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S/n

Assim que coloco a minha digital no monitor da porta e entro em casa, o clima tenso já toma conta do ambiente. Meus pais, com expressões severas, estão sentados no sofá, como se estivessem aguardando minha chegada para uma intervenção. Suspiro, já antecipando o desgaste dessa conversa.

-- O que vieram procurar dessa vez?-- pergunto, enquanto largo as chaves do carro sobre a mesa de centro, um pouco mais abruptamente do que pretendia.

-- Essa garota está tomando muito de seu tempo, S/n! Nós não nos vemos há quase três meses -- baba fala, claramente irritado. A frustração em sua voz não é novidade, mas desta vez há um tom mais acusatório.

Eu tiro o agasalho, o zíper fazendo um som mais alto no silêncio que segue após seu comentário.

-- Eu disse que não trocaria ela por nada, nem por vocês. Lea é minha filha, não vou abandonar ela, se é isso o que querem, perderam seu tempo -- respondo firmemente, sentindo uma mistura de tristeza e determinação.

Meus pais se entreolham, talvez surpresos pela minha firmeza ou desapontados por perceberem que suas tentativas de me afastar da vida que escolhi não surtirão efeito.

-- S/n, estamos preocupados com você, com essa vida que está levando... Isso tudo é muito para você -- mama finalmente diz, sua voz suave, mas carregada de preocupação.

-- Eu estou bem, de verdade. Estar com ela e com Lea... isso me faz feliz. É uma vida que eu escolhi, e eu gostaria que vocês pudessem respeitar isso -- explico, esperando que eles possam entender que meu compromisso com minha filha e com a mãe dela não é uma fase passageira, mas uma decisão profunda e permanente.

O silêncio se instala novamente, todos ponderando sobre as palavras e sentimentos compartilhados. Espero que com o tempo, eles possam ver a verdade em meus olhos e aceitar a vida que escolhi, uma vida que, pela primeira vez em muito tempo, realmente me parece certa.

-- Vocês têm opções: podem aceitar minha decisão, me apoiar e pelo menos tentar uma convivência pacífica com Lea e a mãe dela... Ou vocês podem continuar com essa visão idiota de vocês e sairem nesse exato momento da minha casa, nunca mais me procurarem e nem se quer pensar em chegar perto de minha filha -- falo firme

-- Você vai casar-se com a filha de Mohamed e esquecer Billie de vez -- mama fala e baba lhe encara um pouco confuso, como se não estivesse sabendo sobre isso

-- Eu não quero. Estou regeitando-a -- falo cruzando meus braços -- Você não tem autoridade nem sacerdócio para isso! Se essa é sua resposta, saia agora de minha casa -- ela iria protestar mas eu interrompo-a -- SAIA AGORA DA MINHA CASA! Não vou permitir que você me desrespeite de baixo do meu teto mama! Saia

Naquele momento, a energia entre nós era palpável, cada palavra minha parecia ecoar nas paredes, marcando uma linha definitiva que eu tinha decidido traçar. Minha mãe, habitualmente tão controlada e persuasiva, pareceu por um instante perder o equilíbrio diante da minha resoluta recusa.

O olhar de meu pai alternava entre nós dois, sua confusão inicial transformando-se em resignação. Talvez, em algum nível, ele também compreendesse a minha posição, apesar da tradicional expectativa de obedecer a escolhas familiares pré-arranjadas.

-- S/n, você precisa entender -- minha mãe começou, a voz trêmula com uma mistura de emoção e autoridade.

-- Não, mamãe -- cortei, minha voz firme. -- Eu entendo perfeitamente. Você está tentando decidir minha vida com base no que você acha melhor. Mas minha vida agora inclui Billie e Lea. Elas são minha família, e eu escolho estar com elas.

Meu pai, finalmente falando, sua voz carregada de um peso que raramente usava, intercedeu.

-- Sua mãe e eu... apenas queremos o melhor para você. Não compreendemos totalmente suas escolhas, mas -- Mas antes que ele pudesse terminar, minha mãe o interrompeu, um olhar feroz direcionado a mim.

-- O melhor para ela, Youssef, é o que estamos tentando garantir.

A tensão cresceu novamente, até que decidi que era suficiente.

-- A questão não é o que vocês pensam ser o melhor para mim. A questão é o que eu sei que é o melhor para mim e minha filha. Eu já fiz minha escolha. Se vocês não podem aceitar isso, então realmente não há mais o que discutir.

Eles se entreolharam, minha mãe claramente não disposta a ceder, enquanto meu pai parecia cansado, talvez começando a aceitar a inevitabilidade da minha decisão.

Finalmente, meu pai pegou a mão de minha mãe, conduzindo-a em direção à porta.

-- Vamos, Layla. Deixe-a. Se é isso que ela escolhe, então devemos respeitar.

Com um último olhar carregado de palavras não ditas, minha mãe seguiu meu pai em silêncio. Assim que a porta se fechou atrás deles, um sentimento de alívio misturado com uma pontada de tristeza me envolveu. Eu tinha defendido meu futuro, o futuro que escolhi, mas ao custo de uma clara divisão entre eu e meus pais. A realidade dessa decisão começou a se assentar, e enquanto eu estava confiante na minha escolha, sabia que nada seria simples a partir daquele momento.

Acaso (Billie/You Gp)Onde histórias criam vida. Descubra agora