Chiara ainda estava extremamente chateada com Lucca. Não havia falado com ele durante o dia inteiro e ele tampouco fez questão de se desculpar também. O garoto estava com uma ressaca enorme e, por mais que soubesse que tinha errado com Chiara, não achava que aquele era um bom momento. Ele a amava, porém também sentia que fazê-la se distanciar de toda a confusão de sua família era o certo a se fazer.
Apesar do climão entre o casal, naquele dia em específico os alunos estavam ansiosos. Era o último antes das férias e aquelas seriam suas últimas férias antes das provas finais e, finalmente, a formatura. O último tempo era de Ética e, claro, todos prestavam bastante atenção na aula de Dante.
— ... Os gregos mergulharam na humanidade. Em todas as suas contradições, sombras, traumas! ‒ o professor gesticulava animado.
— Por isso que as tragédias são estudadas pela psicanálise. ‒ Martina disse em voz alta.
— Sim, Martina! A tradição iniciada na tragédia grega tem influência até hoje na psicanálise, na literatura moderna e em outros grandes clássicos que a gente já estudou aqui como: Romeu e Julieta, Otelo, Hamlet, Macbeth, enfim.
— Sempre Shakespeare, né Dante? ‒ Ashley suspirou ao revirar os olhos.
— Ué. O que eu posso fazer se o cara é o cara? ‒ riu.
— E esse papo de tragédia cai no vestibular? ‒ Fiona indagou desinteressada no assunto. Não que fizesse diferença para ela se caísse ou não. Ela não faria faculdade de qualquer forma.
— E sua vida se resume em vestibular? ‒ alguns alunos riram de Fiona e outros demonstraram indignação. — Não, gente. Não, não, calma aí, eu não falei... Eu tô falando porque eu tô formando vocês pra vida.
— E o que a minha vida tem a ver com tragédia grega? ‒ Lucca cruzou os braços.
— Bom, vamos ver. ‒ Dante sorriu pensativo. — Édipo rei, por exemplo, o que acontece? O herói parte em sua jornada em busca de justiça, né? E ao invés disso, ele trilha um caminho de sangue, que o leva a própria ruína. ‒ Lucca começou a trincar a mandíbula e Chiara olhou para ele. Algo não estava certo. — E essa tragédia levou Freud a escrever sobre o Complexo de Édipo. Que consiste na relação conflituosa entre pai, mãe e filho. E essa mesma relação aparece também em outros dois grandes clássicos. Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski e Hamlet, de Shakespeare.
A cada segundo, Lucca ficava com o corpo cada vez mais enrijecido e Chiara desviava o olhar de segundo em segundo entre Lucca e Dante. Ela não sabia o que se passava em sua cabeça, mas sabia que coisa boa não era e aquilo estava começando a preocupá-la.
— Hamlet a gente já conhece, né. O que acontece?
— O Hamlet quer vingar a morte do pai. ‒ Sabrina respondeu.
— E defender a honra da mãe. ‒ Heloisa deu continuidade.
— E nessa jornada acontece o que?
— Ele mata o pai da noiva. ‒ foi a vez de Ivy responder o professor.
— Mas por engano. ‒ Jin corrigiu sua namorada.
— Pois é né. A vingança cega a gente, não é isso? ‒ Dante sentou-se em sua mesa.
— Aí a noiva fica louca e comete suicídio. ‒ Martina se lembrou.
— E o que acontece?
— Depois morre quase todo mundo. Inclusive a mãe dele e o próprio Hamlet. ‒ Mia respondeu antes de colocar a tampa de sua caneta na boca.
— Pra que tanto esforço se todo mundo morre no final? ‒ Dylan cruzou os braços ao dar de ombros.
— Gente, e o que essa história absurda tem a ver com a vida de cada um de nós? ‒ olhou para todos da sala e fixou o olhar em Lucca que estava de cabeça baixa. — Hein, Lucca? ‒ chamou sua atenção e, assim que levantou a cabeça, percebeu todos os olhares em si.
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Elite
Teen FictionElite. O internato mais requisitado na grande Verona, onde apenas os filhos de pessoas famosas ou de grande influência estudavam, além de alguns bolsistas. No ultimo ano de alguns alunos, novos entram no colégio para mudar completamente o conceito q...