11. "Eu sinto muito por ter feito você sofrer."

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Dois meses depois

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Dois meses depois

  — Sinto muito. — Lamentou o homem com a voz baixa soando quase tão triste quanto seus olhos negros e deslumbrantes. — O contrato está quase vencendo, e não tem outra chance de renovação se a sua bandinha não fizer um retorno até esse mês.

— Como vou conseguir compor dezesseis músicas em um mês? — Minha garganta estava seca, as palavras pareciam curtas e grossas, mas eu não me importava de estar sendo um babaca.

— Isso não é problema meu. — Ele deu de ombros, arrastando a cadeira para se levantar.  — Te dou um mês, ou a RED está fora. — Olhei para os papéis sobre a mesa, era assustador admitir que as minhas esperanças estavam diminuindo, a banda estava indo por água a baixo, e tudo que fiz para manter a RED nos trilhos está por um fio. Juntei os entalhos de documentos e enfiei na minha bolsa, deixando a sala do estúdio.

   Eu não conseguia fazer mais nada pela banda. Chace não falava mais comigo, Bright havia sumido do mapa e Zitti visitava sua mãe no Nebraska a quase dois meses sem dar notícias.

Encostei o carro em frente do meu novo apartamento, a entrada estava rodeada por fotógrafos, por que não imaginei isso?

A banda estava com as maiores notícias de que estava pronta para chegar ao seu fim e todos os meus escândalos foram suficiente para colocar uma porção de curiosos em uma fila em meu apartamento.

Peguei meu celular na bolsa, e liguei para Luca, meu segurança.

— Estou na frente do meu apartamento, preciso entrar.

— Eu estou de férias Sr. Chalamet. — Pisquei, eu não me lembrava disso. — O Charles não está com você?

Eu não me lembrava quando foi a última vez que o Charles apareceu para trabalhar.

— Não se preocupe, eu dou meu jeito. — Desliguei o celular, o jogando no banco de trás, liguei o motor e devagar dei a volta pela rua, entrando no próximo bloco para pegar a avenida.

É claro, eu não estava pensando bem, eu não podia simplesmente aparecer na casa da minha mãe de mãos vazias depois de quase um ano inteiro sem vê-la.

Passei por um loja de donuts, seu doce preferido, e peguei oito donuts de açúcar, eu não sabia o que esperar da minha mãe, nunca tivemos uma relação muito saudável, ela não me via como seu filho desde o passado melancólico que havia acabado com nosso relacionamento, eu nunca sabia como agir com a minha mãe, mesmo quando meu desejo era só me aproximar e cuidar dela.

Quando estacionei, meu peito doeu, as lembranças ainda eram muito fortes, pesadas como um tsunami, embora eu quisesse esquecer tudo, não podia, eu vivia desse passado. Ele havia me destruído emocionalmente e me fez crescer solitário em um mundo tão sujo e perverso.

Mas minha mãe, mesmo que ela nunca tivesse segurado minha mão, ainda era minha mãe. E eu devia ter deixado meu orgulho de lado e vindo visitá-la.

Meus dedos tremiam segurando a caixa enquanto me aproximavam da porta, eu me sentia uma farsa, sujo e sem vida, quando toquei a campainha e esperei, a vontade de ir embora me fez tremer imediatamente.

Engoli o seco na garganta, e fechei os olhos, respirei, ouvi o som da porta e ao olhar para cima. A surpresa que tomou meu rosto se comprimiu.

— Amélia? — Falei espantado.

Faziam dois meses que Amélia e eu não nos falávamos. Nada. Eu não conseguia nem se quer olhar para ela, não conseguia ouvir sua voz angelical sem me retorcer por inteiro. Era doloroso. Confiar.

Ela me deixou entrar, a casa estava arrumada, havia um cheiro familiar de lavanda, as almofadas no sofá estavam alinhadas e o tapete estava limpo. Os livros estavam empilhados, estavam sendo limpos da prateleira. Me virei e retornei a Amélia, a observei uma única vez, da cabeça aos pés, estava pálida, os cabelos estavam presos, sua pele estava pouco cuidada, e seu olhar estava cansado, usava um avental com roupas largas e chinelos.

— O que está acontecendo? — Perguntei, deixando a caixa de donuts sobre a mesa de centro.

Amélia tirou o avental, revelando o quão magra estava.

— Timothée, podemos conversar? — Ela estendeu a mão para me guiar ao sofá, eu me sentei lentamente em desconfiança. Amélia ameaçava um olhar transtornado e triste, ela esfregou as mãos nas calças de moletom e ofegou começando a chorar.

— Por que você está aqui? — Perguntei ácido.

Me desculpa. — Lamentou. — Me desculpa por tudo e por não ter feito tudo por você. Eu sinto muito por ter feito você sofrer. — Amélia enxugou suas lágrimas que apenas desciam com mais facilidade e dor. — Sua mãe me acolheu por esses dois meses. Chace e eu estamos passando por um problema de família. — Ela olhou para mim, tive vontade de limpar a água em seus olhos, mas me contive imediatamente. — Nossa mãe faleceu.

Eu pisquei, não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

— Sua mãe veio nos procurar. — Amélia se encolheu. — Ela estava querendo saber sobre você, então contei que não sabia mais nada sobre, além do que via na internet. Estava preocupada com você .

Levantei do sofá, estava cansado de ouvir o que Amélia tinha a dizer.

— Onde está minha mãe? — Perguntei eufórico.

— Ela conseguiu um trabalho em um mercadinho vinte quatro horas no bairro. Timothée, sua mãe está se recuperando da dor.

— Eu volto outra hora. — Peguei a caixa de donuts e me direcionei para a porta, ouvi os passos pesados de Amélia.

— Timothée. — Suspirei, eu odiava ouvir o som de sua voz ao me chamar, queimava meu corpo, minha alma. — eu sinto sua falta.

Eu também sinto sua falta..

Girei a maçaneta e abri a porta, apressei meus passos para entrar no carro, a respiração ofegante, o coração batendo no topo da garganta, meu peito queimava como brasa quente, eu não conseguia controlar meus sentimentos quando estava com Amélia, não estava bravo por ela ter causado o meu acidente de anos atrás. Não estava bravo por ela ter mentido para mim.

Eu estou com medo de em quem posso confiar.


O medo do mundo me consome, me engole e estremece minha mente, tenho medo do nascer do sol até o pôr do sol, tenho medo do barulho das ondas, do cheiro de fumaça, daquilo que vem e me lembra a morte. Meu mundo já desmoronou muitas vezes, mais quantas vezes fui capaz de me reerguer?

O pavor de ser ameaçado por um toque, de tremer ao vislumbre alto de uma voz, eu era fraco, medroso, fraco, medroso, fraco, medroso.

Eu estava sozinho no mundo, sem ninguém em quem me apoiar, e seria assim até a morte.

Who| Timothée Chalamet Onde histórias criam vida. Descubra agora