Convenhamos que a ida foi marcada apenas por uma atmosfera silenciosa, mas na volta para o dormitório sinto que seu olhar está atento a mim, tento evitar por puro receio.- Jeon, não é mesmo? - Assinto, sentindo borboletas no meu estômago que se reviram freneticamente. - Quais são suas verdadeiras intenções com o Jimin? Sei que a pergunta pode parecer repentina, mas o Jimin é como um irmão e vou cuidar dele de qualquer pessoa que venha a machucá-lo.
- Compreendo, mas não se preocupe, minhas intenções são as melhores possíveis. Eu não me perdoaria se o machucasse.
Estas foram as únicas palavras trocadas até a presença de Jimin, já desperto. Improvisamos uma mesa de jantar para desfrutar nossa refeição, falando de assuntos triviais. Parecia que Taehyung conhecia-me completamente, todos os meus lados bons e ruins; de alguma forma esquisita, eu era transparente para ele.
Sirvo mais uma fatia de bolo de maneira desajeitada, e Jimin estava ciente do meu nervosismo. Seu olhar de compreensão recaía sobre mim, e o vejo sussurrar em completo silêncio um "está tudo bem".
A manhã de sábado permaneceu assim até Kim Taehyung anunciar sua partida. Sua feição havia se suavizado aos poucos, mas meu corpo e minha mente permaneceram em alerta; sentia-me engessado.
- Até mais. - Arrisco a dizer, enquanto Jimin e ele se despedem em um abraço.
- Até mais, cunhado. - É a primeira vez que o vejo sorrir, e fico completamente paralisado com sua repentina aceitação.
Começo a me perguntar o que havia acontecido, mas eu não fazia ideia. Não entendia suas atitudes; Jimin sorria para mim com aquele sorriso que fazia seus olhos desaparecerem. Não ousava perguntar o motivo, mas um vento de tranquilidade soprava sobre mim.
Ao entardecer, saímos para passear de mãos dadas no parque. Tudo parecia um sonho inabalável. Eu poderia morrer ali, a felicidade de estar ao seu lado me deixava energizado como nunca. Ignorar todos aqueles olhares preconceituosos mostrava que dei um grande passo para ser eu mesmo ao lado de alguém por quem estou perdidamente apaixonado.
Sentamo-nos debaixo de uma árvore e observamos a noite cair, vendo gradativamente as estrelas forrarem o céu com seu brilho estonteante. Era um cenário perfeito.
- És lindo.
- Realmente, o céu está divino hoje. - Respondo, olhando o céu como se estivesse hipnotizado.
- Não me referi ao céu.
Volto meu olhar para o garoto ao meu lado e sinto uma vontade incontrolável de beijá-lo. Me aproximo, mas ele recua, provavelmente minha expressão denunciando minha curiosidade.
- Melhor não nos beijarmos aqui. - Ponho minhas mãos em seu rosto com delicadeza e cuidado.
- Por que? Não queres?
- Quero muito, mas sinto-me envergonhado de beijar em público. As pessoas não levariam isso muito bem, e não que me importe com elas, mas é comum cometerem atos de violência contra homossexuais.
- Posso imaginar, mas saibas que eu sempre irei te proteger.
- E quem irás te proteger?
- Meu cunhado, tenho a impressão de que ele me adora, mas também é assustador.
- Convencido. Estavas se corroendo de medo mais cedo e agora estás a se exibir.
- Mas não te enganes, continuarei a te proteger, mesmo que sendo convencido que, na minha mais humilde opinião, apenas sou modesto.
Um sorriso astuto desliza pelo rosto de Jimin enquanto ele lança um olhar divertido. Confesso que adoro arrancar os seus sorrisos mais sinceros. A sensação de vê-lo feliz é como uma recompensa que faz todo o nervosismo e preocupação valerem a pena.
O tempo seguia seu curso, as estações do ano se sucediam, e eu definitivamente adorava o inverno, especialmente os dias chuvosos, quando podia ficar no dormitório com Jimin, tomando chocolate quente. Perdia a noção de quantas vezes preferi passar as férias em Seul em vez de voltar para Busan, que havia se tornado sombria aos meus olhos. Eu não tive coragem suficiente para contar aos meus pais e a Ji Eun, que parecia tão frágil da última vez que a vi. A pena me consumia; não podia machucá-la mesmo sabendo que era inevitável, mas ao mesmo tempo, pensava que apenas estava me escondendo em uma zona de conforto que tinha uma aura de covardia.
Encobrir-me das pessoas de Busan acarretou diversas discussões com Jimin, e constantemente me vejo a me desculpar e a rogar-lhe perdão, pois Jimin está absolutamente correto. Não passo de um hipócrita covarde, ocultando-me e ludibriando os sentimentos dele e de Ji Eun. Entretanto, embora esteja chateado comigo, Park sempre é compreensivo e concorda em respeitar meu tempo, o qual se esvai como a areia de uma ampulheta.
Minha mente fugaz me conduzia para todo tipo de infortúnios, envolvendo-me em um turbilhão de questionamentos incessantes. Por que é tão desafiador revelar minha identidade como homossexual? Por que sinto essa pressão constante de justificar quem sou perante uma sociedade que ainda não aceita plenamente a diversidade? Imagino como seria se os heterossexuais também tivessem que enfrentar esse escrutínio incessante, como se fosse uma norma a ser seguida por todos. O amor deveria ser algo simples e natural, mas por que existem tantos obstáculos e preconceitos em relação a isso?
Essas indagações ecoavam em minha mente, causando frustração. É estranhamente desanimador perceber que não há uma resposta definitiva para essas questões, apenas a incerteza e a luta contínua por uma aceitação. Se conseguirmos encontrar respostas ou se desafiarmos essas normas sociais obsoletas, talvez fosse um pouco mais fácil, me pego a imaginar uma vida pacata, onde não sou obstruído pelo peso do preconceito. Um lugar onde posso ser quem sou, sem medo de julgamentos, mas ao despertar lembro-me que não posso permanecer preso a imaginações.
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AO SEU DISPOR
RomanceUma história que talvez não possa ser publicada, porém promete ser algo diferente; um mistério envolto completamente em sangue, suor e lágrimas.