Despertares

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Volto para Jimin, que parecia preocupado ou até mesmo arrependido por nos deixar sozinhos, sabendo do atrito que causaria.

- Está tudo bem? - Ele pergunta, e em meus pensamentos, agradeço por ele não ter chegado a escutar minha conversa com Min.

- Sim, não se preocupe tanto, seu amigo está inteiro. No entanto, reconheço que em parte ele tem razão.

- Jeon.

- Achas que posso te fazer feliz? - Sinto meu coração apertar enquanto espero sua resposta.

- Já estás me fazendo feliz. O Yoongi te disse algo?

- Eu que o provoquei para saber suas intenções, que são óbvias.

- Não ligue para o que ele diz, eu o conheço. És uma pessoa legal, ele só precisa deixar os sentimentos dele por mim evaporarem.

Não digo nada, lutando com o sentimento ruim que me atinge. Não vou derramar minha frustração como ontem, sabendo que não posso me sentir assim toda vez que os vejo juntos.

- Obrigado pela rosa. - Suas palavras soam doces, enquanto me dá beijinhos por todo o meu rosto, arrancando-me um sorriso. - Assim está melhor. - Referiu-se à leveza que me encontrava.

Com Jimin ao meu lado, sinto-me mais calmo e sereno, pronto para enfrentar qualquer desafio que possa surgir, sei que posso superar qualquer coisa.

- Amo-te, Park. Obrigado por me libertar.

- Está fazendo isso, o mérito é teu. Estou orgulhoso.

- Não era bem o que havia pensado. Posso estar sendo precipitado, mas... Eu quero tornar minhas palavras em realidade. Quando a senhora que me vendeu a rosa me perguntou se estava comprando para minha namorada, eu a corrigi, dizendo que era meu namorado, sem temor de ser julgado. Park, queres namorar comigo?

- Sim, tu já tinhas essa resposta há muito tempo.

- Posso exibir meu namorado para as pessoas e andar de mãos dadas no fim da tarde em um parque qualquer?

- Não só pode como deve. Estou amando ver tua evolução, estás crescendo.

- Aprendi contigo que não devemos nos limitar, certamente, todas as formas de amor são válidas.

- Creio que tenho um ótimo aluno. - Ele declarou, beijando-me como recompensa.

Passamos o restante do dia em tarefas comuns, juntos, inseparáveis, e eu apreciava cada momento. Deslocamos as camas para o chão, criando um amplo espaço. Deitamo-nos enquanto eu lia para Jimin; seus olhos brilhantes e atentos a mim enchiam-me de alegria. Ao fechar o livro, roubei-lhe um beijo.

- Por que parou de ler? - Indagou ele.

- Não consigo continuar a leitura por tanto tempo na presença do meu amado, especialmente com esses belos olhos fitando-me.

- Não achas que estás exagerando nas gentilezas? - Seu tom era de provocação.

Com um sorriso, acariciei seu rosto e respondo com firmeza.

- Não, meu amor. Apenas expresso minha admiração por ti.

Noite fria era um cenário perfeito para conversas banais e troca de carícias. Dormimos abraçados um ao outro, envoltos pelo calor mútuo que compartilhávamos.

Na penumbra da manhã, abri meus olhos acompanhados de um bocejo e abracei o corpo que estava ao meu lado, mas seu formato era irreconhecível. Soltei um grito assustado ao perceber que havia um estranho dormindo ao meu lado, mais especificamente no meio, enquanto Jimin estava do outro lado e já havia acordado comigo. O completo desconhecido estava aos roncos.

- Quem és!? C-como entraste? - Tropecei em minhas palavras.

- É apenas o Taehyung. Ele apareceu no meio da noite. Desculpe por não avisar, estava dormindo tão bem que tive pena de te acordar.

- O problema não é esse, só me assustei porque ele está no meio; o abracei pensando que eras tu.

- Não conheces o Tae, é um completo folgado. Quando abri a porta, ele simplesmente entrou e se jogou na cama. Aposto que nem o viu. Desculpa, prometo que vou conversar com ele, não vai acontecer de novo. - Sua face continha remorço; era incapaz de ficar bravo.

Levanto-me ao som do ronco, impossível de acordar o Taehyung, e estendo minha mão para Jimin antes de murmurar um "Vens", levando-o para o banheiro.

Não sei ao certo o que me levou a chamá-lo, mas vi Jimin bocejando enquanto trancava a porta atrás de nós.

Ele me abraçou e quase adormeceu em meu ombro, tão fofo que podia sentir sua bochecha esmagando meu ombro.

- Acho que estou um pouco assustado. - Confessei.

- Por que? - Sua voz sonolenta saía como um sussurro.

- Taehyung é importante para você, e temo não agradá-lo.

- Taehyung pode parecer difícil no início, mas não vai demorar muito para se tornarem amigos. Não se preocupe, está tudo bem.

Voltamos para a cama, mas agora eu estava espremido ao lado de Jimin, perdido em pensamentos sobre como minha vida mudou nessas poucas semanas. Tudo parecia um barco em alto mar, com ondas frequentes, ou até mesmo uma gangorra cheia de altos e baixos. Minhas emoções estavam mais intensas do que nunca, e minha personalidade parecia estar se moldando de maneiras que nem sempre me agradavam.

Confesso que há aspectos em mim que não me orgulho, e temo que Jimin um dia perceba apenas meus traços tóxicos, eliminando as poucas coisas boas que possam existir em mim.

Observo os dois dormindo, enquanto mergulho cada vez mais fundo em meus pensamentos. Lembro-me de como terei que enfrentar minha própria família e a família de Ji Eun, e como posso magoá-la. Ela já me escreveu três cartas, às quais não respondi por não saber o que dizer. Sinto que poderia ficar preso em minha mente confusa o dia inteiro, se não fosse pelo ronco que já não ecoava pelo cômodo. Me assusto ao perceber que estou sendo observado.

- Onde posso conseguir café da manhã? - Perguntou Taehyung, e eu não sabia ao certo se era por conta da fome que sentia ou apenas para quebrar o clima tenso que estava no ambiente. Ficamos alguns segundos nos encarando, sem trocar uma palavra.

- Normalmente servem café da manhã e todas as refeições na república para os hóspedes, mas também há um quiosque na esquina, a poucos metros daqui.

- Entendo. Estou indo ao quiosque, quer ir?

- Pretende me matar ou algo assim? - Brinquei, tentando descontrair o ambiente.

- Tenho motivos? Aprontou algo com Jimin, sei quem você é, tenho informantes. - Rebateu Taehyung, num tom sério que me fez reconsiderar a brincadeira.

Talvez Taehyung não estivesse blefando, mas aceitei o seu "convite" para ir ao quiosque da esquina. Traçamos o caminho praticamente em silêncio, envolvidos pelo desconforto que pairava entre nós.

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