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S/n

-- Você esta bem?-- Pergunto apos ajudar Lea a colocar o cinto, logo após pega-la na escola

-- Não quero conversar hoje... Não estou em um bom dia. O peixinho dourado da minha sala de aula morreu -- ela diz e eu concordo

-- Tudo bem... Podemos ficar em silêncio em respeito ao seu luto -- respondo fechando a porta, quando me encaminho para o banco do motorista, verifico a pequena pelo retrovisor, e percebo ela chorando baixinho

Meu coração se aperta ao vê-la assim, tentando ser tão forte mesmo sendo tão pequena. O silêncio no carro, pontuado apenas pelos soluços baixos de Lea, pesa mais do que qualquer conversa que pudéssemos ter. A dor dela, embora por uma causa que muitos poderiam considerar pequena, é real e profunda para ela. Lembro-me de que, para uma criança, cada perda é sentida com intensidade, cada experiência nova molda um pedaço do seu mundo.

Ponho o carro em movimento, a mente trabalhando rápido. Sei que, por hora, ela quer seu espaço, seu silêncio para lidar com a perda à sua maneira. Mas também sei que, como alguém que se importa profundamente com ela, quero ajudá-la a entender e processar essa dor, mostrar que não está sozinha.

Após alguns minutos de reflexão e com a estrada se desenrolando à nossa frente, tomo uma decisão. Dou uma leve olhada no retrovisor, assegurando-me de que ela está segura, embora ainda visivelmente triste.

-- Lea, sei que hoje foi um dia difícil para você -- começo, mantendo minha voz suave e acolhedora -- e está tudo bem se sentir triste. Sabe, quando eu era um pouco mais velha que você, perdi algo muito especial para mim também. Doeu bastante, mas com o tempo, aprendi que está tudo bem em sentir saudades, está tudo bem em se lembrar dos bons momentos.

Não espero que minhas palavras reparem sua dor imediatamente, mas espero que, de alguma forma, elas possam oferecer um pouco de conforto, mostrar que ela não está sozinha nesse sentimento.

-- Que tal, quando chegarmos em sua casa, fazermos algo especial para lembrar do peixinho? Podemos fazer um desenho dele, ou escrever uma história sobre as aventuras que ele viveu. O que você acha?

Espero que essa sugestão dê a ela um meio de expressar seus sentimentos, de transformar sua tristeza em algo tangível que possa ajudá-la a lidar com a perda. No retrovisor, vejo-a enxugando as lágrimas, e um pequeno aceno de cabeça me dá esperança de que talvez, apenas talvez, ela esteja começando a se sentir um pouco melhor.

-- Tudo bem... Acho que Clovis se sentiria feliz com um desenho ou uma história... Ele gostava da hora da história -- ela diz com a vozinha embargada

Meu coração se aquece ao ouvir sua resposta, apesar da dor clara em sua voz.

-- Então é isso que faremos -- eu digo, um sorriso começando a se formar em meus lábios ao imaginar o desenho ou a história que homenageará Clovis, o peixinho dourado. -- Vamos fazer algo que Clovis teria adorado. Vamos garantir que a memória dele continue viva e nos traga sorrisos, mesmo que ele não esteja mais aqui conosco.

Enquanto dirijo de volta para casa, penso em como posso transformar esse momento de tristeza em uma oportunidade de aprendizado e crescimento para Lea. Quero ensiná-la sobre o ciclo da vida, sobre como lidar com a perda e a saudade, mas também sobre como as memórias dos que amamos nunca realmente nos deixam.

Ao chegarmos na casa de Billie, procuro por materiais de arte, papel, lápis de cor, e marcadores. Preparo uma pequena área de trabalho para nós duas na mesa da cozinha, um lugar confortável onde Lea possa se expressar através da sua criatividade.

-- Pronta para começarmos?-- pergunto, sentando-me ao lado dela. -- Não precisa ser perfeito. O importante é que seja especial para você e que venha do coração.

Enquanto desenhamos e escrevemos, observo-a se abrir, pouco a pouco, a tristeza dando lugar à concentração e, eventualmente, a pequenos sorrisos conforme ela se lembra de momentos felizes com Clovis. É um processo terapêutico, não apenas para ela, mas para mim também, ao testemunhar sua resiliência e capacidade de transformar a dor em algo belo.

-- Estou feliz que você tenha me sugerido isso -- ela diz depois de um tempo, segurando o desenho de Clovis entre as mãos pequenas. -- Acho que ele teria gostado. -- Eu concordo, colocando meu braço ao redor dela em um abraço confortável.

-- Tenho certeza de que sim, Lea. E sempre que sentir saudades, podemos olhar para esse desenho e lembrar dos bons tempos com Clovis.

Naquele momento, sinto uma profunda gratidão por poder estar lá por ela, ajudando-a a navegar pelas complexidades das emoções humanas, ensinando-a que está tudo bem em sentir e expressar esses sentimentos. Juntas, encontramos uma forma de lembrar Clovis com carinho, transformando uma tarde de tristeza em uma de amor, memória e criatividade.

Acaso (Billie/You Gp)Onde histórias criam vida. Descubra agora