5. "Todas as coisas que eu queria estavam em você."

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    Nosso pai havia tido um ataque cardíaco por overdose

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Nosso pai havia tido um ataque cardíaco por overdose . Nosso pai havia partido para sempre. Ele nunca foi presente em nossas vidas, mas ainda assim era uma parte importante nossa. Reviver memórias, estar presente em seu funeral nesse dia, era doloroso, saber que o homem que um dia foi nosso herói havia sido apagado do mundo por uma decisão que ele mesmo tomou.

Sinto muito pelo seu pai. — Tia Maria diz ao nos dar condolências, mamãe não parava de chorar, as lágrimas vinham a cada lamento e cochicho, meu irmão era o único que se mantivera tanto impermeável, eu queria ser como ele, intocável.

Me afastei dos dois por um momento pedindo licença, apressei meus passos até o outro lado do cemitério e me encostei no tronco de uma grande árvore, a sombra gigantesca sobre mim, o ar de chuva tomando o dia sombrio e melancólico.

— Eu diria que sinto muito, mas isso não ajudaria nenhum um pouco. — Olhei para o lado, eu não estava familiarizada com essa voz, mas era confortável e doce. Timothée se colocou ao meu lado, as mãos nos bolsos e a gravata com o nó desfeito. — Quando meu pai morreu, eu senti que meu mundo inteiro havia desabado sobre minha cabeça, que eu tinha perdido a única pessoa que se importava comigo, e eu tinha razão, o mundo estava desabando sobre minha cabeça. Perder a pessoa que você ama desperta as maiores emoções, desespero, dor, tristeza, eu me sinto como você agora. Mas você tem duas pessoas que te amam profundamente. Sua mãe e seu irmão, eu não tive ninguém. Apenas tive dores que não podiam ser curadas.

Meus olhos preencheram-se com mais lágrimas, eu segurei seu ombro e o puxei para um abraço, ele estava inquieto em meus braços, aos poucos cedeu ao meu gesto íntimo e se afastou ao descer seus dedos por meus ombros e meu braço e alcançar meus dedos.

— Eu quero que saiba que não está sozinha. Mesmo que se sinta, eu quero que venha até mim para dividirmos nosso silêncio.

— Só...me tira daqui. — Sussurrei, seus olhos se apertaram um pouco em dúvida.

— Tem certeza? — Perguntou.

— Tenho. — Ele apertou ainda mais seus dedos aos meus, apertamos nossos passos para longe do cemitério saindo pelos portões, e encarando a rua imensa, os carros passavam de um lado e outro, cruzando pelo semáforo, enquanto não parávamos de correr sem fôlego para chegar em algum lugar, por algum motivo estranho eu confiava nesse garoto.

Nossos passos foram cessando quando paramos em frente a uma casa.

— Essa casa é sua? — Perguntei confusa.

— Não. — Respondeu, subindo o muro. — Mas os donos estão viajando e a casa tem uma piscina enorme.

— Você ficou maluco? — Murmurei com medo de ser ouvida.

— Vem logo. — Timothée subiu o último tijolo e pulou para o outro lado. Olhei para os dois lados, a rua estava vazia, eu não ficaria ali sozinha esperando por ele.

Pulei para o outro lado, abismada de como a casa era imensa, as portas duplas da sala estavam abertas, eu segurei seu braço para que ele parasse.

— Ah, eles sempre deixam aberta. — Ele deu de ombros e simplesmente entrou. Eu estava logo atrás o seguindo, haviam pinturas nas paredes em vez de quadros de lembranças familiares, as paredes eram cinzas e sem graças, o piso era liso e branco. Timothée subiu as escadas e abriu a porta de um dos quartos.

— O que você está fazendo? — Sussurrei.

— Pegando uma bermuda, não vou nadar de calça. — Franzi as sobrancelhas, eu estava confusa demais para entender como ele sabia onde ficava cada pedacinho dessa casa.

— Essa casa é sua? — Perguntei.

— Do meu pai. — Falou, ascendendo a luz, ele pegou um porta retrato que havia um menino e um homem na foto. — Minha mãe não quis essa casa, então ela ficou para o meu avô. Eu não sou muito próximo dele, mas também não quer dizer que temos uma relação ruim. Ele só não...— Timothée pegou o porta retrato e colocou de volta na cômoda. — Não gosta do fato de que eu sonhe tanto em compor música, também quero ser guitarrista, mas ele diz que é perca de tempo, não gosta do fato de eu não estar focado em uma faculdade, eu sempre escrevi músicas desde os dez anos, gostava de poesia e letras acústicas. Meu pai adorava esse meu gosto peculiar, e talvez ele tivesse me apoiado.

— Tenho certeza de que ele está te apoiando. — Levei a mão até seu ombro e apertei devagar, ele olhou para mim, era um olhar apagado e vazio.

Eu não entendia o que havia nessa alma tão forte, ele era especial e intocável.

— Não faz isso de novo. — Ele disse, pegando a peça de roupa e empurrando a gaveta, ao sair do quarto, vou atrás dele e desço as escadas com pressa.

Timothée. — O chamei. Ele se quer olhou para trás, e saiu para a área da piscina. Eu não fazia ideia do que tinha feito de errado. Meu coração batia ainda mais rápido de uma maneira sombria, enquanto eu seguia até a piscina, Timothée estava sentado em uma das cadeiras de praia, suas costas estavam nuas, haviam hematomas em sua pele pálida, hematomas horríveis que pareciam recentes, eu o observei apavorada, meus lábios tremendo e com meus olhos se enchendo de lágrimas.

Não faz isso de novo.

Me aproximei dele e sentei ao seu lado, estiquei a mão e segurei a sua.

— Pode conversar comigo.

— Você entenderia? — Ele suspirou profundamente olhando para a água se quebrando no fundo da piscina. — Acho que não. Então não finja que pode sentar aqui e ouvir todas as coisas horríveis que tenho a dizer, não finja que pode fazer isso quando na verdade sabe que não.

Ele tem razão, eu não aguentaria, eu estava em pedaços com a morte do meu pai e os problemas de Timothée só aumentariam ainda mais a minha dor.

Desculpa. — Murmurei com a cabeça baixa. Ele se levantou e se aproximou da água, e então mergulhou ao pular, meu peito estava apertado e ao mesmo tempo cheio de dor apenas queria chorar.

Who| Timothée Chalamet Onde histórias criam vida. Descubra agora