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S/n

Algumas semanas se passaram. Caleb agora tem uma consulta por semana, antes ele tinha apenas uma a cada quinze dias, mas com as suspeitas de Danielle, a frequência de suas consultas aumentou. E sinceramente, Caleb está lidando muito melhor com algumas situações.

Claro que ele ainda tem algumas crises de choro por causa de frustrações, ou comportamentos repetitivos como o de enfileirar as coisas. Mas ele já passou a entender que não precisa bater em seus colegas quando não se sente confortável, e também está usando mais palavras para expressar o que quer. Ele diz apenas algumas palavrinhas como "fome" ou "sono" para se expressar, mas já é um progresso.

-- Vamos para a creche? -- Pergunto para o pequenino que estava segurando a mão de sua irmã.

-- Não -- Caleb diz firme.

-- Você precisa ir para a creche, meu amor -- Billie diz, mas Caleb nega novamente.

-- Não... Lea -- ele se agarra mais à irmã, que por sua vez o abraça, acariciando os cabelos do irmão.

Hoje não tem aula para Lea, é reunião pedagógica, mas para Caleb tem aula normal. Aparentemente, ele se recusa a ir para a creche porque percebeu que sua irmã não vai para a escola.

-- Talvez possamos levá-lo um pouco mais tarde hoje? -- sugiro, olhando para Billie. -- Ele parece realmente precisar desse tempo com a Lea.

Billie pensa por um momento e depois concorda.

-- Está bem. Vamos dar um tempo a eles. Podemos fazer algo divertido juntos antes de levá-lo -- ela sugere.

Lea sorri e puxa Caleb pela mão.

-- Vamos brincar lá fora, Caleb? -- ela pergunta animada, e ele concorda, ainda segurando a mão dela firmemente.

Saímos para o quintal, onde Lea começou a correr com Caleb atrás dela, ambos rindo. Era bom ver Caleb tão feliz e relaxado. Billie e eu observamos os dois, sentindo uma paz momentânea em meio aos desafios diários.

-- Ele está fazendo muito progresso, Amor -- Billie comenta, olhando para mim com um sorriso de esperança.

-- Sim, está -- respondo, segurando sua mão. -- E estamos todos juntos nessa, como sempre.

Observamos nossos filhos brincando, sabendo que cada pequeno avanço era uma vitória e que, juntos, podíamos enfrentar qualquer desafio.

(...)

Caleb acabou nos convencendo a deixá-lo em casa hoje. Acredito que não seja bom fazê-lo ir à escola, sabendo que ele não quer ir, e após a pequena crise de choro que ele teve quando tentamos convencê-lo novamente, percebi que mandá-lo para a creche poderia gerar uma sobrecarga para ele e para as professoras. Estar em um ambiente que ele não deseja, com um estímulo sensorial muito grande, poderia ser prejudicial.

A doutora Danielle sugeriu que conversássemos com Lea e explicássemos sobre as limitações e os limites de Caleb. É importante que ele tenha o apoio e compreensão de toda a família. E, assim como ele, Lea também é uma criança, e as atitudes de Caleb podem, sem intenção, gerar frustração para ela. Porém, se ela estiver a par de como funciona a mente de seu irmão, poderá lidar melhor e compreender como enfrentar determinadas situações.

-- Mamãe e a mami podem conversar com você? -- Billie pergunta para Lea, que concorda minimamente, fazendo carinho nos cabelos do irmão, que está dormindo com a cabeça em seu colo.

-- Acho que você é uma garota muito esperta e inteligente, e você vai entender perfeitamente o que vamos dizer para você... -- inicio, vendo seu olhar atento em sua mãe e em mim.

-- Sabe, Lea, o Caleb é um pouco diferente de outras crianças. Isso não é ruim, só significa que ele vê o mundo de uma maneira um pouco diferente -- Billie começa a explicar. -- E às vezes, isso faz com que ele fique chateado ou tenha dificuldade em entender algumas coisas que para você podem ser fáceis.

-- Como quando ele chora porque alguém mexeu nos brinquedos dele? -- Lea pergunta, olhando para Caleb com um olhar carinhoso.

-- Exatamente, querida -- respondo. -- E é por isso que precisamos ser muito pacientes com ele. Ele está aprendendo a lidar com suas emoções e precisa de nossa ajuda e compreensão.

Lea parece pensar por um momento, ainda acariciando os cabelos de Caleb.

-- E como eu posso ajudar? -- ela pergunta, com a maturidade que muitas vezes me surpreende.

-- Você já ajuda muito, Lea -- Billie responde, sorrindo. -- Continuando a ser a irmã amorosa que você é, mostrando paciência quando ele está frustrado e ajudando ele a se sentir seguro. E, claro, sempre nos falando se algo estiver difícil para você também.

-- Tá bom, mamãe, mami -- ela diz, sorrindo levemente. -- Eu vou cuidar do Caleb.

Nosso coração se enche de orgulho e amor ao ver a bondade e a maturidade de nossa filha. Sabemos que, juntos, como família, podemos enfrentar qualquer desafio.

-- Caleb é como a minha colega Juju? Ela também chora quando a pro recolhe os brinquedos, ela não fala muito e às vezes ela fica falando "Quero mamãe" bastante vezes -- ela diz, sobre sua colega de classe que tem autismo nivel de suporte dois

-- Exatamente, Lea -- respondo, surpresa e impressionada com a percepção de nossa filha. -- O Caleb é como a Juju nesse sentido. Ele precisa de um pouco mais de paciência e compreensão, assim como ela.

-- Você percebeu como a professora e os colegas ajudam a Juju? -- Billie pergunta, e Lea concorda com a cabeça. -- É assim que podemos ajudar o Caleb também.

-- Tá bom, mamãe, mami. Eu entendo -- Lea diz, com um sorriso doce. -- Eu vou ajudar o Caleb como ajudo a Juju.

Nosso coração se enche de orgulho e amor ao ver a bondade e a maturidade de nossa filha. Sabemos que, juntos, como família, podemos enfrentar qualquer desafio.

Billie e eu trocamos um olhar, sentindo que estamos no caminho certo para criar um ambiente de amor e apoio para ambos os nossos filhos. Enquanto observamos Lea continuar a acariciar os cabelos de Caleb, ficamos gratas por ter uma filha tão compreensiva e amorosa, e sentimos uma renovada esperança de que, com amor e paciência, podemos superar qualquer obstáculo.

Acaso (Billie/You Gp)Onde histórias criam vida. Descubra agora