XXXV

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POV Any narrando

Acordo em um quarto totalmente sozinha

Era um quarto branco, e pelo cheiro notei logo que é um hospital

Tento me sentar, mas meus movimentos da mão estão limitados por uns fios ligados à meus braços

Sinto uma enorme vontade de arrancar aquilo sem me importar com a dor, mas paro ao ouvir a porta ser aberta

Minha mãe passa pela porta e olha pra mim, começa a chorar assim que me vê acordada

– Meu deus, Ela acordou! – minha mãe grita pra fora do quarto

Uma enfermeira entra em seguida e me examina

Minha boca está seca e sinto um cansaço enorme

Por mais q a enfermeira me fizesse mil perguntas, eu ignorei todas

Não sei oque me deu, só me sinto estranha

– eu vou sair pra vocês poderem conversar... Dentro de 15 minutos volto – a enfermeira avisa

Minha mãe assentiu agradecida e a enfermeira saiu

Minha mãe se abaixou a minha altura e me abraçou, por mais que ela estava sendo cuidadosa pra não colocar todo o peso de seu corpo em mim, eu contorci o rosto. Aquilo estava me incomodando

Nunca achei que recusaria um abraço da minha mãe, mas hoje eu a empurrei levemente

Ela me olhou com o olhar carregado de culpa, e transbordou em lágrimas novamente

Eu permanecia seria, sem uma expressão descritível

Minha mãe se sentou na cadeira do lado de mim e tentou se acalmar

– você deve estar me odiando, eu sei... Eu não te culpo... Eu só... Quero que você me entenda..

Eu não disse nada. Só estiquei minha mão pra pegar o copo a minha esquerda

Bebo a água desesperada sentindo ela abrir minha garganta

– eu levei seus avós pra lá por q...

– aquelas pessoas não são meus avós. Carina – respondi e notei minha voz muito rouca

Minha mãe estranhou minha frieza, nunca a havia chamado pelo primeiro nome

– eu sei... Desculpa. Eu levei Arnold e Fátima pra morar com a gente porque eles me ameaçaram! Eles eram os reais donos da casa de Paul, foi uma oferta quando eu engravidei do Gael, eles haviam passado a casa em nome do Paul com documentos visivelmente legais, desde que ele cuidasse das despesas da casa não era problema pro Paul, mas na época ele não era financeiramente estável como hoje. Ele aceitou logo, mas óbvio que seus av.. Quer dizer, que o Arnold estava tramando alguma. Ele deu-nos a casa com documentos falsos, e a casa ainda permanece em seu nome. Eles perderam a sua casa lá em Gauting, e sabiam dessa casa, vieram e ameaçaram nos despejar. Eu sei que essa casa é a única coisa que faz o Paul ficar aqui, se Paul soubesse disso iria comprar outra casa em outro estado, ele tem condições suficientes para levar a Elisa e o Gael de mim, em tribunal ele teria razão e não teria porquê viver comigo. Eu não tenho dinheiro para um aluguel, imagina para uma casa? Eu não poderia permitir perder tudo quanto eu tenho...

– mas mesmo sabendo que a Elisa corria perigo perto de Arnold?! Mesmo sabendo que a vida de sua filha corria perigo vc escolheu bens materiais  ?! Você e tão podre quanto eles – soltei de uma vez

Essa dor é angustiante... Não consigo imaginar Elisa passar por isso

– Any eu sei! Eu sou um monstro... Mas eles me juraram que mudaram. E por conta das condições eu precisei impor regras, não tive escolha. Ele jamais tocaria na Elisa.. Pelo menos eu achava. E a Fátima começou a cuidar de mim como uma mãe novamente... Eu estava me sentindo bem...

– isso é manipulação!!! Você sabia que tudo passava de truques e mentiras! – a cada frase dela, mais raiva sinto

– eu... Eu... – ela chorava intensamente


– você é um monstro – eu digo por fim, virando meu rosto pra outro lado do quarto

– Any por favor... Por favor minha filha não me trate assim... Eu não deixaria nada acontecer com meus filhos... N-não mais... Depois do que aconteceu contigo eu jurei pra mim mesma que protegeria eles com garras e unhas, ainda consigo ver Arnold em você.. Você é tão parecida com ele fisicamente e eu me culpo tanto.. Na noite que fui estuprada, ou seja, numa das noites que ele fez aquilo comigo, que eu engravidei de vc, eu me sentia...

– por favor não fales. – respiro fundo – você sempre foi fraca, e permitiu que qualquer coisa acontecesse com eles assim que deixou os seus pais voltarem a viver com vc. – meu coração doía

– t-tem razão... – minha mãe chorava de uma maneira tão impactante – deveria ter te protegido... Eu entendo que você me odeie... Sou uma inútil..

Viro meu rosto para encarar ela e vejo que talvez ela também seja alguém quebrada, assim como eu

Talvez ela só quisesse esquecer o passado e seguir em frente. Só quisesse ter amor parental...

Ela tremia de forma que eu sentia meu corpo entrar em colapso sentimental

–Eu não queria... – tento falar mas ela me interrompe

– não... Você tem razão... Eu não sei porquê não contei para Paul...  Mais valia meus filhos longe de mim e em segurança, eu sou um monstro..

Sem notar, uma lágrima solitária desce pelo meu Rosto

Eu vejo a mim quando olho pra minha mãe... Alguém otimista que procura o bom lado das coisas mesmo que não exista

Alguém que se apega a pequenos gestos de amor só pra não se sentir só

Alguém quebrado.

– eu deveria ter me redimido com você antes... Eu deveria ter me arriscado mas não fiz sabe porquê? Porque sou covarde Any... Eu via oque meu pai fazia com vc... Eu só não escolhi acabar com aquilo por... Medo. Eu mereço morrer assim como Arnold

Eu me levanto e abraço minha mãe sentido meu corpo fraco e meu coração falhou

Os cabos ligados em meus braços faziam força para eu voltar a posição que estava, era possível sentir eles rasgando meus braços. Mas eu não me importo

– mãe me desculpe por favor... Eu não sei porquê estou falando com você dessa forma... Eu acho que por ter passado por isso novamente, me tornei amarga... Me perdoa por favor!!! – eu chorava como ela

– não tens culpa... Eu mereço – ela dizia convecida de que aquilo pelo oque passei fosse sua culpa

– nunca foi sua culpa sabia?... A culpa sempre foi e será de Arnold. Ele está a palmos da terra agora e não podemos nos deixar abalar pelo o que o morto fez em vida mamãe... Eu te amo muito e te perdôo – eu falo e vejo me abraçar forte

– eu te amo – ela diz soluçando

Eu sentia sangue escorrer pelos meus braços, as agulhas enfiadas em mim estavam machucando

Mas eu não sairia desse abraço

– MEUS DEUS! – a enfermeira entra no quarto em choque pela situação

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Acho que a senhora merece nosso perdão... Não ?

Esse cap foi mesmo para a reconstrução de laços... Elas precisam uma da outra😭✊

Desculpa a demora, sou o Batman

A Mente De AnyOnde histórias criam vida. Descubra agora