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Billie

-- Ai eu fui lá no quarto e tinha uma ala... A-ra-nha...-- A pequena fala pausadamente ao perceber o erro na pronúncia na palavra 'aranha'

-- E o que fez com a aranha?-- Pergunto prendendo seus cabelos

-- Coloquei ela num potinho e levei ela la pra janela, ai ela foi embora

-- Isso foi muito gentil da sua parte, Lea -- digo, terminando de prender seus cabelos em um rabo de cavalo alto. -- Você ajudou a aranha a voltar para casa, sem machucá-la. Isso mostra o quanto você é carinhosa e respeitosa com os animais.-- Lea sorri, claramente orgulhosa de si mesma.

-- Eu não queria que ela ficasse assustada -- ela explica. -- E se ela tivesse uma família? Ela precisava voltar pra eles.

-- Exatamente -- concordo, sorrindo para ela no espelho. -- Todos merecem estar seguros e com suas famílias, não é? E fazendo isso, você também cuidou da nossa casa, mantendo-a segura e confortável para nós.-- Ela assente, feliz, e pula do banquinho.

-- Agora, podemos fazer um desenho da aranha e da sua aventura de volta pra casa?-- ela sugere, já pegando seus lápis de cor.

-- Claro, vamos fazer isso -- respondo, já imaginando como será esse desenho. Esses momentos simples, mas profundamente significativos, me lembram do impacto que pequenas ações podem ter. E ver Lea crescer com essa consciência só me faz ter certeza de que estamos no caminho certo.

A campainha soa alto, e eu não hesito em ir até a porta. Eram os pais de S/n, Youssef e Layla.

-- Posso... Posso ajudar?-- Pergunto um pouco confusa e supresa

-- Salam, desculpe o incomodo... Não sabiamos um meio de contato com você. Você não ligou para S/n... Ela nos contou sobre... Sobre o erro brutal dela -- Youssef começa a falar, o árabe estava claramente desapontado.

-- E o que exatamente vieram fazer?-- Pergunto ja sabendo de como os dois são. Eles foram o motivo para que S/n e eu terminassemos nosso relacionamento no passado

-- Quanto quer para que você e essa criança sumirem da vida de S/n?-- Layla vai diretamente ao ponto

A pergunta de Layla me atinge como um soco no estômago, deixando-me momentaneamente sem fôlego. A frieza e a direta hostilidade em sua voz me fazem lembrar dolorosamente de todas as razões que nos levaram a nos afastar anos atrás.

-- Você realmente acha que isso é uma questão de dinheiro?-- Respondo, tentando manter minha voz firme apesar da raiva e da surpresa que lutam por dominância em meu peito. -- Lea não é uma transação. Ela é uma criança, uma vida que não pediu por nenhum desses problemas. E eu... eu não estou à venda, muito menos para desaparecer.

Observo Youssef, esperando alguma reação, alguma demonstração de que nem todos compartilham da mesma visão fria e calculista de Layla.

-- Não queremos você perto de S/n. Uma garota como você esta sempre em busca de uma única coisa: status -- Youssef fala e eu trinco meu maxilar em irritação

A acusação de Youssef alimenta ainda mais a minha indignação. Sua presunção de que minhas intenções seriam tão superficiais me faz questionar se algum dia eles realmente tentaram entender quem eu sou, ou se simplesmente me julgaram baseados em seus próprios preconceitos.

-- Isso é realmente o que vocês pensam de mim? Depois de todos esses anos, vocês ainda me reduzem a um estereótipo tão raso? Eu nunca busquei status, dinheiro ou qualquer coisa do tipo de S/n. Tudo o que eu queria era que ele fizesse parte da vida da filha dele, nada mais -- respondo, a voz carregada de emoção.

Faço uma pausa, tentando me recompor e reunir meus pensamentos antes de continuar.

-- Se vieram aqui apenas para me insultar e tentar me comprar, então acho que não temos mais nada para discutir. A vida e o bem-estar de minha filha não estão à disposição para serem negociados.

A tensão no ar é palpável enquanto aguardo uma resposta deles, esperando secretamente que haja alguma parte deles, por menor que seja, capaz de entender a gravidade de suas palavras e ações.

-- Avise a filha de vocês que não quero absolutamente nada dela. Se ela continua sendo filhinha de mamãe e papai que não assume suas próprias responsabilidades, o problema é inteiramente dela. Eu não a quero perto da minha filha. Criei ela por quatro anos sem precisar de um centavo dela, não é agora que vou precisar -- Cuspo as palavras para eles, sentindo a raiva borbulhando em meu corpo

-- Você ouviu o que ela disse -- Layla responde, a voz tingida de desdém. -- Nós também não queremos que nossa filha seja arrastada para suas complicações. Vamos assegurar que ela mantenha distância.

Com essas palavras carregadas de amargura e a certeza de que nenhuma compreensão mútua seria alcançada naquela noite, eu fecho a porta atrás deles, sentindo uma mistura de alívio e tristeza pela situação. A raiva ainda pulsa em minhas veias, mas há também uma determinação renovada em proteger Lea de qualquer dor que as ações ou palavras de outras pessoas possam trazer.

A volta para a sala, onde a inocência e a alegria de Lea aguardam, serve como um lembrete palpável do que realmente importa. A presença dela, seu sorriso, a maneira como ela olha para o mundo com admiração e curiosidade, tudo isso reafirma sua decisão de manter qualquer negatividade longe dela, custe o que custar.

Acaso (Billie/You Gp)Onde histórias criam vida. Descubra agora