Prólogo

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Meu corpo todo se arrepiou quando finalmente coloquei os olhos nele. O esconderijo estava escuro, apenas a luz fraca da lua conseguia entrar pelas frestas das paredes, revelando sua silhueta. Seu rosto, meio sombreado, mostrava cicatrizes e preocupações. Seus olhos, que costumavam ser tão expressivos, agora estavam escondidos atrás de uma máscara de frieza. Ao seu lado, uma figura indistinta murmurava palavras de cautela, pronta para protegê-lo a todo custo como um guardião. Quando nossos olhares se encontraram, foi como se todo o peso do passado viesse à tona. O silêncio que se instalou entre nós estava carregado, cheio de anos de separação e segredos não revelados.

— Você... você está aqui, Sasuke? — Minha voz saiu trêmula, quase como um sussurro.

Ele fez um gesto para o ninja de cabelos alaranjados que estava ao seu lado sair. Então, se aproximou vagarosamente, atravessando a pequena distância que nos separava. Seus olhos, fixos nos meus, pareciam buscar respostas para perguntas que ele não conseguia formular. Sua respiração irregular roçou meu rosto, enviando arrepios pela minha espinha.

Instintivamente, fechei os olhos, absorvendo cada sensação que sua presença trazia.

Eu seria obrigada a matá-lo se algo me fizesse? Tentei me lembrar dos ensinamentos de Kakashi Sensei, o que ele faria no meu lugar?

Eu já podia imaginar a resposta para a pergunta que eu mesma criei e com isso,  pela primeira vez em muito tempo, meus olhos se encheram de lágrimas.

Apertei os olhos, pensativa, e as afirmações que eu teria que tomar uma atitude começavam ecoar em minha mente. Naruto tinha me dito uma vez que entraria em uma luta contra Sasuke até que ele decidisse abandonar essa ideia maluca de vingança, mas que traria ele de volta custe o que custar. Mas eu não era como Naruto, não consigo nem ao menos encarar seus olhos, ainda assim eu não estava disposta a lutar, e mesmo que estivesse, tinha convicção que poderia não sair viva dali.

Abaixei minha cabeça. Quando voltei a erguê-la, mantive meus olhos fechados, e mesmo trêmula comecei a falar:

— Esperei por esse momento a mais de quatro anos, todos os dias eu pensei como isso aconteceria. Se você tivesse pelo menos alguma dignidade —Cruzei os braços. — Não me olharia dessa forma e começaria a falar.

Meu corpo reagiu automaticamente quando vi uma kunai ser cravada na parede, quase atingindo meu rosto. O som metálico ecoou na sala escura. Antes que eu pudesse reagir, ele me empurrou com força, fazendo-me bater na parede do outro lado. O impacto me deixou tensa, tentando recuperar o fôlego. Seu rosto mostrava que ele estava nervoso. Seus olhos brilhavam com raiva fixos nos meus, enviando um arrepio por todo meu corpo.

Antes que eu pudesse sequer formar um pensamento, um intenso brilho irrompeu de uma de suas mãos, como se fossem raios concentrados.

— Chi-dori... — minha voz saiu em um sussurro trêmulo ao perceber que ele estava prestes a desferir aquele golpe contra mim.

— SASUKEEE





(...)

Senti meu corpo balançar suavemente, como se estivesse saindo de um sonho assustador, e estava. Uma voz familiar me chamou, me puxando de volta para a realidade. Forcei meus olhos para abrir, lutando contra o sono e o medo do pesadelo. A luz suave do sol da manhã começou a entrar pela janela, iluminando meu rosto. O balançar persistente continuou, me ajudando a acordar completamente.

— Ei Sakura. Acorde!

— Já acordei Naruto... — Abri os olhos e me virei para o lado, encontrando o conforto da parede, enquanto ele permanecia ali, me observando com um olhar curioso, como se estivesse ansioso por algo.

— Não podemos enrolar na cama hoje, lembra? — Naruto se inclinou sobre mim para me ver enquanto falava.

— Só preciso de cinco minutos — Me encolhi sobre a coberta fina que me cobria, lembrando do pesadelo, outro, naquela semana já tinha perdido as contas de quantos seria.

— Aconteceu de novo né... — Naruto resmungou.

— Estou bem. — Me virei dando-lhe um sorriso falso— Só preciso de alguns minutos.

— Tá bom Sakura, vou deixá-la, mas não demore. Kakashi sensei já está nos esperando.

— Então hoje ele vai sentir na pele como é frustrante ficar esperando... — Disse em tom de deboche enquanto Naruto passava pela porta, se retirando.

Me permiti chorar assim que ele saiu. Talvez uma parte do meu coração devesse se sentir reconfortada por saber que era apenas mais um pesadelo. Mas tudo o que eu conseguia sentir era saudade. Mesmo que muitos dos meus sonhos fossem ruins, todos eles ainda traziam ele: sua imagem, sua voz. E toda vez que eu acordava, era como se o sofrimento aumentasse ainda mais.

Sequei as lágrimas na tentativa de recuperar o raciocínio e parar de pensar. Me levantei ainda sem ânimo buscando uma maneira de mascarar toda tristeza que havia em mim.

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