CAPÍTULO DEZESSETE

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Natália

A luz vermelha do meu estúdio, deixa as coisas com um ar sombrio, mas ao mesmo tempo relaxante. Uma mistura de soluções alcalinas marcam o papel com a imagem capturada pelo filme.

As fotos penduradas no varal são as últimas que tirei, são a representação da minha visão da cidade do Rio, fragmentos da vida de pessoas comuns. Minha exposição está com a data marcada para estrear em duas semanas. Estou um tanto quanto atrasada com essas fotos, preciso mandá-las o mais rápido possível para a galeria.

- Irmã, eu posso entrar? - Pedro bate a porta. - Juro que a luz está apagada e não vou estragar nada.

- Pode entrar, eu já acabei. - a cabeça de Pedro aparece na fresta da porta, a cor avermelhada o deixando com uma expressão estranha.

- Pode acender as luzes. - ele prontamente bate no interruptor e a aura do ambiente muda.

- Você é tão talentosa, a exposição vai ser um sucesso. - ele diz olhando as imagens em preto e branco.

- Obrigada, estou ansiosa. Você acha que eu venderei alguma?

- Nem que eu mesmo tenha que comprar todas elas. - ele sorri, mas não sei se isso é realmente um elogio.

- Engraçadinho.

- Helena está lá embaixo, disse que veio ver você.

- O que será que ela quer? - dou uma última olhada em minhas fotografias penduradas e saio atrás de Pedro, descendo as escadas até a sala.

- O que trás Helena Aranha a minha humilde residência? - digo olhando para ela em seu elegante blazer terracota.

- Humilde residência? Cabem seis famílias aqui.

- Você não respondeu.

- Vim te levar para almoçar. - ela diz com seu ar de superioridade.

- Assim do nada?

- E tem outro jeito com você Natália? Se eu ligasse antes, você não iria atender.

- Isto costuma ser um sinal.

- Vamos Natália.

- Quem disse que estou disponível para almoçar com você?

- Eu disse. - ela me encara. Mantenho o olhar preso ao dela por um tempo, mas acabo desistindo.

- Me dê cinco minutos para trocar de roupa e pegar minha bolsa.

- Se apresse. - ela diz sentando no sofá.

- Da pra acreditar nela? - sussurro quando passo por Pedro, subindo as escadas novamente.

~•~

Helena escolheu um restaurante bem no estilo dos Aranha para um almoço não solicitado e em cima da hora.

- Você precisava escolher um local tão pomposo?

- A comida daqui é ótima, e eu não frequento lugares medíocres. - ela leva a taça de água a boca.

- Você é tão metida, eu não sei onde eu estava com a cabeça quando me tornei sua amiga.

- Eu me lembro bem onde você andou com a cabeça naqueles tempos Natália. - ela sorri de um jeito malicioso.

- Aquilo foi um surto Helena, um momento, e se eu bem me lembro você preferiu o Bruno.

- Aquilo sim foi um momento de surto. Mas me resultou em Marcos, então eu não me arrependo.

- Pelo menos algo bom.

Estar com Helena é confortável, ela é esnobe e tem um humor muito peculiar, parecido com o meu, tivemos um breve caso no fim da adolescência, que resultou em uma amizade um tanto estranha, mas ainda agradável.

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