Revendo a família.

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25 de maio.

Se passou uma semana e lá vai pedrinha desde que aquela situação desastrosa aconteceu comigo, estamos no final de mais um mês.

Depois daquele dia Satoru se tornou um pé no saco, não sei como explicar, mas de um jeito diferente do normal. Esse cara não se desgruda de mim e faz tudo o que eu quero, o que já é assustador, e o que eu não quero também.

Acho que se eu o mandar dar a pata e latir, ele fará. Hahaha, agora que pensei nisso, é tentador a ideia para aproveitar e zoar com a cara dele.

Tive a consulta marcada com o médico e agradeci de coração que esse senhor decidiu discutir sobre o assunto comigo em particular. De acordo com ele, descobriu em um fórum particular de dados internacional que uma cirugia foi feita em alguém com essa mesma particularidade.

Eu não acho que quero saber como ele conseguiu acesso a isso.

A cirurgia foi um sucesso, mas a situação pós-cirúrgica foi estranha. De acordo com os relatórios, quando o paciente acordou parecia uma casca vazia sem emoções, até mesmo sua sensibilidade a dor foi alterada para um estado perigoso onde há a falta dela.

Antes das emoções, a falta de sentir dor me assustou um pouco. Graças a Shoko eu sei o quão importante é a dor para o corpo humano, é essa sensação que avisa quando tem algo de errado com nosso corpo, quando nos machucamos seriamente é ela que impede de agirmos de forma impulsiva, piorando ainda mais a ferida e dependendo da situação consequentemente levará essa pessoa a morte caso ela não tome cuidado.

Voltando a situação das emoções. Cirurgia incluiu a remoção do tecido muscular onde estava "enraizado" as flores. Inesperadamente quando a pessoa acordou ela não sentia mais nada pela pessoa que amou tão rigorosamente, pior ainda, ela não se lembrava da pessoa que amou. E com isso a pessoa também não sentiu mais nada por ninguém, nem empatia ou desprezo. Nem sentimentos de carinho, consideração por seus familiares, nem mesmo os pais dessa pessoa foram excessão. A pessoa em questão não se tornou fria.

Se tornou vazia, como se não tivesse alma ou alguém vivo dentro daquela mente.

O médico responsável desse caso se aposentou logo depois, talvez tenha sido muita pressão para ele na época, coitado.

Então considerando que esse seja o caminho mais fácil, eu também me tornaria alguém assim? O que farei com minha mãe e meus irmãos que nem mesmo estão a par dessa situação?

E também... Eu esqueceria Satoru, consigo concordar em fazer isso?

No fundo do meu coração eu já sabia a resposta.

Perguntei ao doutor: se eu decidisse não fazer a cirurgia e apenas continuasse atrasando a doença com remédios, quanto tempo de vida eu ainda tinha.

Quatro meses, foi sua resposta. Para falar a verdade, superou minha própria estimativa, que eram de no máximo dois meses.

Contar sobre isso para o pessoal, principalmente Shoko e Gojo, foi outra situação difícil. Acho que a própria Shoko me mataria se soubesse que estou mentindo sobre as condições.

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27 de maio.

Sério, eu aprecio toda a preocupação e tudo mais, mas...

Eu não AGUENTO MAIS Satoru no meu pé.

Custou para me deixarem sair do hospital, agora aquele branquelo azedo não quer me deixar ir assistir as aulas.

Hanahaki - Relatos de um doente apaixonadoOnde histórias criam vida. Descubra agora