Capítulo XVI

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De volta para casa, a tensão pairava no carro em movimento. 

Eu estava inclinada para observar Albert ajudando Dayse a vomitar pela janela, no banco de trás. Ninguém havia dito nada desde o incidente na rampa, além dela, que balbuciava frases desconexas sobre querer ser levantada por Richard Williams novamente. 

Em uma situação comum, aquilo teria me feito rir, mas era impossível relaxar quando Albert não estava mais me dirigindo nenhum olhar. 

Nossa saída após o jogo também havia sido completamente frustrada. 

— Vai, coloque a cabeça para fora! — ele falava para a garota ao seu lado, empurrando-a contra a janela aberta para que o vômito não escorresse para dentro do carro. 

Sua feição era irritada e sua voz traduzia isso.

— Pare... — ela balbuciou, interrompida por mais uma onda de álcool sendo colocado para fora de sua boca — de me empurrar — completou, por fim, limpando o rosto com as costas da mão.

A cena me cobrou uma careta.

— Santo deus, que nojo — Smith falou, observando-a pelo retrovisor.

— Isso é culpa sua! — Albert acusou.

— Tenho que concordar com ele — respondi, arrancando dela um sorriso.

— Achei que você fosse fraca para bebidas, Annie, mas está muito bem — ela disse. — E ainda se safou de um tombo — pigarreei, temendo que o nome de Walker viesse à tona.

— Eu bebi uma lata e meia — retruquei, rapidamente desviando o assunto: — Mas Dayse bebeu o que? Umas quatro?

— Seis, no total — Albert respondeu, finalmente me direcionando alguma palavra. 

Antes que eu pudesse dizer algo, a garota novamente expeliu mais das suas cervejas, calando-me.

Na porta de casa, agradeci à Lohan Smith pela gentileza da carona e me despedi de Albert, que retribuiu friamente. Dayse estava adormecida em seu ombro, confortavelmente enlaçada pelos braços dele, que a mantinham com proteção. 

Afastando-me do carro, percebi o rastro de vômito amarelo de fora a fora na lataria cinza, desde a janela até o para-choque, mas apenas abafei uma risada com a mão deixando para que eles descobrissem esta notícia depois.

Ao dar as costas para caminhar até a varanda, escutei o Zafira dar partida. 

Antes de entrar, retirei os sapatos e novamente senti o peso da casa apagada e silenciosa. Apenas longe da agitação e da adrenalina daquela noite é que pude sentir os efeitos da cerveja fazendo-me desligar dos meus sentidos. Estando sonolenta e sentindo a cabeça girar, me joguei no sofá da sala, adormecendo ali mesmo.

No sábado pela manhã, Margot retornou de sua viagem.

Apesar de um semblante contente, um resquício de melancolia transpassava seu rosto. Me perguntei se sua estadia no Queens realmente havia sido positiva, no entanto, ela não deu espaço para qualquer comentário além de sua nova cafeteria. 

Margot ainda teria de continuar viajando até a conclusão da reforma, o que indicava que minha solidão iria se estender por mais algumas semanas. Tendo isso em mente, aproveitei o máximo de sua companhia no fim de semana, retomando nossos seriados e a pipoca granulada de sempre até que a segunda-feira chegasse.

No segundo encontro de monitoria, esperei que Walker não aparecesse. 

Estava certa de que dada a experiência da semana passada, ele não voltaria. Ainda assim, eu cumpria pacientemente o horário na biblioteca, brincando com os livros das estantes. 

WalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora