capítulo 11 - sobre resgates

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Cada segundo dentro do carro aumentava a ansiedade de Carol. A casa da serra não ficava longe, mas de repente parecia que o caminho tinha se alongado de modo angustiante.

Adriana já tinha, mais de uma vez, ofertado palavras de tranquilidade para amiga, mas nada, nada seria capaz de trazer alívio a Carol, a não ser encontrar Natália. Fosse do jeito que fosse.

Quando finalmente o carro estacionou diante do portão esverdeado da casa, Carol foi desafivelando o cinto e mal esperou Adriana tirar a chave do contato para sair do carro.

- Não vejo carro nenhum aqui Carol, a Natália não teria vindo a pé. Acho que não vamos achar nada.

- Não, Dri... eu, eu sei que ela tá aqui. Pode ter entrado com o carro, ter pego carona com alguém, não sei... Acho que não custa olhar - disse isso já na linha que separava o asfalto da trilha aberta na vegetação, que levava ao interior da propriedade.

Seguiram pelo curto caminho em silêncio e saíram na clareira que dava pra piscina pouco tempo depois. A casa parecia vazia, nenhum sinal de vida ali, nem mesmo dos funcionários que sempre ficavam de prontidão para alguma manutenção

- Carol...

Ela parecia não estar ouvindo. Caminhou decidida até a porta de vidro e forçou a abertura. Nada. Usou as mãos para fazer sombra e olhar para dentro da casa. Nada. Nenhum vestígio da passagem de Natália.

Carol se virou, Adriana estava logo atrás, a expressão tão desapontada quando a da amiga.

- Vamos... ela não está aqui, amiga.

- Aí, Adriana, nao sei... alguma coisa me diz que... - enquanto falava, Carol passava os olhos por tudo ao redor e, repentinamente, quase como numa cena de cinema, o sol cegou seus olhos. Na direção que levava ao penhasco, um luz absurda chamava sua atenção.

- Carol...?

- Eu... eu já sei - disse isso pegando na mão de Adriana sem dizer mais nada e conduzindo a amiga na direção da trilha que levava até o descampado onde Bruno tinha falecido.

Nessa altura, Adriana já contestava pouca coisa. Estava tão preocupada quanto Carol, mas buscava disfarçar o sentimento para não intensificar ainda mais a angústia que dominava aquela manhã. Estava, inclusive, confusa ao ver a amiga daquele jeito, tão nervosa. Logo ela, pensava, que sempre foi a mais calma de todas nós.

As duas caminharam silenciosamente pelo caminho de areia, apenas o barulho dos sapatos amassando parcialmente as britas. Adriana estava se segurando pra não falar, pela milésima vez, que achava aquilo inútil. Não acreditava que Natália teria se deslocado até aquele lugar. Ela era meio pancada das idéias, é verdade, mas, a esse ponto?

A resposta estava ali, bem diante de seus olhos. Sentadas em posição meditativa, encarando o abismo que se entendia a sua frente, estava Natália. Adriana fez menção a ir até lá, mas Carol a impediu com um gesto quase imperceptível.

- Eu vou na frente... acho que se chegarmos juntas ela pode se assustar.

Cada palavra era dita em sussurros. Adriana assentiu positivamente com a cabeça e ficou parada enquanto a amiga se afastava calma e silenciosamente na direção de Natália.

Carol sentia o coração bater com tanta força, que as veias de seu pescoço pulsavam em ritmo compasado. Cada segundo que separava ela de Natália era uma janela infinita para pensar o que dizer, como abordá-la, o que esperar da amiga que, de costas, não dava nem sinal de perceber a chegada de alguém.

Estava ali, já não tinha muito mais o que fazer. Precisava agir. Agora, já a pouquíssimos metros de Natália, podia perceber que ela estava de olhos fechados, como se estivesse mesmo meditando. Carol se abaixou, ficando de cócoras e pousando delicadamente a mão no ombro da amiga, que estremeceu

- Natália...

Ela se virou, estava com o rosto avermelhado, os olhos pequenos, típicos de quem passou longas horas chorando. Sua expressão foi de desamparada e assustada para algo entre a surpresa e o alívio

- Carol... - disse isso e imediatamente lançou-se na direção da amiga, que a amparou com os braços, fazendo força para se equilibrar e não cair no chão.

Carol tinha muitas, muitas perguntas, mas calou todas elas e apenas acolheu Natália em seus braços, passando a mão por seus cabelos enquanto o corpo dela tremia sutilmente. Estava chorando. Carol se afastou, colocando as mãos no rosto da amiga

- O que aconteceu? Porque você fugiu?

- Bruno.... o Bruno... - não saia muita coisa a não ser o nome do irmão.

A essa altura, Adriana já tinha se aproximado um pouco mais da cena e podia pescar algumas palavras da conversa.

- Acho melhor a gente tirar ela daqui, Carol, esse sol não vai fazer vem.

- Certo.... Natália, você... você está de carro?

- Sim... eu... eu larguei ele um pouco antes da entrada da casa.
- Ok. Adriana vai levar a gente até lá. Eu pego seu carro e vamos pra casa, ok?

Ainda que parecesse contrariada, Natália se levantou e permitiu que as amigas a guiar-se, em completo silêncio, na direção da trilha que levava para fora da residência. No carro elas permaneceram sem trocar uma única palavra até acharem o carro de Natália, que desceu acompanhada de Carol para continuar o caminho de volta pra casa.

Dentro do carro, com Carol afivelando o cinto, as mãos suadas de quem tem pouca prática na direção, Natália finalmente disse algo.

- Estou com medo, Carol.

Aqueles olhos castanhos pareciam mesmo muito assustados. Carol tentou sorrir, colocando a mão sobre a mão de Natália

- Está tudo bem., estou aqui com você.

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