capítulo 10 - sobre a procura

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No intervalo entre as aulas da faculdade, ainda na parte da manhã, Carol pegou o telefone na bolsa e se espantou com a quantidade de ligações perdidas. Dezoito chamadas de Pedro.

Com o coração já batendo na boca, ela retornou. Ele atendeu no segundo toque:

- Oi, Carol! - a voz do outro lado da linha vinha afobada - A Natália está com você?

- Oi, Pedro. Não, eu estou na universidade, não vejo a Natália desde o dia que passei aí - Carol ouviu o homem suspirar alguma lamentação do outro lado da linha e não pensou duas vezes antes de perguntar - aconteceu alguma coisa?

- Ela... ela não está aqui. A cama tá bagunça, parece que ela saiu as pressas, não sei. Tem duas horas que estou tentando ligar e ninguém atende. Olhei nas câmeras, pelo horário, ela saiu antes do sol nascer. Tenho medo de que aconteça alguma besteira.

O sangue congelou nas veias de Carol. Sem se dar conta, ela parou subitamente de andar e petrificou no meio do corredor. Do outro lado da linha, Pedro chamava por ela.

- Estou indo pra sua casa! - foi o que ela disse depois dos segundos que ficou em silêncio. Desligou o celular e sem avisar ninguém tomou o rumo da porta de saída.

.....

- Oi, meu amor - Taís a recebeu de braços abertos. Estava visivelmente aflita - entra.

- Alguma novidade?

- Nada - a voz de Pedro não tinha ânimo algum.

- Eu acho que a gente devia sair pra procurar ela. Não sei, talvez pensar em lugares que ela goste, que a façam sentir bem.

- Boa ideia Carol - Taís respondeu de pronto - posso ir dirigindo.

- Eu, eu acho que vou ficar aqui. Caso ela volte ou caso alguém ligue.

- Boa, Pedro. Eu vou com a Taís. A gente vai te dando notícias.

Sem muita demora, as duas saíram para as ruas, o sol começava a ficar mais quentes, anunciando o fim das primeiras horas da manhã.

.....

Quase uma hora depois, não havia nenhum sinal de Natália. Taís e Carol estavam exaustas, desesperadas e começando a ver a esperança ir embora.

- E se a gente se separar? Talvez economizar tempo, aumente as chances, não sei.

- Pode ser amiga... mas, você vai ficar ape?

- Vou tentar chamar a Adriana ou a Lara, elas não se incomodariam, eu acho.

- Ótima ideia, Carol- Taís disse isso percebendo o empenho que a amiga depositava na busca por Natália. Acho algo muito nobre da parte de Carol.

Duas tentativas depois, Adriana atendeu e não precisou de muitas palavras para ser convencida por Carol a largar a petshop e ir encontrar as amigas pra se juntar a procura.
Em pouco menos de meia hora, elas estavam se soprando, Taís em seu carro, Adriana e Carol no da veterinária, com um plano muito bem traçado de onde ir e qual caminho fazer.

Sozinhas, Adriana e Carol trocaram olhares rápidos:

- Pensei que você estivesse dando aula hoje, Carol.

- Eu tava, amiga, eu tava. Mas aí o Pedro ligou, me contou o que tinha acontecido e, eu fiquei preocupada... achei melhor ajudar.

- Entendi... - Adriana deu partida no carro sem falar muita coisa.

Carol foi orientando a amiga de qual caminho deveriam fazer e elas seguiram em silêncio por eternos vinte minutos. A certo ponto, porém, a fina barreira que havia se formado entre as duas, desmoronou e o assunto voltou a fluir pelos contornos da tensão que aquela situação trazia.

Mais uma hora se seguiu. Entraram em bares, restaurantes, padarias, postos de gasolina, todo tipo de estacionamento. A ausência de informações se tornava cada vez mais angustiante e inútil. Estavam sem ideias de onde ir.

Taís já tinha rodado muito, estava praticamente fora da cidade. Pedro continuava em casa, tinha acionado a polícia, mas ainda não tinha nada que pudesse ser feito nesse sentido.

Adriana tinha estacionado numa praça e ela e Carol tomavam um café numa padaria nas redondezas. Pensavam, pensavam, pensavam. Carol ia anotando ideias de onde ir, lugares jos quais elas já tinham passado.
- A gente tá ficando sem opção- Adriana estava sem esperança, dava pra sentir em sua voz.

Quase como se não tivesse escutado, tão compenetrada em seus pensamentos, Carol se forçava a pensar

"Se eu fosse a Natália, pra onde eu fugiria?"

"Se eu fosse a Natália, pra onde eu fugiria?"

Começou a acessar memórias do encontro que tiveram alguns dias atrás. É um encontro, né? Não deixa de ser um encontro entre.... ah esquece, esquece isso agora... se eu fosse a Natália, pra onde eu fugiria

Imagens iam ganhando sua mente como flashs, acompanhadas pelas conversas que tiveram. O isolamento na clínica, a tentativa de voltar a vida, o fantasma de
- Bruno...

- Oi?

-  Dri, sei um lugar que não fomos... a casa na serra.

O corpo de Adriana ficou rígido ao ouvir aquelas palavras

- Aí, Carol...

- Sério, amiga. Eu também detesto aquele lugar. Mas eu acho mesmo que a Natália pode ter ido pra lá. Não sei explicar direito, só... acho que faz sentindo

- Tudo bem. Mas como ela ia entrar lá?

- Até parece que você nunca usou a trilha, Adriana...

Realmente não havia maneira de convencer Carol de não ir, então se levantaram, pagaram a conta e voltaram para o carro. Adriana quis chamar Taís, mas Carol achou que quando menos gente, melhor. Também era uma forma de evitar que todos fossem até lá atoa.

Intimamente, não achava que era atoa, mas achou que Adriana não entenderia.

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