Capítulo 1

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Desde que me mudei da França para Nova York, minha vida tem mudado muito. Terminei o ensino médio ano passado e agora me encontro em uma completa zona mental. Estou cansada de todos sempre fazendo as mesmas perguntas chatas que me perseguem até nos meus malditos sonhos, ou melhor, pesadelos. "Está na faculdade, Giselle? Qual faculdade você pretende fazer, Giselle? Já se decidiu, Giselle?" Eu não sei, caramba! Ultimamente é só o que me perguntam e eu não aguento mais esses curiosos que só querem julgar a minha vida achando que tem o direito de opinar sobre algo. Me sinto pressionada na maioria das vezes, parece que eu parei no tempo e não sei o que fazer da minha vida. Talvez isso realmente tenha acontecido.

Meus pais são pessoas maravilhosas, os únicos que não me julgam com isso. Eles sempre me dizem que é questão de tempo até que eu descubra o que realmente me representa.

A querida Sophie Roy, minha mãe, tem um grande salão de beleza onde ela é a dona do próprio império. Depois de muito esforço e dedicação, ela finalmente conseguiu. Louis Roy, um CEO muito prendado, ocupado e meu pai. Sou filha única e agradeço muito pelos pais que tenho, mesmo que eles sempre estejam ocupados na maior parte do tempo, sei que posso contar com eles quando precisar.

— Vamos nos atrasar, Elle! — a ruiva gritou pelo celular.

Amélia Jones, ruivinha esquentada, vulgo minha melhor amiga. Nos conhecemos no ensino médio. Ela me acolheu no primeiro dia e desde então vivemos grudadas. Lia é um raio de sol na minha vida, sem ela muitas coisas teriam sido piores. Ela é o tipo de amiga que vai te ouvir falar e chorar enquanto faz piadas para aliviar o clima. Não posso negar que as piadas mesmo sem graça, ajudam.

— Calma, já estou descendo. — desliguei o meu celular e desci as escadas indo em direção a porta. Combinamos de sair hoje pela tarde a uma nova pizzaria que abriu. De acordo com a ruivinha, eles têm uma pizza maravilhosa.

Segui pela calçada e avistei Lia do outro lado da rua acenando pra mim. Como se eu não estivesse vendo a cabeleira vermelha nada chamativa com os seus cachos fabulosos. Segui pela faixa até ela.

— Você é bem discreta. — falei a fazendo rir logo em seguida. — Vamos? Estou morrendo de fome, espero que a pizza seja boa mesmo.

— Óbvio que é! Não confia em minha palavra? — colocou a mão no peito fingindo falsa ofensa. — Oh, fui traída pela minha melhor amiga. Ela não confia em mim!

Soltei uma risada alta com a sua atuação péssima. Seguimos pela calçada em direção a pizzaria.

Faz 3 anos que estou aqui em Nova York e ainda não me acostumei com a movimentação. As pessoas correndo de um lado para o outro apressadas ou com um celular na orelha enquanto falam de forma agitada. Realmente é a cidade que não dorme. Pela noite parece até que é mais agitado. Não posso negar que a cidade tem suas maravilhas, fiquei fascinada quando cheguei aqui no primeiro dia e ainda sinto uma sensação semelhante quando ando pelas ruas.

Chegamos na pizzaria e logo percebo que é de se admirar. A decoração passa uma energia moderna e aconchegante. A porta de entrada junto com as janelas é de vidro dando acesso a vista do interior pelo lado de fora. A logo da pizzaria está bem desenhada com uma caligrafia bonita na janela da frente. Do lado de dentro as mesas têm espaço para quatro pessoas com cadeiras duplas e acolchoadas com um tecido preto e as mesas em um tom cinza. No teto tem luzes em lustres estilosos que penduram cristais.

— Chique, não? — a ruiva me olha com uma cara impressionada enquanto eu concordava com o seu comentário. — Já tinha vindo aqui, mas não consegui apreciar o suficiente.

Nos sentamos na mesa mais próxima dando vista para o lado de fora.

— E aí, vai querer o quê? — fala apontando com as sobrancelhas para o cardápio na minha frente.

Passo os olhos nas opções e acabo escolhendo uma de quatro queijos e calabresa. Lia pede o mesmo e escolhemos uma coca para acompanhar.

— Como anda a vida da minha querida amiga Giselle Roy? — ela olha pra mim com um sorriso no rosto.

— Bem complicada. — falo colocando a minha mão no queixo.

— Elle, você sabe que pode contar comigo, não sabe? — faço que sim com a cabeça. — Se precisar conversar eu vou estar aqui, certo? Não guarde certas coisas somente pra você, não faz bem.

Ela está certa. Eu tenho um grande problema com guardar tudo pra mim e achar que estou incomodando os outros compartilhando isso. Não consigo falar abertamente sobre certas coisas, sinto que estou sendo ingrata e mimada por reclamar. Eu tenho uma vida ótima. Meus pais sempre me deram tudo e mais um pouco, mas eu sinto um vazio lá no fundo, como se algo estivesse faltando. Algo que o dinheiro não consegue preencher. Sinto que minha vida está parada demais. Estar viva não é a mesma coisa que se sentir viva. Ultimamente só estou existindo. Sinto que preciso de adrenalina, mas tenho medo de sair da minha bolha que me sinto tão segura. Um dia eu vou precisar arrancar ela e seguir. Experimentar coisas que sempre quis, mas não tenho coragem. Eu preciso mudar isso. Eu vou mudar isso.

— Amélia... — falei insegura. — Se por acaso eu tentasse fazer coisas malucas do nada, você ainda me amaria?

— Vai depender da maluquice, mas saiba que é bem provável que eu que acabe sugerindo a maluquice. — solto uma risada sem conseguir me conter. — Mas sim, eu ainda te amaria. O que está querendo aprontar?

— Você é impossível. Não quero aprontar nada, foi só uma pergunta. — falei desviando o assunto.

Nosso pedido chega. O cheiro é maravilhoso, não me aguento e pego um pedaço o colocando na boca. Solto um gemido de satisfação.

— Eu falei que era boa. — diz Amélia convencida.

É maravilhosa! Eu estar com fome só ajuda mais nisso. Com certeza vou vir aqui mais vezes.

Seguimos comendo felizes e colocando as fofocas em dia. Não me considero alguém que se importa com a vidas das outras pessoas, mas quando se trata das informações que Amélia encontra, não posso negar que gosto de ficar por dentro de tudo. O que foi? Informações são sempre bem-vindas.

— Ficou sabendo que a polícia está atrás de um pessoal que anda fazendo rachas ilegais? Ouvi dizer que começou em Los Angeles e agora estão por aqui nas ruas de Nova York. — disse ela falando baixinho como se fosse uma informação confidencial.

— Eu amo carros. — falei com admiração. — Deve ser incrível assistir um racha de perto. Meu Instagram vive cheio de vídeos assim, queria poder ver de perto.

— Realmente é legal, mas não é bom inventar de assistir essas. — falou pensativa. — Dizem que são perigosas, fazem manobras arriscadas... como se não se importassem com o que pode vir depois.

A adrenalina. Sua aliada que pode te dá prazer, mas também te colocar em problemas que muitas vezes você não vai conseguir resolver. Dirigir um carro com certeza é uma adrenalina, principalmente se for para fazer coisas que não são permitidas pelas leis de trânsito.

Meus pensamentos são cortados pelo barulho de sirenes de viaturas. Olho para Amélia de forma assustada como se estivesse perguntando com os olhos o que diabos está acontecendo. Olho pela janela e só vejo um flash rápido passar seguido de um ronco inconfundível. Um Nissan GTR R-35 preto. Esse carro é um sonho de consumo. Logo atrás uma Ferrari vermelha passa tão rápido quanto. Três viaturas seguem em uma velocidade absurda, mas não o suficiente para alcançar.

Saio de dentro da pizzaria com uma Amélia curiosa logo atrás. Tento ver ao longe a corrida em alta velocidade que já não é mais possível ser vista aos meus olhos.

— Meu Deus, o que aconteceu aqui?

— Umas das coisas mais incríveis que você poderia desejar ver. — respondo com um sorriso de orelha a orelha.

Se com certeza um dia eu enlouquecer e dizer a mim mesma para seguir minha vontade. Estar dentro de uma dessas máquinas é onde você vai me encontrar.

Adrenalina é uma palavra fraca para descrever o que eu sentiria dentro de um desses.

ADRENALINAOnde histórias criam vida. Descubra agora