Eterno Temporário

Prólogo

Hyosora corria pelos telhados, seu capuz balançava pela fraca ventania e deixava exposto alguns fios de seu cabelo, suas vestes escuras auxiliavam na camuflagem com o breu do céu nublado, o que facilitava sua fuga. Havia roubado uma loja e agora tinha de correr antes que algum herói o encontrasse, não que isso fosse algo fácil.

O garoto era excelente na arte do saqueamento, entrava e saía de qualquer lugar sem chamar atenção, um verdadeiro gatuno, suas habilidades eram puro talento e trabalho duro, a união perfeita de ambos os extremos. Possuía uma facilidade no roubo, mas teve de esforçar-se muito para chegar nas habilidades corporais que tem hoje, visto que não podia contar com uma individualidade como a maior parte da população, entretanto, não é como se precisasse de uma.

Pulando sobre mais algumas residências, o adolescente chega no local desejado, logo arrumando seu capuz e entrando pela porta escondida que ali havia, descendo uma longa escadaria até chegar num cassino e seguindo pelo caminho conhecido, entrando numa porta e caminhando por um corredor até parar em frente à uma porta escura onde dois seguranças estavam de guarda.

Os mais velhos, reconhecendo o garoto, permitem sua entrada no cômodo de tamanho considerável, onde, sentado atrás de uma mesa, estava um homem tragando seu cigarro enquanto tinha os pés sobre o móvel, abrindo um sorriso ao ver o mais novo.

-Olha só quem apareceu, se não é o meu gatinho preferido. Então? O que conseguiu?

Hyosora caminha até estar relativamente próximo à mesa e lança uma bolsa de tamanho médio no móvel. O maior começa a mexer no conteúdo dentro da bolsa e aumenta seu sorriso.

-Excelente, sabia que não iria me decepcionar. - O homem abre uma gaveta e retira um saco pequeno, jogando para o adolescente. - Seu prêmio.

-Tem menos do que o acordo.

-Para alguém que não foi à escola, você até que sabe contar muito bem. Está certo, tem menos.

-Porque?

-Eu tenho uma proposta para te fazer. Um cliente soube de suas habilidades e está interessado em fazer uso delas, mas é um roubo mais delicado do que está acostumado.

-Mais objetos?

-Não necessariamente. É uma peça artística e histórica que circula pelo mundo e que vai estar em exposição privada, terão heróis cuidando do perímetro.

-Onde?

-Calma, não seja tão apressado, esse roubo vale muito mais do que qualquer furto de esquina que já fez, sua identidade corre risco assim como sua vida. Realmente vai aceitar? Sabe que não pode voltar atrás quando souber das informações.

-O senhor sabe que vou aceitar, não é como se a minha vida valesse o suficiente para eu negar trabalho. - O mais velho o observa com uma expressão séria por alguns minutos até soltar um suspiro quase imperceptível e abrir um sorriso.

-Daqui cinco dias, num prédio chique de cor clara a dez quadras ao norte do roubo de hoje, penúltimo andar. No final do corredor, terá uma porta dupla, possivelmente é o local.

-Possivelmente?

-A fonte de informação é um pouco complicada, podem acabar mudando de uma hora para outra. O cachê será alto, maior do que qualquer um que já recebeu.

-Certo. Mais algo?

-Você terá um parceiro. - Hyosora solta um resmungo e o mais velho sorri. - Não faça essa cara, é um roubo de alto escalão e importante, vai precisar de um apoio, nem que seja para dançar como distração.

-Já que não tenho escolha...

-Exatamente. Vocês irão se encontrar no telhado de um prédio a cinco quadras do local do roubo, use uma roupa mais disfarçada, não sabemos como vai ser a segurança interna. - O adolescente afirma com a cabeça e se vira para ir embora. - Não morra, não quero ter que procurar um novo gato.

Hyosora apenas se retira do cômodo ainda vestindo seu capuz. Estava tenso, mas ainda sentia a adrenalina correr por seu corpo ao somente imaginar o roubo. Não poderia dar errado, era tudo ou nada.