Capítulo XVII

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Desde a última sexta, Albert e eu não trocamos sequer uma única palavra, uma vez que ele se mantinha a me evitar pelos corredores e nas aulas de Cálculo e Francês.

Não conseguia compreender o porquê suas questões mal resolvidas com James Walker estavam recaindo sobre mim, afinal eu não tinha culpa.

Com duas batidas tímidas na porta de madeira do grêmio, anunciei minha chegada.

Ele retirava algumas folhas do quadro de avisos interno e, ao se virar para ver quem entrava na sala, não demonstrou nenhuma reação diante da minha imagem.

Rapidamente, voltou a me dar as costas, murmurando um "olá, Annie" quase inaudível.

— Oi — respondi —, vim falar com você.

— Claro, o que precisa? — ele perguntou, sua voz estritamente diplomática e formal.

— Ah, por favor... — Puxei uma cadeira da grande mesa central, deixando a bolsa sobre meus pés. — Por que está agindo tão estranho?

Ele se virou tendo as folhas em mãos e o quadro atrás de si vazio, seu olhar ainda não havia parado em meu rosto até então.

Deixando as folhas sobre a mesa, ele arregaçou as mangas de seu suéter de tricot azul-royal.

— Não é nada demais, Annie — disse.

— Eu sei que você não gosta dele, mas não entendi o que me incluiu nisso — retruquei, vendo-o levar as mãos aos quadris e suspirar.

— Só estou preocupado com você — ele respondeu, finalmente olhando para meu rosto. — Tenho medo que Walker entre na sua cabeça.

Soltei uma risada, cruzando os braços em cima da mesa.

— Entrar na minha cabeça? Ele nem fala comigo — pontuei.

À medida que ouvi minhas próprias palavras, percebi ter soado como um lamento.

— Não é necessário — falou —, é só ver que você nem se afastou quando ele te segurava na rampa.

— É com isso que está incomodado? — perguntei, arqueando as sobrancelhas.

O semblante de Albert se tornou tão sério quanto o momento em que entrei na sala.

— Não estou incomodado — ele respondeu quase em um grunhido, desviando o olhar —, apenas preocupado, como eu disse.

— Mas eu não preciso desse tipo de preocupação — declarei, firmemente.

Albert voltou seu rosto em minha direção novamente, parecendo desconsertado pelas minhas palavras.

— Eu sei, Annie, me desculpe — disse, em tom baixo.

Pegando a bolsa aos meus pés, me ergui da cadeira para sair.

— Por favor, pare de me dar as costas por isso, tudo bem? — pedi.

No entanto, ele não respondeu.

Passando pelo corredor da sala do Sr. Finscher, minha próxima aula do dia, avistei Walker e seu grupo de amigos mais uma vez encostados na fileira de escaninhos.

Ele estava entre Richard Willians e Jefferson Taylor que, entre risos, conversavam com Katherine Johnson e Lucy Damons, logo à frente.

Me vi pensando em como a vida acadêmica não significava nada para pessoas como eles, o colégio era apenas um vínculo com suas vidas sociais. Nada era sobre crescer ou aprender, mas sobre estar no topo de uma hierarquia.

Ajeitei a bolsa nos ombros, segurando-a firmemente e esperando não ser notada ao passar. Entretanto, tendo apenas nossa presença no corredor, eu sabia que aquilo seria improvável.

WalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora