𝑫𝒂𝒚𝒍𝒊𝒈𝒉𝒕 - 𝑱𝑱 𝑴𝒂𝒚𝒃𝒂𝒏𝒌

↪ 𝐏𝐑𝐎𝐋𝐎𝐆𝐎

.

𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟

⋆˙𓇼๋ ࣭ ⭑

☽

Uma vez alguém me disse que mentiras são como um trem com passageiros dentro, que não sabem que o piloto se jogou da cabine de controle precipício abaixo e levou consigo o volante. Para elas, o trem apenas estacionária na próxima estação e a suas vidas continuariam.

Mas assim como na mentira, o veículo sai dos trilhos e desaba em um caminho de pedras, entre uma mata tão cheia de vida e pouco explorada, deixando somente corpos sem vida pelo último lugar tão mágico em que trilhou.

Eu não entendia isso, até eu ser quem pulou o precipício.

Assistir aquelas íris azuis tão intensas que me puxavam para outra dimensão, aquelas pupilas dilatadas tão cheias de vigor e segredos sem vida foi como perder o ar.

Tão tão frias como um inverno congelante que chega a queimar as minhas bochechas.

Foi como te ver morto.

O mais engraçado ali era que você estava tão vivo na minha frente. Ou ao menos uma parte.

.

⋆˙𓇼๋ ࣭ ⭑

Nunca na vida havia passado pela cabeça de Scarlet que mesmo que sua mãe tivesse sido uma bióloga marinha invicta ela teria de viver na praia. Tão longe de casa, tão perto da vida. Com tantas aventuras e devaneios.
O mais irônico de tudo é que o que justamente a levou a praia foi a ausência da própria mãe. O corpo vazio na sala de hospital, os olhos sem cor, os fios ruivos espalhados pelo chão e as unhas em um esmalte descascado no tom azul petróleo. Essas imagens ainda assombravam a garota de apenas quatorze anos quando chegara a Outer Banks, um lugar conhecido como o paraíso na Terra. Uma ilha pequena, com pescadores e surfistas, restaurantes e festas ilegais, mas também com empresários e casas gigantes, onde a realidade da riqueza reinava naquele lado. O típico lugar para um recomeço. Com divisões de classes sociais e uma infestação de turistas sonhadores.

Pensar que seu pai teria desistido da vida de contabilidade e grandes parcerias dignas de muito dinheiro para agora, empresariar o próprio restaurante em meio a tantos ocorridos a fazia se sentir mal. Ainda mais pelo lugar em que estavam já que para Scarlet, não interessava a onde fossem, as memórias da sua mãe ainda estariam vivas como fogo queimando sua pele na mente da garota. Para ela, era impossível esquecer Elizabeth Riddle, tão impossível como a remoção das sardas em seu rosto.

A característica que mais odiava em si, justamente por se lembrar.

Seu único abrigo seguro, Sarah Cameron. A alma gêmea, a amiga que estaria ali para tudo e mais um pouco. Por grande sorte ou coincidência do destino, os pais das garotas se conheciam e, as viagens a OBX na infância as aproximaram criando um vínculo único entre as duas, as fazendo desvendar cada mínimo detalhe daquele lado rico da ilha. Como ver os surfistas pegando as melhores ondas, festas do pijama no barco de Ward, a primeira vez das garotas ingerindo bebidas alcoólicas, ver as tartarugas nascendo, pôr do sol na praia, a primeira festa na fogueira que fugiram só para ficarem até mais tarde e a primeira vez em que Sarah mencionou suas amizades com o lado Cut da ilha, onde quando conheceu John B se apaixonou perdidamente pelo garoto enquanto ainda namorava com Topper, um kook mesquinho do lado rico do local que as garotas por algum motivo o almejavam. Scarlet não entendia muito bem o que ela fazia tanto do outro lado da cidade com uns amigos tão distintos de si mas nunca disse nada, afinal sua curiosidade pelo lado pogue da ilha também era grande mas jamais diria isso em voz alta pela complexidade de onde vinha e quem sabe o medo de não ser bem recebida por eles, além de Rafe, que jamais a deixaria pisar naquele lado.