Acordo com aquela mesma dificuldade de sempre, mas agora, na minha mente cansada vem uma frase bem comum: Eu já sei o que vou fazer hoje!
Eu nunca fui uma pessoa muito legal, sempre fui egoísta. Acho que isto se deve ao fato de eu ser filha única, mas não quer dizer que não possa mudar.
Meu foco principal para hoje é esquecer do beijo de ontem e focar em ajudar meu novo colega de casa. Sherman. Eu preciso ajuda-lo, mas se eu ficar remoendo as lembranças do beijo mais incrível da minha vida vou acabar me distanciando dele. Eu fujo de qualquer sentimento que possa me causar algum dano, e minha mãe me disse uma vez, que o amor é o sentimento mais danoso que existe.
-Sherman...- chamo e bato na porta que só estava encostada, e por isso abre.
Não vejo ninguém. Então sinto uma dor na nuca, e tudo apaga...
-Sherman..?
- Não. Estefânia. O Sherman está sentado na poltrona com um saco de gelo na nuca.
- Acertaram ele também? Quem me acertou? Ah, quando eu achar o desgraçado...
- Foi o Sherman. - Ela sorri para mim.
- Eu vou mata-lo! Mas, por quê ele fez isso, mesmo?
- Ele está traumatizado. Passou dez anos trancado e se habituou a defender-se de quem quer que seja.
- Por quê ele está machudado..? Ah é, estamos ligados.
- Sim, foi por isso que ele gritou, de dor.
- Temos que dar um jeito de desfazer isso. Não podemos sentir a mesma dor que o outro, isso é loucura!
- Madeleine...- Sherman aparece na porta do meu quarto, ele está em uma mistura de arrependimento e vergonha.
- Oi, Sherman.
Ele não diz mais nada, apenas olha para mim, depois para Stefania. Ela entende o que ele quer dizer e se retira.
- Pode falar Sherman.
- Desculpa, sei que doeu, mas não sabia que era você...
- Não tem problema- o interrompo.
- Não sei porque, mas você é a única pessoa em que eu confio, mas só te conheço a dois dias.
- Isso tudo é tão estranho, parece que te conheço a tempos.
- É. Mas, antes de eu acertar você, o que estava fazendo no meu quarto?
- Fui chamar você para sair um pouco. Você passou um bom tempo preso, tem que sair para conhecer a cidade.
- Onde vamos?
- Andar por aí. Vista uma camisa e vamos.
Esta cidade consegue ser mais quente que um forno. Andamos pelas ruas e por todo lado é possível ver pequenas ondas de calor em cima dos carros, casas e ruas.
O vento sopra e sinto o calor subir do asfalto para meu corpo, olho para Sherman e percebo que ele não está confortável, então entramos em uma biblioteca pública.
- Sabe ler, Sherman?
- Não muito bem, parei de praticar.
- Vamos escolher um livro e eu te ajudo a ler melhor.
- Tudo bem.
Nós escolhemos um livro qualquer e fomos tirar da prateleira lotada. O que não deu muito certo...
- Sherman, ajuda aqui, não consigo tirar.- todo o meu esforço de nada serve.
- Calma, vamos puxar juntos. No três, um, dois, três.!
Droga! Essa dor de cabeça vai durar a semana toda! Sei que Sherman também a sente, mesmo que a prateleira só tenha batido em minha cabeça, nós estamos ligados. Eu sinto, ele sente.
- Ai... essa doeu!- dizemos ao mesmo tempo e nos olhamos, depois rimos da cara de espanto que estamos fazendo.
- Acho que a leitura fica para a próxima. Vamos sair daqui antes que nos façam arrumar essa bagunça! - Sherman tem a brilhante idéia.
Olhamos para os dois lados da biblioteca, logo avistamos uma pequena janela à minha direita. Passamos por ela sem muita dificuldade, e então estávamos fora da biblioteca.
Sentamos na calçada mal acabada de uma casa pequena, passamos uns bons dois minutos no silêncio, então Sherman diz:
- Preciso me alimentar.
- Onde você costuma ir?
- Não saio para me alimentar, Stefania tem trazido sangue para mim durante o tempo que estou lá.
- Posso arranjar para você...
Mas já é tarde.
Estamos na ambulância que foi chamada pelo dono da casa onde nós estávamos conversando. A enfermeira que está prestando socorro ao Sherman parece confusa.
- Ele não tem pulsação. Nem sinal de álcool, drogas ou veneno. Nada que possa ter causado a falência.
Espero que a enfermeira vire para a frente da ambulância e fale com um outro médico que está lá, enquanto isso , vou atrás da maleta de primeiros socorros e tiro de lá uma bolsa de sangue.
Faço com que Sherman beba tudo e logo ele reage.
- Sherman, não fale nada. Finja de morto.- sussurro próximo ao seu ouvido. Ele assente.
Fingi chorar durante todo o caminho, depois chorei mais e mais até chegarmos.
Quando chegamos ao hospital, enquanto a ambulância era estacionada eu e Sherman abrimos as portas traseiras e pulamos do carro.
A enfermeira não deu a mínima, provavelmente estava sendo cantada pelo médico da frente.
Nós corremos para uma praça ao lado do hospital, sentamos em um banco e ficamos observando algumas pessoas comerem, brincarem, e andarem de bicicleta.Talvez você pense que somos loucos ou suicidas por ficarmos aqui enquanto provavelmente algum médico nos procura. Simples, eles vão nos procurar longe enquanto estamos tão perto, camuflados entre outros seres humanos.
Se você não acredita nessa teoria, eu não me importo, sei que o Sherman, meu parceiro de fuga, acredita. Ele tem o mesmo pensamento que eu, então deve concordar.
Estava ainda pensando no quanto sou brilhante, quando sinto duas mãos tocarem meus ombros, olho para o lado e vejo que Sherman também tem duas mãos em seus ombros. Olhamos para cima ao mesmo tempo, quando um dos homens diz:- Nos acompanhem em silêncio, sem fugas ou demonstrações de rebeldia.
Me passam várias coisas pela cabeça. O que este homem nos fará se não formos com eles? Quem são eles, e o que farão conosco?
- Quem são vocês? O que vão fazer conosco? - Droga, Sherman, para de falar o que eu penso!
- Sigam - me e logo saberão.
Não temos escolha, eu não tenho um plano, então começamos a andar em sua direção.
Estamos chegando perto de uma van preta, quando de repente, os dois brutamontes à nossa frente são atingidos por tiros vindos de cima.- Sherman, corre!- Começamos a correr em direção à um beco.
Meus planos vão por água abaixo. Eu paro de correr subitamente, Sherman também para. Ouço aquela voz grave tão conhecida, mas que agora me soa tão estranha.
- É ele.- sussurro para Sherman. - Preciso falar com ele.
- Tá maluca!? Vamos sair logo daqui!
- Preciso falar com ele.- Então, faço o retrocesso, e logo estou novamente próximo à van. Nem havia percebido, mas Sherman está parado ao meu lado e o encara assim como eu.
Espero que ele diga algo, mas apenas me olha. Então resolvi quebrar o silêncio.
- Pai? - A palavra sai de uma forma amarga da minha boca, não esperava falar assim, não com meu próprio pai.
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A verdadeira doença após a morte
VampiroTodos conhecem as histórias de vampiro, lobisomem, e muitas outras histórias. Tem muita gente que diz não ter medo, mas o seu único refúgio para não temer, é ter a consciência de que eles não existem. Mas eu vou contar a história. E essa, você pode...