Lágrimas no Trem

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Olho pela janela do trem, minha visão embaçada devido ao profundo lacrimejar. As lágrimas caem involuntariamente, meu coração está em pedaços e isso me consome, lembrar da imagem de Jimin implorando para não deixá-lo é difícil.

Talvez devesse simplesmente desembarcar desta locomotiva como um louco e correr para seus braços, mas seria um absurdo com Ji Eun, que tanto necessita de mim.

Quando meu progenitor saiu do quarto, fiquei sem chão, toda minha arrogância havia desaparecido. Peguei uma bolsa e coloquei algumas vestes dentro enquanto Jimin estava ao meu lado com uma expressão indecifrável.

Seus olhos se encheram de lágrimas ao compreender minha decisão, minha péssima decisão, mas não posso pensar apenas na minha felicidade, seria egoísta. Sei que em breve Jimin seguirá com sua vida sem mim, mas quanto a Ji Eun, não acredito que ela seria capaz, não nesta situação.

Meus pensamentos estão a mil por hora, vejo o sol nascer enquanto ainda é madrugada, caminhando a uma curta distância em meio a neblina até meu antigo lar.

- Não diga nada sobre o que aconteceu entre você e aquele ser abominável. -Diz meu pai, suas palavras repugnantes me deixam enojado.

- Não ouse falar dessa forma sobre Jimin, ele ainda é importante para mim. - Respondo friamente, mal me reconhecendo, parecia que todo aquele sentimento de pai e filho havia evaporado.

Ao adentrar pelo portão, alcancei o quarto onde desfiz minha mochila, depositando as poucas posses que trouxera. Um profundo desconforto tomou conta de mim, pois desconhecia o destino que me aguardava: retomar os estudos na universidade ou simplesmente me resignar a um casamento sem amor.

Após um banho frio para clarear a mente e me aquecer, observei pela janela uma manhã envolta em neblina, lentamente dissipada pelos raios solares mais intensos. Recusei-me a tomar lugar na sala de jantar, pois meu estômago não suportaria.

A despeito da premência, não pude adiar mais e segui para a casa de Ji Eun, ciente de que era demasiado cedo para visitas. Ao soar a campainha da sua opulenta residência, fui recebido pela empregada e adentrei a sala de estar vazia, adornada com retratos antigos do casal. Seus pais surgiram das escadas, ainda sonolentos.

- Quero ver Ji Eun, como ela está?

- É muito cedo, ela ainda dorme. - Respondeu seu pai com neutralidade, possivelmente afetado pelo cansaço.

Ji Eun surgiu no final do corredor, mas sua aparência já não refletia o brilho de outrora, evidenciando sua fragilidade.

- Não deverias sair da cama, ainda estás fraca. Expressou sua mãe, preocupada. Todos pareciam exaustos de alguma forma.

- Jungkook... - Ji Eun se aproximou com esforço, tentando sorrir como se estivesse saudável, mas seus passos vacilavam. Corri para segurá-la, como um cavaleiro protege sua donzela, ignorando todo o protocolo.

- Sua mãe está certa, deverias descansar. Desculpe por causar tanto alvoroço. - Murmurei.

- Você está mesmo aqui? Não é um sonho? Senti sua falta. - Seus braços frágeis me envolveram.

- Também senti sua falta... - A conversa se desenrolava, mas minha mente vagueava para Jimin, um pensamento que precisava ocultar até de mim mesmo.

- Posso acompanhá-la até seus aposentos? - Perguntei aos pais dela, que hesitaram por um momento antes de concordar.

No quarto dela, nunca antes visitado por mim, vi refletida sua personalidade delicada nas paredes azuis claras e nas pelúcias na cama. Enquanto a ajudava a deitar, sentei-me ao seu lado, segurando sua mão. Embora fisicamente presente, meus pensamentos divagavam para outro lugar.

- Como se sente? O que houve? O que os médicos disseram?

- Desculpe.

- Não precisa se desculpar, Ji Eun. Isso não faz sentido.

- Estou doente, Jungkook. Serei um peso para você. Os médicos dizem que tenho uma doença terminal, um tumor na cabeça. - Seus olhos se encheram de lágrimas, e nesse momento deixei de lado todos os pensamentos intrusivos.

- Você nunca será um peso, nunca. Cuidarei de você.

- Jungkook, case-se comigo. Quero ser sua antes que meu tempo acabe. Sei que é egoísta, mas te amo. - Seu pedido tinha um tom de desespero e medo, como se estivesse a implorar.

- Está bem, podemos nos casar o quanto antes. - Concordei, decidido a fazer o possível para tornar seus últimos dias felizes.

As semanas foram levemente curtas, os preparativos estavam quase prontos apesar do pequeno período. Tenho acompanhado a minha pequena Alice até as consultas, os médicos nos deram uma única esperança, talvez um novo tratamento pudesse ajudar em uma cura, mas as chances não eram grandes. Nova York seria o lugar onde Ji Eun obteria esse tratamento, e estava disposto a ir com ela logo após o nosso casamento. Tenho treinado o meu inglês, que ainda é péssimo, mas temos uma base na qual iríamos nos apoiar. Além disso, há médicos coreanos residindo na cidade, o que me traz um pouco de alívio.

Na alfaiataria, provo as últimas medidas do traje que para mim servia perfeitamente. Em um momento de distração, olho para os outros ternos na vitrine. Meus olhos se dirigem ao terno branco, e só consigo pensar em Jimin vestido nele, imaginando como seria se não houvesse tantos problemas. Será que iríamos nos casar? Ele ficaria lindo de terno branco, carregando um buquê consigo. Meu coração sente um leve aperto ao imaginar isso e ao lembrar que não passará de uma mera fantasia da minha mente fugaz.

Inconscientemente, deixo escorrer algumas lágrimas, pois não tenho tido tempo suficiente para deixar transparecer minhas verdadeiras emoções. Simplesmente não poderia, mas agora, ao olhar para aquele maldito terno, uma sensação de desespero paira sobre mim. Todas as emoções acumuladas da semana são liberadas em um choro incessante. Não consigo ser forte o suficiente por Ji Eun nem por Jimin. Estou voluntariamente sozinho e perdido em uma vasta tempestade que está prestes a me consumir. As pessoas olham para mim sem entender minha atitude inesperada. Meu progenitor tem um olhar furioso para mim, pois não é comum um homem chorar em público dessa maneira. Ele tenta amenizar a situação dizendo: "A noiva dele está muito doente", o que causa olhares de pena ao meu redor. Estou exausto e me sinto um egocêntrico por isto.

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