CAPÍTULO DOIS

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Natalia

O sofá já estava ficando com a forma do meu corpo, pois é onde passo a maior parte dos meus dias, assistindo filmes antigos em preto e branco, ou novelas de época. As luzes estão apagadas, e o ambiente está ficando escuro, as cortinas pesadas estão parcialmente abertas, e uma brisa gelada está entrando, sei que preciso me mexer daqui e fazer alguma coisa, mas me recuso a pedir ajuda para aquela mulher que meu irmão insistiu em colocar dentro de casa.

- Natalia, por que você está nesta escuridão? - a doutora indesejável, entra na sala, acende as luzes e fecha as janelas, rapidamente mudando o clima do ambiente cortando a brisa gelada.

- Porque a minha alma é escura. - Respondo. - Você sempre se mete assim na vida das pessoas? Chega acendendo luzes nas casas alheias, sem nem saber se a dona da casa quer isso?

- Para com isso, está um gelo aqui. - Ela diz com um sorriso tímido. - Vem, vamos colocar uma roupa mais quentinha em você, tomar um banho talvez? E depois podemos comer Claudia me disse que o jantar está quase pronto.

- Então quer dizer que vocês já estão amiguinhas? - digo - Vocês são todas iguais mesmo. O que você pensa que está fazendo? - pergunto quando ela pega as muletas que estão encostadas na parede do outro lado da sala e vem em minha direção.

- Como você pretende ir até o quarto? - ela pergunta parecendo realmente confusa.

- Eu não uso essas coisas, nunca, eu posso andar, não estou invalida. Só preciso de um pouco de apoio.

- É exatamente para isso que servem as muletas, para te dar apoio.

- Não. É pra isso que você serve.

Vejo que ela revira os olhos e respira fundo mais de uma vez antes de se aproximar, segurar em meus braços e me ajudar a levantar, após ficar sentada no sofá durante mais da metade do dia, estou com os músculos doloridos e enrijecidos, mordo o lábio com força para evitar que algum som de dor saia por eles, muito lentamente me endireito e passo um braço em volta do pescoço de Carol, ela segura minha mão e me ajuda a caminhar até o meu quarto, a escada é um desafio, mas ela segura firme em minha cintura e praticamente me arrasta para cima, os poucos degraus. Ao chegar ao quarto, me sento na cama.

- Então, você quer tomar um banho? você está gelada.

- Pode ser. - falo evitando contato visual. - Estou com dor e com fome.

- Por isso esse mal humor, já vamos resolver tudo isso.

Carol me ajuda a chegar até o banheiro, e a me despir parcialmente, ela fica vermelha quando deixo o vestido cair ficando apenas de roupa de baixo. Após ligar o chuveiro e garantir que não vou escorregar, ela sai do banheiro bem depressinha. Deixo que a água quente e a pressão agradável do meu chuveiro lavem um pouco das dores dos meus músculos doloridos, saio do banho e me seco sentada, coloca a minha roupa de baixo e visto um robe verde.

- Carol, preciso de ajuda agora. - Grito de dentro do banheiro - Pode entrar estou vestida.

Silencio, Carol não aparece, nem mesmo me responde, então me levanto e segurando nas barras de apoio que Pedro insistiu em instalar por todo o meu lado, e entro no meu quarto, ela está de costas para mim olhando para os porta-retratos que ficam em cima da minha cômoda. Quando se vira tem uma foto em especial na mão, a maior de todas. Uma foto em que eu estava tão feliz, que jamais poderia imaginar no que eu me transformaria. Era o dia do meu aniversário de 21 anos, estou em um lindo vestido vermelho florido e exibindo um sorriso enorme, com um bolo na mão onde uma vela acesa mostra a idade que estava completando, ao meu lado está a pessoa que mais amei na minha vida, meu amigo, minha metade, minha base, minha luz, meu porto seguro e a pessoa que mais me fez e faz sofrer até hoje as sequelas de suas escolhas erradas, meu irmão Bruno.

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