9. "Não te conheço mais."

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 "Fui eu quem matou seu pai

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"Fui eu quem matou seu pai."

   Eu não sabia de quantas formas aquela frase haviam passado por minha cabeça, quantas vezes foram suficiente para que eu pudesse entender o que significavam até eu ter certeza da verdade. Ele havia matado meu pai.

— Eu...e-eu... — Ele gaguejou, estava pálido e uma parte de mim sentia pena do pobre garoto a minha frente, amolecido e estabanado, o garoto que eu amava. — Amélia, por favor, só me dá um minuto para que eu possa...

— O que aconteceu? — Eu arrisquei. Eu sabia que doeria ouvir a verdade, conhecia meu pai, ele não era um tal homem santo, e também não era fiel, eu conhecia seu lado obsoleto e não gostava.

— Me permita que eu me vista primeiro. — Concordei, e o esperei na sala de estar, incomodada com a maneira como meu corpo reagia, tremendo entregando que eu estava com medo, estava ansiosa. Assim que ouvi os passos vindos das escadas, me reprimi em encosto na cadeira e endireita a pobre postura miserável, sentindo meus ossos se contorcerem. — Amélia. — Meu nome em sua boca era tão sujo, nojento, ao mesmo tempo que sensual e obscuro. — Eu sinto muito de verdade, essa dor me consumiu por anos e anos,me engolia como uma verdadeira escuridão e eu só pensava em mil e uma maneiras de contar a você e ao Chace.... — Ele estava chorando, suas lágrimas aparentava ser tão sinceras e eu me reprimi outra vez, chateada. — Em uma noite, eu estava quase dormindo quando ouvi a porta do meu quarto se abrir devagar, eu sabia que não era minha mãe, porque ela sempre batia duas vezes, no meio da escuridão, eu percebi que alguém se esgueirava na cama onde eu dormia, me abraçando pela cintura, me puxando para perto, cada vez mais perto, uma mão grande e áspera cobriu minha boca e eu mal podia respirar, enquanto derramava uma centena de lágrimas, sentindo a outra mão dele dedilhar por dentro da minha camiseta. Eu ficava sem ar, com medo, sem reação. Então ele me disse uma frase que eu nunca esqueci: "você pertence a mim agora, e assim será."  Passei alguns anos suportando todas as noites, esse homem, vindo até minha cama, e ansiando me machucar. Eu nunca tive coragem de dizer nada, a ninguém, nem mesmo a minha mãe, mas quando finalmente tive, fui visto como vilão, ela me olhava indiferente e não acreditava mais em mim.

   Eu estava chorando, minha camiseta estava encharcada de lágrimas, e os soluços me fazia sacudir e tremer violentamente, era horrível ouvir algo assim, ainda mais quando tudo era tão difícil de acreditar.

— Então... — Engasguei. — Ele não morreu de ataque cardíaco.
 
  Timothée balançou a cabeça e seus olhos caíram para suas mãos sobre a mesa.

— O Chace sabe?

— Ele não acreditou em mim. — A voz dele é fraca, como se a dor só estivesse aumentando.

— Mas eu acredito. Você podia ter me contado. — Eu me levanto e vou até ele, meus braços circulam seus ombros em um abraço forte e apertado, e de repente, eu sentia tudo, tudo que ele havia guardado todos esses malditos anos, toda a dor, a tristeza e culpa. — Me desculpa por ter demorado tanto a perceber.

  Em meus braços, ele se esgueirou ainda mais, me permitindo acariciar seu ombro, encostei a cabeça sobre a sua e fechei os olhos, deixando o silêncio preencher o ambiente como deveria ser. Até o momento eu sabia que não havia mais nada a se fazer. O passado já havia manchado a imagem do garoto feliz e recatado que eu conheci.

  Eu o amava, e devia ter o protegido.

— É melhor você se deitar. Vou fazer um chá para se acalmar. — Timothée beijou meus cabelos, pude perceber o quanto ele estava eufórico.

  Assim que ele saiu da cozinha. Busquei meu celular na bolsa e procurei pelo número de Chace, quando a chamada começou a tocar, o alívio do meu corpo foi tomado por uma imensidão de horror.

  Chace estava chorando.

  Uma das últimas coisas que eu já havia presenciado, era Chace chorar, ele era como uma pedra, impenetrável, e ninguém conseguia fazer com que ele saísse de sua pose. Eu estava assustada, não, apavorada.

— Eu não quero acreditar nele. Mas por que o Timmy mentiria? Ele é meu melhor amigo! — Ele protestou aos choramingos. — Porra! Ele é meu melhor amigo! Ele não mentiria ou inventaria algo assim para me machucar, eu odeio essa merda! Odeio pensar que o papai fez uma merda dessas.

— Chace. — Tentei conte-lo. Ele estava ofegante com suas lágrimas em pavor e eu mal conseguia imaginar o quanto meu irmão deve estar se sentindo mal.

— Eu estou me sentindo um idiota, sabe? O Timmy estava sofrendo, sofrendo por causa do nosso pai, e eu o chamei de mentiroso, eu não o apoiei. Eu me arrependo Amélia.

— E tudo bem Chace. Seria difícil acreditar, era nosso pai, nosso, o nosso herói, mas claro que ele era irreconhecível longe da nossa família. — Meus olhos se enchem de água. — O Timothé tentou...você sabe...

  Chace começou a chorar ainda mais, era uma dor profunda, no fundo do peito que só aumentava.

— Como?

— Na banheira, ele tentou se afogar na banheira.

— Não, ele já tentou isso uma vez, mas nenhum de nós, da banda, deu muita atenção. Ele estava pedindo ajuda e ninguém, ninguém fez questão de ajuda-lo.

— Por isso ele escreveu " Lose Control." " Estou perdido, mergulhando em águas fundas, esquecendo que em eu sou, estou perdido, mergulhando em sangue escuro, enquanto perco o controle de quem realmente eu sou."

Como sabe dessa música? — Chace funga baixinho.

— Eu vi a letra amassada no lixo. Tenho certeza que essa letra era um pensamento.

— Então, você está com ele? — Pergunta.

— Estou, venha para cá e peça perdão. As coisas vão se resolver.

  Chace funga outra vez e suspira alto suficiente para que eu ouça.

— Não sei, não sei se ele vai me perdoar.

— Ele vai sim. Eu o conheço, sei que o Timmy não vai guardar rancor.

— Ele vai sim. — Ele solta outro suspiro. — Quando descobrir que na noite daquele acidente, quem o atropelou foi você, estamos mentindo para ele, e sabe disso, não sabe?

  Eu engulo o seco, por que tocar nesse assunto agora?

— Sim, eu sei, mas ele não pode saber, ele ficaria com raiva de mim.

— Pelo motivo que você o atropelou? — Chace agora parece estar me provocando, ele está jogando.

— Sim.

— Precisamos contar para ele, que você o atropelou de propósito.

— Ele não vai saber! Chace!

  Ouço um barulho vindo das escadas, e logo me movo depressa para alcançar a sombra se mexendo na escuridão.

— Timothée! — pela brecha da porta, ele me observa. — Está tudo bem?

  Então ele fecha a porta com um baque que faz as paredes da casa estremecerem.

Who| Timothée Chalamet Onde histórias criam vida. Descubra agora