A volta de David

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Zayla Carter

Senti uma saudade imensa de uma tardezinha no final de semana ensolarado de dois mil e quatorze. Pensar que viver é apenas viver e deixar pra trás os números significantes. Viver custa tempo e há muito tempo eu temia me perder nesse tempo e perder um pouco da vida.

Fantasiar o que é real por pura covardia. Desacreditar para continuar acomodada. Também devo dizer, em minha defesa, há coisas que finjo não ver para não me desapontar.  Acontece que as coisas se apropriam em uma única coisa e se tornam uma onda em maré alta e violenta  que matam até mesmo os melhores mergulhadores.

Assim andamos questionando, questionar até o mesmo fato de querer ser questionado. A vida não é um quebra-cabeça.

Não é, porque mesmo sem as peças principais devemos continuar.

— Senhorita, Zayla! A senhora Williams está lhe chamando para o café da manhã. — diz Ruth na porta do meu quarto.

— Já irei, Ruth. Obrigada. — sorri gentil.

Não consigo para de pensar na noite de ontem. Em cada movimento carinhoso das mãos de Andrew e no seu abraço seguro que me deu a sensação de estar finalmente em casa. E só me deixou confusa.  Aquele homem me deixa perplexa, perdida.

Eu tento esquecê-lo, fecho meus olhos e tento dormir todas as noites. Acontece que meu coração desperta e desespera quando penso nele e se tento não pensar, já estou pensando.

— Bom dia, Zayla. — disse minha mãe.

Sentei-me à mesa, cabisbaixa. Senti vergonha pela maneira que desmoronei ontem.

— Bom dia, mãe. — peguei uma garrafa de leite gelado.

Meu padrasto, ao lado da minha mãe, me olhava seriamente. Vestia-se  casualmente. Ignorei por hora suas olhadas para mim e me fingi de boba comendo alguns biscoitos.

O silêncio sob a mesa era bastante necessário e piedoso para mim, mas acontece que na cabeça da minha mãe ainda havia perguntas flutuantes sem respostas. Ela resolveu quebrar o silêncio.

— Se sente bem para contar o que aconteceu ontem? — usou seu tom delicado de voz.

Suspirei fundo, bufando.

— Eu estou bem, mãe. — falei.

A mesma assentiu chateada.

— Zayla, você sabe que pode confiar em mim, não é? Eu sou sua mãe. Fiquei preocupada com sua crise de choro. — levou o garfo à boca.

— Estou exausta, não quero discutir. — me levantei da mesa e fui em direção ao meu quarto.

[...]

Confesso que passei o resto do dia me sentindo mal pela maneira que tratei minha mãe hoje mais cedo. Mas acontece que eu mesma não consigo explicar o que me aconteceu e sei também que ela continuaria insistindo nesse assunto.

Às vezes também me sinto tão envergonhada por toda a situação que me meti que talvez isso tenha colaborado com minha crise.

O dia passou-se lentamente. O sol hoje estava como de todas as manhãs aconchegantes e durou por volta das cinco. Fui à escola, quando cheguei caminhei pelo bairro e depois fiquei me espreguiçando na banheira.
Já eram sete e vinte quando ouço a companhia tocar. Levanto da minha cama e desço para a sala.  Encontro Ruth atendendo o David.

Não esperei tempo e corri para seus braços que estavam abertos, esperando por mim. Ele me apertava carinhosamente e me acariciava. Senti meu coração palpitar e me deixar leve. Era como se tirasse um peso das minhas costas.

Amor de Padrasto Onde histórias criam vida. Descubra agora