CAPÍTULO TREZE

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Natália

- Adeus Natália. - foram as últimas palavras que ouvi dela.

Eu a vi se afastar, atravessar o gramado, passar pelas pessoas, subir as escadas, ela olhou para trás quando chegou ao fim dos degraus. De longe não pude definir exatamente qual era a expressão em seu rosto, mas a postura de seu corpo, os ombros caídos, o arrastar de pés ao caminhar, diziam que ela estava sofrendo.

Se está sofrendo então porque ela se afastou?

Perguntas para as quais não tenho resposta se formam em minha mente, acumulando-se
com as outras milhões de coisas que eu não sei. Eu sinto um amortecimento de meu corpo, meus olhos perdem um pouco do foco. Vou caminhando lentamente até o quarto que disponibilizaram para mim, deito na cama e penso em chorar, mas esse tempo já passou, as lágrimas secaram, agora sinto apenas o vazio que a sua ausência deixou para trás.
Batidas na porta me tiram do estado de entorpecimento em que me encontro, desde a hora em que Carol se foi.

- Natália? - a porta se abre um pouquinho, quartos em alas psiquiátricas não possuem fechaduras. - Eu posso entrar?

- Ligia, pode entrar. - digo me sentando a beira do colchão.

- O Pedro me ligou, contou o que aconteceu, você quer conversar? - ela diz se aproximando.

- Acho que agora é tudo o que me resta. - ela desmancha o sorriso que sempre trás no rosto. - Ela se foi Ligia. Ela me deixou, e eu não entendo o porquê.

- Vamos começar do início, sim? - ela se senta na poltrona em frente a cama. - O que aconteceu ontem a noite.

- Eu ouvi a voz dele. Eu o vi. - fecho os olhos para clarear os pensamentos. E conto a ela o que Bruno fez a Carol, o que ele fez a mim. - Eu o odeio, odeio como eu nunca Odiei ninguém, na mesma proporção em que eu o amava.

E então eu percebo e admito pela primeira vez em vinte e cinco anos que, a morte de Bruno foi a melhor coisa que aconteceu com a nossa família. Se ele estivesse vivo teria destruído todos nós, e então eu me odeio também, por ter deixado ele me destruir mesmo depois de morto.

~•~

O mundo tem outra cor visto por trás da lente da minha velha câmera analógica. Preto e Branco. Sombra e luz. Os pacientes me deixam tirar fotos deles, alguns até gostam muito e me pedem várias fotos. E eu tiro.

Já fazem doze dias que estou aqui na clínica. Doze dias que Carol disse que não me quer. Doze dias que a última imagem que tenho dela é ao longe sumindo enquanto vai embora.

Fotografo uma joaninha que passeia pelo banco de madeira, suas patinhas curtas se movendo tão rápido, os pontinhos pretos em cima de suas asas. Tão linda.

- Natália, vamos conversar? - Dra. Ligia se aproxima de mim, ergo minha câmera e bato uma foto dela. - Depois vou querer ver essa foto aí.

- Tá bom, vou pedir a Pedro para revelar o filme quando ele vier.

- Você já acabou mais um? - ela senta no balcão.

- Eu já acabei bem uns seis. - sorrio de canto. - Voltar a fotografar foi uma redescoberta para mim. Obrigada por isso.

- O mérito é seu Natália, você é muito talentosa.

- Obrigada. Eu nem sabia que ainda conseguia, mas eu consigo. - é inevitável sorrir quando estou com minha câmera na mão. - Acho que quero ir para casa. Não há mais nada a descobrir aqui.

- Então vá. - ela sorri também. - Natália, tem uma coisa que eu quero te dizer.

- Vá em frente, diga.

De Volta ao AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora