No almoço do dia seguinte, eu e Dayse nos sentamos para comer em uma das mesas do refeitório.
Dificilmente eu estive ali no último mês, desde que entrei no Bright. O espaço era grande, cercado de paredes azul-claro —algumas mofadas pela temporada de chuva—, e tinha uma aura intensa demais para uma novata, uma vez que era ali que todos os grupos do colégio se reuniam.
O ambiente estava sempre cheio e barulhento, mas tinha um cheiro agradável de almôndegas à bolonhesa, mesmo que elas não estivessem no cardápio.
Estávamos em uma mesa redonda no canto esquerdo, próximo à porta. Nossas bandejas mal cabiam juntas sobre ela, mas as mesas maiores eram de uso exclusivo da área central do refeitório, onde pessoas como eu e Dayse certamente não eram bem-vindas.
Dali, pude observar Katherine Johnson e Charlotte Kim caminharem com suas bandejas até a mesa do meio, onde algumas outras pessoas se encontravam, incluindo Walker e o rapaz que o acompanhava na manhã passada, no estacionamento.
Eu descobri seu nome através de Dayse, quando foi cuidadosa em apresentá-los — de longe — um a um para mim: Richard Willians. Ele estava sentado sobre a mesa, agitado e falante, enquanto batia com uma bola de basquete no chão, incansavelmente.
O barulho ecoava forte misturado às centenas de vozes que abraçavam o refeitório, me cobrando certa irritação.
— Ele não vai parar? — reclamei, pegando uma colherada de arroz.
Dayse sorriu, ainda mastigando.
— Você pode pedir, se quiser — respondeu.
Voltei o olhar para a mesa deles outra vez.
— Prefiro a morte — constatei.
Todos os nomes da popularidade estavam lá: Richard Williams, James Walker, Jefferson Taylor, e uma porção de garotas, que eu não conhecia por completo.
Surpreendentemente, Emily também se sentava à mesa com eles.
Percebi que, mesmo sendo tão falante, ela estava quase o tempo todo em silêncio; comendo como um rato cercado de gatos. Seu estilo de roupa agora era diferente, mais vulgar e colorido, de uma forma que eu nunca a vi usar.
Mesmo que a mesa estivesse agitada, notei que Walker estava quase sempre quieto.
Vez ou outra, ele sorria sem mostrar os dentes com algum comentário ou respondia alguma garota quando insistentemente abordado. De repente, senti alívio por não ser a única a receber seu silêncio.
— O que você perdeu lá? — Dayse provocou.
Rapidamente, desviei o olhar, voltando-me para ela.
— Nada, só estava vendo. Por acaso você já conheceu Emily Johnson? — perguntei, revirando a comida na bandeja.
O almoço daquele dia era macarrão com molho branco, vegetais cozidos, bistecas e arroz nutritivo, que eu não estava interessada em comer.
— Vagamente. Eu sei quem ela é, mas nunca trocamos uma palavra. Ela agora é uma popular também, não é? — Eu acabei por rir da frase.
Achava engraçado como subir de nível social te dava não somente um título, como também uma categoria separada dentre os demais.
— É, acho que sim. Nós éramos amigas.
— Ah, sinto muito, Annie, mas acredite que entre você e Richard Williams, eu também escolheria ele — e riu, espetando o garfo na carne mal passada.
Vendo a gororoba de comida misturada em minha bandeja, eu a empurrei.
— Acho que quero ir embora — declarei, sentindo o estômago revirar.
— Eu sei que esses últimos dias estão confusos — Dayse disse com a voz abafada por ainda mastigar —, mas você precisa comer.
— Não consigo quando estou ansiosa. Enquanto não resolver essa bagunça, não vou sossegar — respondi, por fim suspirando.
— Apenas curte o momento, Annie. As coisas estão no início, por isso aconteceu do jeito que aconteceu — Eu sabia que ela se referia ao meu primeiro contato com Walker.
Eu havia lhe contado tudo do dia anterior, desde o momento em que fui ignorada por ele até as suas falas desafiantes. Ela havia reagido com tanto otimismo quanto tia Margot agia, e aquilo me trouxe irritação.
Eu gostaria que, pelo menos uma vez, alguém fosse realista comigo.
Nem tão negativo quanto Dake Albert, mas nem tão utópico como elas faziam parecer. Eu desejava uma direção, um ponto de partida.
— Você vai no jogo de basquete deles? — ela perguntou, olhando para a mesa há metros de nós.
— Jogo? — questionei, cruzando os braços em cima da mesa.
— Sim, neste sábado. Vai ser no ginásio, às sete da noite — Dayse juntou os talheres sobre sua bandeja, agora vazia.
— Você vai?
— Se Lohan for, eu irei com ela — respondeu.
Franzi as sobrancelhas e diante da minha expressão confusa, ela explicou:
— Lohan é minha carona fixa, ela é uma repetente bem durona. Eu a conheço desde o ensino secundário — Dayse pegou um guardanapo e o deslizou pelos cantos da boca. — Estudamos na mesma escola desde então, os pais dela se divorciaram e deram um carro para ela como agrado.
— Acho que eu gostaria de uma separação assim — brinquei.
— Vamos indo então, não quero mais te ver angustiada — disse ela, levantando-se.
Passei a alça da bolsa em um dos ombros e me levantei, seguindo-a com minha bandeja quase inteira.
Cruzamos as mesas em labirinto, cuidando dos passos para não esbarrar em ninguém da grande nuvem de estudantes, que se dirigiam para depositar suas bandejas no balcão da cantina.
Conferindo o relógio no topo da parede central do refeitório, notei que faltavam cinco minutos para o término do intervalo de almoço, o que explicava aquela grande movimentação.
Naquele meio tempo, tropecei sobre uma bolsa jogada aos pés de uma das mesas, desequilibrando a bandeja em minhas mãos.
Pude observar em câmera lenta o macarrão fazendo seu caminho para o chão, juntamente com o brócolis e as cenouras, mas aquela não era a pior parte: ao meu lado, um tecido de cor rosa bebê estava inteiramente manchado por molho branco e restos de arroz.
Era um vestido de seda cara, adornado pelo corpo de Lucy Damons, o que me delatou que eu havia me metido em problemas.
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Walker
Romance"Naquele instante, memorizei cada traço dele... a curva da boca, os olhos castanho-escuro, os cílios tocando a maçã do rosto e até a rebeldia atraente dos fios platinados. Seu calor invadia meu corpo, alastrando-se e dançando com meu âmago, e ainda...