temporal

1.2K 96 5
                                    

Sai daquele restaurante apressada, lá fora as ruas estavam alagadas, chovia fortemente. É como se os céus pudessem sentir minha dor. Eu sentia desespero e tristeza. A chuva cada vez mais estava forte, corri como pude para fugir daquilo. Como ele pode fazer aquilo comigo? Eu estava me sentindo amada e aquele sentimento era tão bom. Queria passar a minha vida inteira ao seu lado, ele destruiu tudo. Ele mentiu seus sentimentos, a coisa mais linda da vida. Os sentimentos. Eu quero acreditar que ele ainda me ama, mas estou me afogando em mares, estou perdida.

Peguei meu celular, tendo dificuldade para digitar, com as mãos tremendo. Escrevi um texto para Emma, pedi que me ajudasse.

" Emma, onde posso te encontrar? Preciso de você. "

Caminhei para uma calçada, eu estava encharcada de água, com o peito cansado. Talvez eu estivesse ficando resfriada. Em questão de poucos minutos, Emma respondeu.

" Estou na minha casa. O que aconteceu? "

Me sentei na calçada, tentando recuperar o fôlego. Minha respiração estava descontrolada, mas eu sentia dificuldade de respirar. Meu peito doía.

" Eu preciso de você, Emma. "

" Ah, meu Deus! Eu estou indo te ajudar, Zayla. Onde você está? "

" Perto da biblioteca da cidade. " — digitei e ela visualizou.

Eu tossia enfraquecendo, sentia meu corpo perdendo forças. — Meu Deus, o que eu fiz? — Eu não deveria ter saído nesse temporal. Mas eu não iria aguentar vê-lo tão sínico pedindo minha mãe em casamento. Como ele pode? Ele falou que me amava! Eu juro que ele falou!

Fui tão fútil por imaginar que nós dois fôssemos nos casar algum dia, que estávamos apaixonados iguais. Achei que ele me amasse na mesma intensidade. Eu não me dei conta de carregar o peso de um amor sozinha, de uma coisa que eu inventei.

Eu amei o que eu inventei, o que eu queria acreditar.

Se ele realmente me amasse, não teria me deixado, não teria ido embora dos meus braços assim. Ficaria comigo.

A cada minuto que se passava, eu tossia mais, o temporal deixava a cidade alagada e eu embaixo desses céus. Só pensava em me acalmar, porque seria melhor para mim. Dei graças a Deus quando Emma chegou no seu carro.

— Zayla!! — Emma veio até mim, com os olhos arregalados. Me levantei da calçada e a abracei fortemente. — Meu Deus. O que você está fazendo nessa chuva?

— Me leva pra sua casa, Emma. Por favor, eu não quero voltar pra casa do Andrew — meu queixo se tremia.

— Vem, entra no carro. Você vai ficar doente. — Entramos no seu carro.

Ela fazia perguntas, mas eu só conseguia chorar. Porque tinha vergonha de explicar.

— Os seus pais não vão se incomodar da minha presença? — perguntei com uma certa preocupação.

— Meus pais estão viajando, não se preocupe. — assenti.

No percorrer da estrada, eu estava cabisbaixa, sentindo meus olhos arderem por causa do choro. Minha roupa encharcada me incomodava, por nenhum motivo eu conseguia relaxar. Meus pensamentos traiçoeiros me levavam à cena da pior noite da minha vida. De tanto me sacrificar pensando, chegamos na casa da minha amiga. Emma foi uma ótima anfitriã, eu lhe devia isso. Me serviu uma xícara de achocolatado quentinho e me deu um agasalho. Eu ainda não havia tomado uma ducha, preferi desabafar antes.

— Então, amiga. Me explica o que aconteceu? — me perguntou curiosa.

— O Andrew pediu a minha mãe em casamento. — falei cabisbaixa.

Emma me olhava do jeito que meu padrasto me olhou. Aquele olhar penoso, mas vindo dele me causava raiva. Inexplicável o quanto estou me sentindo burra por acreditar num amor falso, sádico.

