XXXVI

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As enfermeiras já me fizeram curativos nos braços pelos ferimentos, levei alguns pontos

– precisa tomar mais cuidado... – uma das enfermeiras diz

Eu olhei pra ela com sarcasmo mas não falei nada, é óbvio né

– vai ficar de repouso durante 15 dias em casa... Depois disso você volta aqui pra sua última análise – ela diz novamente

– então não preciso ficar aqui mais? Que bom! – falo me levantando alegre

Já estava sem aqueles fios em mim

Assim que me levanto, sinto uma forte tontura que me obriga a sentar

– oh... Calma Anaya... Você está aqui a quatro dias, estava quase entrando num coma profundo. Não sei como acordou se não estava previsto pra tão já pela quantidade de sangue que perdeu... Mas a transfusão deu certo.

Estou desmaiada a 4 dias diretos?!

Devo estar fraca por não ter comido

– transfusão? Quem me doou sangue? – eu pergunto

– ah eu não sei se devo dizer... Mas logo logo saberás – a enfermeira se apercebe que falou demais e tenta sair do quarto envergonhada

– espere! Não viu um homem alto com cabelos negros? – eu pergunto de Cristian

– um cara malhado? Eu vi, ele não saiu de seu lado desde que você deu entrada aqui no hospital, ele e sua mãe – ela fala

Pela primeira vez acordada eu dei um sorriso sincero

– onde ele está? – pergunto

– deve estar a vir, hoje ele disse que precisava sair... Mas virá – ela dá um sorriso leve me assegurando

Onde será que ele foi?

•••

Já terminei de comer. Foi uma bela sopa de batata e estou quase satisfeita, só que sinto que faltava sal, típico da comida de minha mãe

Me levanto para ir ao banheiro, entro nele e vejo meu estado, meu cabelo todo bagunçado, lábios rachados de tão desidratada que estava, olhos vermelhos e muitos hematomas no rosto

Estou horrivelmente deplorável

Ele me deixou assim

Retiro minha roupa, que é aquelas roupas de hospital e noto mais hematomas em meu corpo.

Faço minha higiene saindo do banheiro cabisbaixa

Eu achei que já havia superado tudo isso... Achei q Arnold já não me assustaria.
Mas me enganei profundamente, ele ainda me causava as mesmas sensações, a angústia não chegou de desaparecer... Só se mascarou com a felicidade desses últimos dias

Assim que saio do banheiro, sinto um olhar em mim, levanto o olhar notando Cristian

Ele me olhava com um misto de preocupação e felicidade no olhar

Ele estava com a aparência cansada, seus olhos inchados e grandes olheiras a volta dos mesmos

Sua barba mais desarrumada que o costume, mas nem isso o fazia ficar feio

Sem pensar muito  corri até ele o abraçando

Ele me abraça de volta e o sinto me apertar com delicadeza, ele segurava meu corpo como se eu fosse de porcelana e acabasse por partir ali mesmo

Sua mão subiu até meu cabelo fazendo um carinho leve lá, mas quando sua mão se moveu um pouco eu senti um desconforto ali mas não fiz questão de me afastar

Ele parecia não querer me soltar, como se quando me soltasse eu evaporasse

Aquele abraço me fez tão bem...

Eu nem notei quando as lágrimas caíram brutalmente de meus olhos

Eu afundava meu rosto em seu pescoço querendo mais aproximação
Seu cheiro é forte e muito viciante pra mim

Parecendo relutante, ele se afastou levemente para me encarar

– Naya... Como você está?? Eu... Eu achei que fosse te perder... Eu... – sua voz estava trêmula.

Já vi Cristian de todo o jeito menos assim

Havia medo em seu olhar, que a maioria das vezes transmitia consolo e segurança

– eu estou bem... Eu estou com você de novo – eu falo sorrindo em meio as lágrimas

Cristian limpou minhas lágrimas com cuidado analisando meu rosto parecendo não crer q eu estava à sua frente

– foram 4 dias... Eu não durmo desde que... Eu senti tanto medo de te perder... – ele diz muito abalado

– o importante é que já estou bem... – eu seguro o seu rosto

Voltamos a nos abraçar

•••

Estou com Cristian ainda e está me atualizando sobre tudo

Arnold está morto, sem muitas cerimônias
É aliviador dizer isso

Paul é investigador criminal, e está fazendo de tudo para não fazer este caso chegar a polícia, ele já sabe da história toda

Fátima não foi vista mais depois daquele dia

E todas as pessoas que viram oque aconteceu, tiveram conhecimento do porquê. O bom é que por enquanto ninguém me culpou

Parece que tudo está bem, mas nem tudo é um mar de rosas

Paul em contrapartida, está muito chateado por minha mãe ter escondido essa história dele, vai se mudar pra Estados Unidos, propriamente para nova Jersey com as crianças... Minha mãe está devastada e não tem oque fazer para impedir isto

– Any... Eu quero saber como você se sente com tudo isso que tem acontecido..?

– não sei explicar bem... Não me sinto mal. E nem bem também... – eu sou sincera

Tudo oque se passou realmente me afetou no momento... Mas assim que eu atirei nele senti tudo ir com os olhos se esvaziando de vida de Arnold

Ele levou tudo com ele.

Não sei se é no bom ou mau sentido

POV Cristian narrando

Preciso ter a certeza de que Any está bem...

Não quero tirar conclusões precipitadas

Quando ela me disse que não se sente bem e nem mal, me deu um calafrio

– vc está sentindo apatia? – pergunto tentando não ser invasivo

– sim! Acho que é isso! – ela diz

Por um momento tudo parece parar
Eu sei a sensação de sentir isso, sentir que nada te causa emoção nenhuma. Sentir que está apenas respirando e existindo
Sentir que nada se sente...

Parece ser inofensivo, mas mata qualquer um por dentro

Tenho medo que aconteça com Any também

Eu lembro que quando ainda vivia com meu pai, sentia que só existia. Não tinha motivo pra estar vivo, mas só estava

Eu só estava sendo um observador, como se eu fosse um figurante na minha própria história

Mas tudo mudou naquela noite em que fui expulso de casa

Quando entrei no exército, eu ainda sentia que não tinha mais motivos de estar vivo.
Mas o exército me salvou... Eu só não me matei ao descobrir meu desejo pelo sangue, pela vingança

Mas agora que já cumpri minha vingança, não sei oque ainda me faz querer viver.. Mas tem algo

Não contei a história toda pra Any por medo dela achar que eu posso voltar a ser oque era. Eu nunca poderei dizer que quem matou minha irmã fui eu.

(Não revisei)

A Mente De AnyOnde histórias criam vida. Descubra agora