CAPÍTULO ONZE

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Carol

- Era você. Aquela noite no apartamento. Era você.

- O que? Eu não entendi. - digo voltando da cozinha onde havia ido levar uma caixa.

Ela estava olhando minhas fotos antigas, tinha uma na mão, e olhava para ela fixamente. Olho por cima de seu ombro qual foto ela está olhando.

- Era você há 25 anos, a garota que... a garota que teve a overdose. - ela estava me encarando agora, os olhos me examinando, a expressão vazia, os lábios que antes sorriam a cada fase da minha vida desvendada através das fotografias, estavam contraídos quase em uma linha reta.

- Como você... - começo mas minha voz não sai, minha boca esta tão seca. - Como você sabe?

- Então era mesmo você? - ela insiste a sua voz está falando também.

- Como você sabe? - pergunto novamente.

Sinto minhas pernas enfraquecerem sobre meu corpo, e sento na ponta do sofá, aquela pontada de angústia em meu peito, o medo, o pânico e a escuridão que me sufoca crescendo a minha volta, tomando o ar e a luz do dia, tento a empurrar para baixo, afastar para manter minha mente sã, estou usando toda a minha força.

- Eu estava lá. - ela se mexe desconfortável, passa as mãos pelos cabelos. - Eu estava lá Carolina. Eu te reconheci pela foto. - ela caminha para os lados.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto sem controle, meu peito apertado e meu coração pesando uma tonelada, a dor física das lembranças chegando em ondas, eu não queria que ela soubesse desse jeito, eu não queria que ela soubesse de jeito nenhum.

- Porque você não me contou? - Seus lindos olhos castanhos me fitam profundamente, desesperados.

- Contar o que? Que o irmão que você idolatra é um babaca completo.

- Não fala assim do meu irmão. - ela se aproxima e eu recuo um passo. - Bruno tinha os seus problemas sim, mas ele só...

- Só o que Natália? - Digo em um tom mais alto, sentindo meu sangue começar a ferver.

- Não fale assim do meu irmão, já pedi. Eu não admito que você fala assim do Bruno.

Ela está furiosa e eu estou em pedaços.

- O Bruno não era uma boa pessoa Natália. - digo sentindo um nó se formar em minha garganta.

- Quebrar o seu coração não faz dele uma má pessoa Carol. Ele só era um pouco imaturo.

- Um pouco imaturo? Um pouco imaturo? - Agora sou eu quem dá um passo em direção a ela. - Bruno era um maldito, um desgraçado, mal caráter, aspirante a marginal. - praticamente grito, Natália levanta a mão.  - Bate, pode bater, Bruno bateu.

- Eu não, eu não ia. - Ela abaixa a mão. - Eu vou pra casa, é isso, eu vou pra casa agora. E a gente pode conversar outra hora. - ela gesticula com as mãos enquanto fala muito rápido.

Ela põe a bolsa marrom no ombro e tropeça em algumas caixas. - Você podia ter me contado sabe? Eu não ligaria de você ter pegado meu irmão, ou de você ser irresponsável na juventude. - ela diz parando antes de abrir a porta. - Mas mentir pra mim? Você me disse uma vez que não o conhecia.

- Eu não tinha como contar Natália.

- Então me conta agora. - ela volta, solta a bolsa em cima do sofá e senta. - Vamos lá me conte a verdade, do começo.

Eu não quero, não quero voltar naquela noite, não quero sentir aquela dor outra vez, reviver o pior momento de toda a minha vida, a culpa, o terror, os meses olhando por cima do ombro toda vez que saia de casa. A pergunta incessante em minha mente: o que teria acontecido se eles não tivessem sido interrompidos. As lembranças são dolorosas demais. Fecho os olhos e volto lá outra vez.

De Volta ao AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora