Capítulo IX

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**Mon**

Acordei com Ryat cochilando na cadeira ao lado da minha cama. Olhei em volta e o sol estava brilhando no céu. As lembranças da noite anterior invadiram minha mente. Levantei a manga da minha camisola e pude ver a minha pele avermelhada, agora, plenamente acordada, a dor era mais intensa.

Me sentei na cama e fixei o olhar na porta, lembrando do que estava ali algumas horas atrás. Sacudi a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Levantei e fui direto para o banheiro, sabendo que Ryat ainda estaria ali quando eu saísse do banho, o que me tranquilizou.

Um cansaço avassalador tomou conta do meu corpo, não era físico, mas sim mental. Estava exausta de tudo, questionando para onde minha vida estava se encaminhando. Antes, meu único problema era lidar com a rainha, agora, havia algo ou alguém me perseguindo, e eu estava sendo rotulada como lunática.

A pobre princesa, com uma família horrível e uma criatura maligna em seu encalço – que história terrível. Mas eu estava cansada, era hora de desistir ou lutar por mim mesma.

Após o banho, Ryat já estava acordada e, como esperado, me esperou. Não lhe disse uma palavra, não sabia o que dizer, nem se ela acreditava em mim.

— Mon, como você está se sentindo? — Ryat deu dois passos em minha direção, mas não avançou mais.

— Estou ótima, só com fome. Preciso comer alguma coisa. — Olhei para o relógio em cima da escrivaninha. Eram 8h00, a hora perfeita para o café.

— Se quiser, posso pedir para trazerem algo para você comer. O que gostaria? — Ela já se encaminhava para a porta, enquanto eu terminava de vestir meu vestido.

— Não é necessário, Ryat. Irei descer para o café. — Juntei os cabelos no meio e os prendi, me observando no espelho. Apesar das marcas escuras e da vermelhidão no meu braço, eu parecia bem.

— Você está atrasada para o café, a rainha não ficará feliz. — Ryat tentou se aproximar novamente, mas percebi em seu olhar que estava incerta de como agir.

— Vá descansar, Ryat. Nos falamos mais tarde. — Aproximei-me e dei um leve abraço nela antes de sair, deixando-a para trás.
Eu não acelerei meus passos, mantive minha caminhada em um ritmo constante. Notei que alguns dos serviçais lançavam olhares furtivos em minha direção. Era evidente que as notícias sobre mim já haviam se espalhado pelo castelo; apesar de suas vozes baixas, os murmúrios eram inegavelmente a meu respeito.

Ao me aproximar das portas, estas se abriram prontamente, e todos os olhares convergiram para mim. Ignorando-os, segui diretamente para o meu lugar à mesa e me sentei. Logo em seguida, uma servente aproximou-se para me servir chá.

— Está atrasada, Kornkamon — a voz da Rainha cortou o silêncio, áspera como era de esperar.

— Eu sei — respondi, segurando minha xícara e saboreando um gole do chá, sob o escrutínio de seu olhar.

— Onde estão seus modos? Você conhece perfeitamente o horário do café. Deve ser pontual, como uma...

— Princesa — terminei por ela. — Este título parece vazio para mim. Estou excluída do conselho, proibida de frequentar bailes e até mesmo de deixar este castelo. Então, qual o sentido de valorizar tanto a nobreza deste título por algo tão trivial quanto um simples café da manhã? — Minha voz, embora firme, carregava uma calma que me fortalecia.

Os olhos do Rei, surpresos, encontraram os meus, mas mantive meu foco na Rainha, que me encarava com severidade. Respirei fundo, sem desviar o olhar.

— Quem você pensa que é para falar assim comigo? Você realmente deve estar perdendo o juízo. Primeiro, começa a ver coisas — ela enfatizou a palavra com desdém —, depois grita por socorro nas sombras e é tão negligente que chega a se queimar com uma simples vela. Se pensa que busca atenção, está desperdiçando seu tempo. Não tolerarei mais nenhum escândalo. — Apesar da dor que suas palavras infligiam, sabia que tinha de permanecer resiliente.

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