Capítulo 6

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Eu estou sonhando. Com certeza estou, é a única resposta plausível para tudo isso que está acontecendo.

Se antes eu achava que iria ser humilhada no racha, agora eu tinha a mais pura certeza. O universo me odeia. Poderia ser qualquer um, qualquer pessoa.

Paralisei no volante enquanto aqueles olhos ainda me observavam atentamente com uma intensidade que fazia meu corpo se aquecer por completo.

— De duas coisas, uma está acontecendo. — falou com uma voz rouca. — Ou você tem uma Ferrari igualzinha a do Jacks, ou ele foi um irresponsável como sempre e deixou alguém competir no lugar dele.

Pisquei atordoada sem conseguir falar uma mínima palavra. Minha pulsação corria rápido pelas veias. A loira já estava no meio dos carros com uma pistola pronta para atirar e dar início a corrida.

Um tiro alto foi ouvido, mas nenhum de nós saiu da largada. Tudo ficou em silêncio e eu só conseguia ouvir o som da minha respiração e do motor dos nossos carros. O que você está fazendo, Giselle? Você está dentro de uma Ferrari e pode finalmente fazer o que sempre quis. Pise no acelerador e mostre o que consegue fazer!

Segurei no freio de mão e pisei no acelerador, ouvindo a partida ser cortada.

Vamos fazer isso ser divertido.

Abaixei o freio de mão e acelerei enquanto o som de pneu arrastando na pista era ouvido.

Troquei a marcha e senti a adrenalina correndo nas veias enquanto acelerava cada vez mais.

Belvoir estava logo atrás de mim.

Mudei a marcha quando avistei a primeira curva se aproximando. Pisei no freio subitamente e depois puxei o freio de mão, girei o volante fazendo um drift que deixou um rastro de fumaça na pista.

Eu sempre quis fazer isso! A sensação é libertadora e incrível. Preciso fazer isso de novo.

Passei mais uma marcha e acelerei novamente. Belvoir estava do meu lado e eu conseguia ver o sorriso sacana no rosto dele enquanto tentava me ultrapassar. Passei na frente do seu carro e disparei. Eu conseguia sentir a pulsação alta nos meus ouvidos e a sensação do meu cabelo voando no vento. Podia ser apenas a dopamina que meu corpo estava produzindo, a adrenalina que eu sentia agora, mas eu nunca me senti tão viva.

Um sorriso dançava no meu rosto enquanto eu fazia mais uma curva. Eu estava brincando com o volante.

Belvoir estava novamente do meu lado me fazendo lembrar onde eu estava. Ele poderia muito bem estar fazendo o que Jacks fez mais cedo e logo depois me ultrapassar na chegada, mas não parecia que pretendia fazer isso. Ele estava se divertindo e em momento algum tentou me passar. Ele podia facilmente fazer isso se quisesse. Óbvio que ele podia. Tinha mais experiência que eu e dirigia como um louco, porém eu não estava diferente dele no momento. Talvez eu tivesse ficado maluca ao sentir esse novo sentimento. Foda-se, quem liga?

A última curva se aproximava e passei novamente deixando a marca dos pneus. O som era glorioso de se ouvir, só me dava mais vontade de pisar cada vez mais no acelerador.

A chegada se aproximava. Eu estava fora de mim, não me importava mais com nada ao meu redor. Pisei até o talo e passei a linha de chegada com Belvoir logo atrás.

Eu ganhei.

Parei o carro e deixei a minha testa pousar no volante enquanto um sorriso se alargava cada vez mais no meu rosto.

Puta que pariu, eu fiz isso.

Nunca me senti tão livre. Sempre tive uma vida onde precisava seguir regras e ficar na linha. Eu com certeza acabei de quebrar inúmeras regras e não sentia um pingo de arrependimento por isso.

Abri a porta do carro e fui recebida por gritos e assovios de comemoração. Vi Amélia pulando enquanto gritava o meu nome. Ela estava ao lado de Jacks que tinha um sorriso enorme no rosto.

Amélia veio em minha direção e me abraçou forte.

— Onde você aprendeu a fazer aquilo? — disse eufórica.

Olhei para o lado e vi olhos verdes brilhantes me encarando. Ele estava de braços cruzados enquanto apoiava o corpo ao lado de seu carro. Jacks foi em sua direção e deu um soco de leve em seu ombro, logo em seguida soltando uma gargalhada. Em momento algum seus olhos desviaram de mim.

— Acho que você chamou a atenção dele. — a ruiva piscou pra mim. — Como não chamaria? Você arrasou demais.

Soltei uma risada com o seu comentário, porém ela foi cortada quando percebi um moreno vindo em minha direção. Ele se aproximou de mim e pude ver de perto o seu rosto e como ele era alto, deveria ter consideráveis 1.85 de altura. Uns trinta centímetros mais alto que eu.

— Ele ladra, mas não morde. — disse Jacks ao seu lado de forma divertida. — Provavelmente ficou um pouco sentido por ter perdido um racha, mas juro que ele é simpático.

— Eu não dou a mínima. — disse ele de forma seca.

— Mentir é feio, Dante

Dante.

O nome dele é Dante.

— Já que meu caro amigo fez questão de me apresentar antes que eu fizesse isso por mim. — disse olhando para Jacks como se o repreendesse. — Acho que seria interessante saber o seu nome também. — ele me olhou com um sorrisinho de canto.

— Giselle. — respondi.

— Giselle. — disse como se estivesse testando o som que meu nome fazia. — Prazer em finalmente te conhecer, Giselle.

Finalmente? Ele se lembrava de mim?

— Beleza, já se conheceram. Sempre achei apresentações muito tediosas. — Jacks falou enquanto revirava os olhos.

— Você é muito impaciente, vai ganhar rugas mais cedo se continuar assim. — a ruiva ao meu lado debochou.

— Tenho certeza que continuaria um gostoso. — sorriu para ela.

Ela revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o sorrisinho que brincava em seu rosto.

— Convida elas, Dante. — cutucou o braço do amigo. — Eu mesmo convidaria, mas a casa é sua e estou tentando ser educado.

Olhei confusa para Amélia ao meu lado, mas ela permanecia com um sorriso no rosto como se já soubesse sobre o que Jacks falava. Por quanto tempo esses dois teriam ficado conversando? Amélia terá muito a me falar.

Dante parecia pensativo, mas logo disse:

— Vai ter um baile de máscaras na minha casa nesse próximo final de semana, ficaria muito feliz se encontrasse vocês por lá. — seu olhar estava em mim.

— É uma coisa que o pai dele faz todo ano para chamar atenção de gente rica e chata. É assim que ele fecha negócios. — disse Jacks de forma animada. — Entediante, porém a comida me ganha.

— Ele não é meu pai. — o rosto de Dante se fechou e vi uma sombra escura passar por aqueles olhos.

— Foi mal. — Jacks colocou as mãos em sua frente como forma de rendição. — Enfim, vocês vão?

— Nós adoraríamos ir. Giselle? — Amélia olhou pra mim como se esperasse que eu concordasse.

— Claro. — falei rapidamente. — Estaremos lá.

Jacks e Amélia fizeram um hi-five no ar como se comemorassem um plano que tinha dado certo.

Desviei minha atenção novamente para o moreno a minha frente que não me encarava mais e tinha os olhos fixos no chão. Seus braços estavam cruzados novamente e ele estava encostado na Ferrari vermelha.

O que será que se passava em sua mente?

Eu não sabia nada sobre esse homem, mas no fundo senti uma vontade de desdobrar cada parte dele. Descobrir tudo o que aqueles olhos pareciam desejar me contar.

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