa. - Ele me diz com seu olhar penetrante, mas insisto com apenas minha mão estendida para ele.
- Estás sendo teimoso, apenas aceite minha ajuda.
Contra gosto, Jimin segura firme minha mão, à qual aplico uma força para ajudá-lo a ficar de pé.
- Viu, não foi um sacrifício.
- Por que a ajuda? Pensei que compartilhasse do mesmo pensamento de pessoas como Gon.
- Falar isso é um pouco precipitado, caro Jimin.
- Excessos de minha parte, Jeon? Tens certeza? Peço desculpas se estou a questionar.
- Não sei responder-te, Park. Se ofereci ajuda, foi de bom grado. Não apreciei a maneira como Gon se dirigiu a ti.
- Estou sendo ingrato, peço desculpas mais uma vez e agradeço-te por tua ajuda. Parece que todos os absurdos proferidos por Gon apenas agora me atingem.
- Está tudo bem, não há o que agradecer. - Pela primeira vez, caminhamos juntos, apesar do assunto que pairava no ar. Noto leves escoriações em teu braço, pego um lenço que sempre carrego e o entrego. Sinto teu receio e teu olhar confuso diante do pano bege. - Teu braço está machucado.
- Não havia percebido. - Jimin limpa cuidadosamente o sangue de seu braço, fazendo uma leve carranca.
- Precisas de ajuda para limpar?
- Não será preciso, não é um grande ferimento, apenas arranhões.
- Mesmo assim, certifique-se de que não infeccionem. Seja mais cuidadoso, mal percebeste que estavas ferido.
- Jungkook, quantos anos tens? Sinto-me jovem recebendo um sermão.
- Tenho 16 anos, não faz muito tempo que completei.
- Eu tenho 17. Devo te dar os parabéns, mesmo que seja atrasado?
- Não há necessidade, hyung.
Avisto o grande portão de minha casa, anunciando finalmente que havia chegado ao final de meu percurso.
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AO SEU DISPOR
RomansaUma história que talvez não possa ser publicada, porém promete ser algo diferente; um mistério envolto completamente em sangue, suor e lágrimas.