Capitulo: XVII

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— O que você está fazendo?

A voz rouca de Sasuke penetrou na minha mente enquanto eu recolhia algumas roupas, dobrando-as cuidadosamente para levar de volta ao meu quarto. Dois meses haviam se passado desde o incidente, e agora eu finalmente me sentia completamente recuperada. Era o momento certo para dar a Sasuke um pouco de privacidade, já que ele me acompanhou o tempo todo durante a recuperação. Não vou mentir, eu já tinha me acostumado não só ao quarto, mas também à sua presença constante, especialmente à noite, quando ele estava ali, mesmo que silencioso, ao meu lado.

— Eu disse que voltaria para o meu quarto, lembra? — respondi, lançando-lhe um olhar de relance.

— Você pode ficar mais um pouco, se quiser. — Ele se encostou na parede, cruzando os braços e me observando com aquele olhar enigmático de sempre.

— Já te dei trabalho demais. Além disso, estou bem melhor agora.

Ele não insistiu. Ficou em silêncio, me observando com aquele olhar distante que sempre me deixava um pouco desconcertada.

Dobrei cada peça de roupa com cuidado, formando um pequeno montinho que acomodei no colo. A tarefa, embora simples, me ajudava a manter a mente ocupada, afastando os pensamentos que, inevitavelmente, começavam a me assombrar. Quando passei perto de Sasuke, ele ainda permanecia encostado na parede, imóvel, com os braços cruzados e a expressão impassível, como uma estátua. Seu rosto estava totalmente fechado, mas eu sabia que por trás daqueles olhos havia algo mais. Algo que ele nunca deixava transparecer.

Engoli em seco e o ignorei, seguindo em direção à porta. Ao entrar no meu quarto, fui tomada por uma sensação estranha... um vazio que se instalou no peito, como se algo importante tivesse sido deixado para trás. Por um momento, fiquei ali, parada no meio do cômodo, tentando entender o que era aquela sensação. Eu havia passado tanto tempo no quarto de Sasuke, ao lado dele, que agora, voltar à minha própria rotina parecia... solitário.

Mas balancei a cabeça, afastando esses pensamentos tolos. Não importava o quanto os primeiros dias seriam difíceis, era o certo a se fazer. Eu precisava me distanciar, voltar à normalidade. Não podia deixar que aquela proximidade entre nós criasse algo que nunca deveria existir. Respirei fundo e ajeitei as roupas no armário, tentando ignorar a pequena pontada de tristeza que insistia em me incomodar.

Com um suspiro, voltei ao quarto de Sasuke para pegar o restante das minhas roupas. Ao abrir a porta, percebi que ele já não estava mais encostado na parede. Agora, estava deitado na cama, com as pernas pendendo para fora e os braços cruzados atrás da cabeça, num gesto que parecia tão relaxado quanto indiferente. Seus olhos estavam fechados, o rosto sereno, mas algo me dizia que ele estava perdido em pensamentos, talvez tão inquietos quanto os meus.

Fiquei ali, parada por alguns instantes, relutante em quebrar aquele silêncio. Eu quis dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras morreram na minha garganta. Então, voltei a dobrar as roupas em silêncio, com cuidado para não incomodá-lo, tentando ignorar o tumulto de emoções que ele despertava em mim.

No meio das roupas, estava a camiseta que Sasuke havia me emprestado no primeiro banho que ele me deu. Ao vê-la, um turbilhão de lembranças me invadiu. Dobrei-a devagar e a coloquei de lado, pensando que ele a guardaria de volta entre suas coisas. Porém, antes que eu pudesse afastá-la completamente, sua voz baixa quebrou o silêncio:

— Pode ficar com ela.

Levantei o olhar surpresa e encontrei seus olhos, que agora me encaravam intensamente.

Senti meus dedos tremerem levemente ao pegar a camiseta novamente. Uma estranha e deliciosa sensação tomou conta de mim, como se borboletas revoluteassem no meu estômago. Eu já havia pensado em pedir para que ele me deixasse ficar com a camiseta, mas a timidez sempre me impediu de falar. Talvez ele tivesse percebido que aquela peça já se tornara meu pijama favorito. Ou talvez, de alguma forma, ele soubesse o quanto cada pequeno gesto dele significava para mim.

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