Eu desejava que minha vida tivesse sido diferente, que em algum momento dela eu tivesse tido a oportunidade de me relacionar com um mundo que não tivesse tirado de mim minha inocência.
Meu coração apertado, minha pele suando frio, meus olhos queimando a lacrimejar, eu me sentia tão pequeno, incomodado, rezava em silêncio, pedindo ao que fosse para que aquele momento o medo não me impedisse.
A porta da lanchonete se abriu, e meus olhos se levantaram, ergui a mão e me arrependi ao mesmo momento quando Chace me encontrou e veio em minha direção com um semblante pesado e inquieto, eu conhecia aquela feição, incomoda e impaciente. Assim, que ele se sentou à minha frente, meus ombros tremeram não escondendo minhas emoções escondidas no peito.
Chace me olhou, parecia analisar os vestígios de tristeza expressa em meu rosto. — O que aconteceu? — Ele perguntou com a voz firme.
Não pude esconder a vontade de chorar, como eu iria contar a ele a verdade? Meu passado que envolvia sua família? Seu pai?
— O que eu vou dizer, não é fácil. — Comecei. — E também não espero que você me entenda. Não espero que você me veja.
— Timothée. — Chace disse impaciente. — Por favor, seja mais específico.
— Seu pai me estuprou quando eu ainda era adolescente. Ele estava saindo com a minha mãe enquanto ainda era casado com a sua, eu...eu na noite que ele se esgueirou no meu quarto, não tive outra escolha a não ser...
— Por favor...para...— Chace disse inflando as bochechas. — Do que diabos você está falando? Está dizendo que meu pai abusou de você? Que ele estava traindo minha mãe? — Ele inclinou o rosto e inesperadamente vi um sorriso no seu rosto. — Você não pode mesmo estar falando sério. Você deve estar chapado.
— Eu não estou chapado, porra! — Bati as mãos na mesa. — Chace, por que eu mentiria? Por que eu faria isso com você?
O silêncio dele foi suficiente para partir meu coração.
— Chace... Por favor...
— Para, só para, sinceramente, eu não sabia que você estava tão desesperado por atenção, você sempre foi assim desde que te conheci, mas inventar uma mentira como essa...é uma merda, é uma puta de uma merda, eu não acredito em você, não tenho motivos para acreditar.
Meus olhos se encheram de mais lágrimas. As palavras duras dele passaram a mergulhar meus sentimentos em pura escuridão.
— Chace! Por favor! — Ele se levantou em um solavanco alto.
— Que perca de tempo. — Chace me deu as costas e caminhou para a porta, minhas pernas mal conseguiram me colocar de pé, meu corpo tremia, eu não conseguia respirar, minha pulsação acelerava, meu peito se fechava, o meu corpo frio amolecido pelo tremor do medo, gritando sobre suspiros ruidosos que me assombravam debaixo de uma escuridão firme e violenta.
O que me restava era ir para casa e esquecer o mundo doloroso que eu não estava disposto a vivenciar.
Não havia um dia se quer que eu não pensava nela.
Era até assustador. Amélia era o único ponto seguro que eu encontrava em meu coração escurecido pelo passado, que eu exaltava e concedia licença para entrar e bagunçar tudo. Eu a amava, sim, eu a amava muito.
Mas não tinha um dia que eu não pensava na dor que seria se ela soubesse da verdade e que me culparia por ser tão fraco. Todos os dias da minha vida, eu acordava pensando no quanto eu destruíra os pequenos pedaços de amor de uma família saudável e feliz, um amor que não fui capaz de receber por muito tempo enquanto minha mãe estava deslumbrada com um homem que ela via enxergava como seu próprio herói deslumbrante.
Eu não tinha amigos, não conseguia me comunicar com ninguém que não fosse uma folha de papel e uma caneta, enquanto escrevia uma nova letra de música, não conseguia me expressar sem ter medo de ser julgado por uma sociedade devastada pela emoção e glória. Eu tinha medo, muitos medos, e todos eles estavam guardados tão dentro de mim que parecia que em algum momento meu corpo estaria a beira do abismo.
Belas manhãs, com ansiedade pulsando no peito, o medo de estar sozinho outra vez tocava meu interior movendo minha insanidade enquanto eu me preocupava se alguém iria me socorrer caso eu um dia acabasse morrendo de tristeza nos lençóis molhados de suor do meu quarto. Não. Ninguém se importaria.
Ninguém se importaria se eu fosse embora sem dizer Adeus.
Aos prantos, mergulhei na banheira gelada, sentindo a água preencher meus ombros, fazendo meu coração bater mais rápido, assustado, meus olhos se fecharam enquanto a água subia um pouco mais, recobrindo meu rosto, senti minhas narinas se fechando e o calor sumir, consumido por uma intensa sensação de pudor e desespero, depressa me ergui em um solavanco, massageando com os dedos as têmporas, os olhos e o nariz. Pisquei várias vezes e ao olhar para a porta, uma sombra magra me encarava esculpida como um anjo melancólico abastardo por uma raiva e tristeza.
Era Amélia.
Puxei a toalha para cobrir meu corpo e ao sair da banheira, corri para alcançá-la no corredor.
— O que diabos você pensa que estava fazendo? — Amélia brandou ríspida. Os lábios tremendo. Meu silêncio dava voz a tudo que ela estava pensando de mim, talvez Amélia se importasse, só um pouco, porque não sabia da verdade. Ela colocou a mão em meu ombro e me puxou contra seu peito, me abraçando com tanta força que eu mal respirava em torno de seus braços violentos e cheirosos. — Nunca mais faça isso.
— Amélia. — Sussurrei, disposto a acabar com os últimos resquícios de esperança que ainda existia na minha alma. — Fui eu quem matou seu pai.
O rosto dela murchou como uma rosa morta, o sorriso crenou e os olhos se arregalaram mexendo, meus lábios tremeram intensamente e o coração estava prestes a pular pela garganta culpado mais uma vez, como estive todos esses anos idiotas, mas agora eu tinha perdido ela.
Simplesmente assim.
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Who| Timothée Chalamet
Fanfiction+18 Timothée Chalamet tem um rosto angelical, mas por trás de uma beleza excêntrica existe uma alma demoníaca atormentada pelo passado do qual não consegue escapar. A única coisa que o motiva é a música, apesar de escrever canções sobre o amor, n...