Capítulo sessenta e um

56 4 17
                                    

Chiara ainda estava extremamente chateada com Lucca. Não havia falado com ele durante o dia inteiro e ele tampouco fez questão de se desculpar também. O garoto estava com uma ressaca enorme e, por mais que soubesse que tinha errado com Chiara, não achava que aquele era um bom momento. Ele a amava, porém também sentia que fazê-la se distanciar de toda a confusão de sua família era o certo a se fazer.

Apesar do climão entre o casal, naquele dia em específico os alunos estavam ansiosos. Era o último antes das férias e aquelas seriam suas últimas férias antes das provas finais e, finalmente, a formatura. O último tempo era de Ética e, claro, todos prestavam bastante atenção na aula de Dante.

— ... Os gregos mergulharam na humanidade. Em todas as suas contradições, sombras, traumas! ‒ o professor gesticulava animado.

— Por isso que as tragédias são estudadas pela psicanálise. ‒ Martina disse em voz alta.

— Sim, Martina! A tradição iniciada na tragédia grega tem influência até hoje na psicanálise, na literatura moderna e em outros grandes clássicos que a gente já estudou aqui como: Romeu e Julieta, Otelo, Hamlet, Macbeth, enfim.

— Sempre Shakespeare, né Dante? ‒ Ashley suspirou ao revirar os olhos.

— Ué. O que eu posso fazer se o cara é o cara? ‒ riu.

— E esse papo de tragédia cai no vestibular? ‒ Fiona indagou desinteressada no assunto. Não que fizesse diferença para ela se caísse ou não. Ela não faria faculdade de qualquer forma.

— E sua vida se resume em vestibular? ‒ alguns alunos riram de Fiona e outros demonstraram indignação. — Não, gente. Não, não, calma aí, eu não falei... Eu tô falando porque eu tô formando vocês pra vida.

— E o que a minha vida tem a ver com tragédia grega? ‒ Lucca cruzou os braços.

— Bom, vamos ver. ‒ Dante sorriu pensativo. — Édipo rei, por exemplo, o que acontece? O herói parte em sua jornada em busca de justiça, né? E ao invés disso, ele trilha um caminho de sangue, que o leva a própria ruína. ‒ Lucca começou a trincar a mandíbula e Chiara olhou para ele. Algo não estava certo. — E essa tragédia levou Freud a escrever sobre o Complexo de Édipo. Que consiste na relação conflituosa entre pai, mãe e filho. E essa mesma relação aparece também em outros dois grandes clássicos. Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski e Hamlet, de Shakespeare.

A cada segundo, Lucca ficava com o corpo cada vez mais enrijecido e Chiara desviava o olhar de segundo em segundo entre Lucca e Dante. Ela não sabia o que se passava em sua cabeça, mas sabia que coisa boa não era e aquilo estava começando a preocupá-la.

— Hamlet a gente já conhece, né. O que acontece?

— O Hamlet quer vingar a morte do pai. ‒ Sabrina respondeu.

— E defender a honra da mãe. ‒ Heloisa deu continuidade.

— E nessa jornada acontece o que?

— Ele mata o pai da noiva. ‒ foi a vez de Ivy responder o professor.

— Mas por engano. ‒ Jin corrigiu sua namorada.

— Pois é né. A vingança cega a gente, não é isso? ‒ Dante sentou-se em sua mesa.

— Aí a noiva fica louca e comete suicídio. ‒ Martina se lembrou.

— E o que acontece?

— Depois morre quase todo mundo. Inclusive a mãe dele e o próprio Hamlet. ‒ Mia respondeu antes de colocar a tampa de sua caneta na boca.

— Pra que tanto esforço se todo mundo morre no final? ‒ Dylan cruzou os braços ao dar de ombros.

— Gente, e o que essa história absurda tem a ver com a vida de cada um de nós? ‒ olhou para todos da sala e fixou o olhar em Lucca que estava de cabeça baixa. — Hein, Lucca? ‒ chamou sua atenção e, assim que levantou a cabeça, percebeu todos os olhares em si.

EliteOnde histórias criam vida. Descubra agora