— Eu já esperava isso dele. — falou.

— Como assim, Emma?— fiquei aborrecida. — A gente fez amor! Ele disse que me ama! Como ele ousou pedir minha mãe me casamento? — me alterei, já chorando de novo. E eu me condenava por ser frágil e permitir me desmoronar.

— Ele não ama ela. Ele me ama! — me levantei do sofá, andando de um lado para o outro, nervosa.

Apesar de nem eu mesma acreditar no amor dele, eu queria insistir. Eu sentia vergonha de mim mesma por acreditar. Não queria um final.

Emmanuelly estava paciente, procurava me decifrar calmamente. Estava sentada no sofá.

— Zayla, você está completamente alterada e isso não está te fazendo bem. — falou serena.

— Eu não quero vê-lo nunca mais, Emma. — solucei limpando os olhos.

— Você precisa encarar a realidade, Zayla. O Andrew estava a todo tempo te tratando como uma amante e o que você esperava que ele fosse fazer? Te dar flores? Te pedir em casamento? — Ela levantou do sofá e em passos lentos veio até mim. — Você não acha que ele só estava brincando com você?

Olhei pra ela confusa e furiosa.

— Você não tem esse direito de falar assim, Emmanuelly! Eu vive esse amor e eu sei que existe. Ele falou que me ama! Pela primeira vez ele falou que me ama.

Me sentei sentindo meus nervos atacarem. Eu estava fora do meu normal, como uma louca perturbada. Meu corpo inteiro se tremia e nem se quer um segundo eu conseguia parar de chorar. Emma negou com a expressão triste e sentou-se ao meu lado. Pegou minha mão a acariciou.

— Eu não quero te fazer mal. Eu quero tentar emprestar meus olhos pra você enxergar o que é nítido, porque muitas vezes este amor doentio cega.

Neguei secando meus olhos e me acalmando.

— Você precisa ficar calma, amiga. Você está fora de si, eu não consigo te reconhecer.

Abaixei a cabeça sentindo vergonha de mim mesma.

— Me desculpa, Emma. Está doendo demais vê-lo me abandonar.

Ela negou e sorriu. — Não precisa se desculpar, Zayla. Agora pode ir tomar um banho porque você está aparecendo um pintinho molhado.

Eu ri sem graça e assenti.

Entrei numa banheira com a água aquecida, fechei meus olhos, coagindo minha alma para descansar. Meu corpo até se adaptava um pouco, porque o ferimento não foi material, não foi na pele. Um curativo não iria me sarar. Apesar disso, eu não queria roubar um pouquinho da paz que eu tentava conquistar da alma, mas não deixei de pensar na minha mãe. Ela deveria estar preocupada comigo e muito chateada por causa da minha irresponsabilidade.

Senti medo por imagina-la preocupada ou até mesmo desesperada. Por um segundo, me imaginei sendo mãe e estando no lugar dela, confesso que este sentimento preocupa. Era assim, tantas preocupações.

Sai do banho, Emma me emprestou uma roupa confortável para passar a noite. Eu agradeci muito a ela e a Deus por minha amiga está me ajudando tanto. Nessa confusão toda, havia um anjo me cuidando. Me sentei no sofá com Emma, ela me falava palavras de conforto, exigiu minha necessidade de seguir minha própria vida, porque se não eu iria adoecer. Talvez sim, de certo que essa noite nem se quer me dei o luxo de pentear os cabelos, tendo minha vaidade. E esse gesto habitual poderia me ausentar da minha própria companhia e dos meus afazeres. Se não me conhecesse tanto, como digo não conhecer, não saberia que eu iria passar dias e dias me sentindo depressiva.

De repente, a companhia tocou. Era muito tarde da noite. Eu e minha amiga nos olhamos confusas.

— Quem será? — Ela perguntou e foi até a porta. Olhou no olho mágico e se virou assustada para mim.

— O que houve, Emma?

— Ele está aqui... — meu coração congelou.

Não revisado.

Amor de Padrasto Onde histórias criam vida. Descubra agora