7. "Duas coisas que eu ainda preciso esclarecer"

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    Eu ainda podia sentir, seu cheiro, seu coração batendo contra meu ouvido, seus braços ao redor do meu corpo, o calor que emanava da sua pele, cada lágrima fluía livremente com o pânico que diluía em volta de seu abraço quente, cada sentimento ...

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    Eu ainda podia sentir, seu cheiro, seu coração batendo contra meu ouvido, seus braços ao redor do meu corpo, o calor que emanava da sua pele, cada lágrima fluía livremente com o pânico que diluía em volta de seu abraço quente, cada sentimento de horror que desaparecia e a frieza do medo que me fazia temer cada segundo enquanto ela estivesse comigo.

  Ocupados com o silêncio, com a vastidão de uma imensidão escura da noite, meu corpo tremeu ao redor de seus braços magrelos, implorando para que não me soltasse nunca mais. Eu desejava. Não, eu almejava.

Timothée. — Sussurrou baixinho com medo, eu sabia que ela estava com medo, eu tinha muito medo também. Eu queria contar toda a verdade a ela, e de como todos esses anos tive tanto medo de estar ao seu lado, com pavor de meu pânico diante meu passado, ameaçasse minha relação com ela. Eu me odiava. Eu odiava o universo. Tudo. — Vamos, está frio, você vai ficar resfriado.

Enxuguei as lágrimas miseráveis, e me ergui firme, senti as costas doer, o tremor diminuía, mas a sensação automática de medo só parecia aumentar ainda mais. A segui pelo caminho retornando até sua casa, Bright ainda estava lá, sentado sobre o telhado, ele deslizou pelas telhas e caiu como um gato habilidoso pousando no jardim.

— Tudo bem? — Perguntou.

— Timothée só precisa de um pouco de tempo, vou preparar um chá para ele. — Bright me olhou, mas não consigo desvendar o que aquele simples olhar significava de verdade, ele balançou a cabeça apreensivo e bateu no meu ombro.

— Fique bem, amanhã tem ensaio, precisamos de você. — Amélia me puxou até a porta, girou a maçaneta e entramos.

— Pode se sentar no sofá, vou até a cozinha, vou avisar que você está aqui. — Amélia disse, apertando seus passos para o corredor e sumindo por portas duplas.

   Olhei ao redor, a muito tempo me acostumei com esse lugar, mas muita coisa havia mudado, as paredes alegres azuis, foram substituídas por paredes cinzas e quadros abstratos, porta retratos estão ao lado da lareira, fotos de cada fase de Amélia e seu irmão, pego uma das fotografias, deslizando o polegar pela imagem do homem que havia me causado tanto sofrimento, meus dentes tremeram e meus lábios formigaram, ele sorria na foto, ao lado das duas crianças, os seus filhos.

— Tudo bem? — Escutei a voz de Amélia, o porta retrato deslizou da minha mão e caiu no chão, formando uma porção de cacos de vidros aos meus pés. Olhei para ela, não sentindo remorso algum de ter quebrado sua maior lembrança. Mas sentindo pena de ter sido o culpado do sofrimento dessa família. — Não tem problema, eu vou pegar um...

— Eu vou embora. — Minha voz estava trêmula, eu queria contar a verdade para ela, mas como? Como estragar a pequena visão que ela tinha de um pai herói, de um pai que mesmo não presente, era seu pai. — Sinto muito Amélia.

Eu lamentava cada momento. Eu lamentava.

•••

Não, não, não.

Não era a primeira vez que eu acordava molhado de suor pela madrugada, ou quando tremia sem poder reagir um segundo com os pesadelos se multiplicando a cada piscar de olhos.

Fazia muito tempo que meus pesadelos haviam parado, mas essa noite, eles vieram me atormentar outra vez mostrando que nunca foram embora.

Deslizei da cama o mais depressa que conseguia, querendo me livrar da sensação de calor ocupando meu corpo, me sentei no chuveiro e deixei a água deslizar por minhas costas, água gelada caindo e levando toda minha sujeira.

Por favor.

Repeti todas as vezes em que fechei os meus olhos com força.

Fechei a torneira, me enrolei na toalha e me olhei no espelho, a imagem assustadora e acabada que eu mal conseguia reconhecer a tantos anos. Deslizei pela parede, deixando meu corpo cair no piso frio, as lágrimas ameaçadoras imploravam ao redor dos meus olhos, imploravam por um lugar, eu sabia que prender a raiva que eu sentia, a dor que eu sentia só iria me machucar, só iria me matar em cada segundo que eu vivesse.

Eu precisava me libertar dessa corrente.

Escorreguei, pegando meu celular na bancada, e voltei a me sentar ao chão, encolhendo as pernas, meu polegar trêmulo sob a tela, diante do nome da única pessoa que jamais iria me perdoar, e eu sabia que quando eu contasse, minha vida nunca mais seria a mesma.

— Oi Chace, precisamos conversar.

Who| Timothée Chalamet Onde histórias criam vida. Descubra agora