Carol levou um tempo para perceber que o celular estava tocando, mas não precisou nem de meio segundo para atender, quando leu o nome de Natália no identificador de chamada.
- Alô! - atendeu firme. Do outro lado, um barulho de música e conversas se misturava a voz que respondia.
- Oi, Carol! Sou eu! Natália.
- Oi, oi... Natália. A ligação tá ruim, eu, eu não tô ouvindo direito. Tá tudo bem?
- Tá! Tá sim. Tô com Marcos.
- COM O MARCOS? ONDE? COMO ASSIM?
- Numa boate... a Isis se o Giovanni estão aqui também.
Carol começou a se perguntar se Natália não estaria delirando, perdida em algum lugar. Seu sangue se aqueceu e ela ficou em estado de alerta.- Natália, aonde você tá? Sabe o endereço?
- Sei, sei. É na Marques de.... na, na verdade, Carol, eu... bom, queria saber se posso passar aí. Sei que tá tarde, mas...
- Não, vem! Vem sim. Pode vir.
- Tá bom! Tchau!
Carol não teve nem tempo de responder antes que o som da linha desligada invadisse seus ouvidos. Colocou o telefone sobre a mesinha de cabeceira e, primeiro, respirou fundo, permitindo que seu corpo se acostumar-se com a mudança brusca de estado pela qual tinha passado, entre o sono quase profundo e o despertar acelerado.
Poucos minutos depois, já mais atenta e com as sinapses funcionando melhor, Carol se deu conta de que eram quase duas horas da manhã e Natália, aquela Natália, chegaria na porta da sua casa a qualquer momento. Não sabia exatamente o quão distante a boate ficava dali, então era difícil calcular quanto tempo ainda tinha até receber sua visita.
Carol foi até a cozinha, bebeu um bom copo de água, alongou os braços e cogitou tomar um banho, mas logo desistiu crente de que isso já era demais. Apenas se enrolou em seu quimono rosa claro e soltou os cabelos, que caíram lisos pelas laterais de seu rosto arredondado. A curiosidade começavam a corroer suas entranhas.
O que será que ela quer comigo? Não, não, que pergunta... Será que ela está bem? O que será que aconteceu?
Os sentimentos iam se misturando na mente e no coração de Carol. Entre preocupada com Natália e preocupada consigo mesma naquela situação, a cientista se deixou levar pelos ponteiros do relógio e, extremamente as quinze pras duas da manhã, seu interfone tocou.
.
- Gente, acho que vou embora - Natália disse praticamente gritando para se fazer escutar.
- Embora? Agora? - Marcos parecia confuso
- Sim. Mas você pode ficar, não esquenta comigo. Vou pedir um carro.
- Tem certeza, Natália? - foi a vez de Giovanni perguntar - a gente pode te levar em casa, sem problema nenhum.
- Ah, não, não, eu não vou pra casa - a resposta saiu sem que Natália pensasse bem. A expressão que se desenhou nos rostos ao redor dela trouxeram consigo um que de arrependimento.
- E você vai aonde ein, tia? Posso saber?
- Vou... eh... vou ver a Carol - novas caras de espanto - ela me ligou aqui e, bom não deu pra entender direito o que é, ela só, só pediu que eu fosse até lá.
Péssima mentirosa, Natália, você é uma péssima mentirosa.
Por sorte, ou por embriaguez, nem Marcos, nem Isis, nem Giovanni pareciam ter condições de contestar aquela informação, por mais descabida que ela soasse.
- Quer que eu te leve lá?- Não, não precisa, Marcos. Fique aqui e divirta-se. Eu peço um carro, aviso quando chegar lá.
- Ok. Avise mesmo.
- Podexa. Avisa seu tio quando chegar em cada. Do jeito que as coisas tem andando é capaz que ele mande a polícia atrás de mim se eu não der notícias.
Marcos riu, apesar de saber a seriedade da situação na qual a tia se encontrava. Despediu-se dela com um beijo na bochecha e Isis e Giovanni fizeram o mesmo. Natália então se encaminhou para fora da boate, com o celular em mãos a espera de seu carro de aplicativo.
Cada segundo que passava na calçada ao lado do fumodromo era uma pitada e angústia que crescia em sei coração. O cheio da nicotina trazia a tona lembranças da juventude, da novidade presente em todas as coisas, todas as primeiras vezes.
Lembrou da primeira vez que fumou um cigarro. Bruno estava lá. Carol também, na época, inclusive, como ficante, é ficante que se diz hoje em dia né? Como ficante de seu irmão. Tempos sombrios, sem dúvida. Mas o cigarro, que conheceu naquele dia, se tornou um bom amigo por certo tempo e agora, parada esperando ao lado do fumodromo, a vontade de tentar sentir de novo o gostinho de novidade inundou seu peito. Se aproximou de um rapaz e pediu
- Oi, licença... desculpe mas, você, você poderia me salvar um cigarro.
Gentilmente o rapaz respondeu que sim, estendendo a carteira e o isqueiro para Natália, que buscou ser o mais rápida possível para acender o cigarro. Fez isso e, com um sorriso de agradecimento, se encaminhou para o outro lado da rua, onde podia fumar mais a vontade.
As primeiras três tragadas queimaram sua garganta, mas depois, ela se acostumou com a sensação. Cada jato de fumaça que saia de sua boca ia levando seus pensamentos, de modo que eles ficavam pairando bem a sua frente, como fantasmas.
Quando terminou o toco branco que equilibrava elegantemente entre os dedos, seu carro virou a esquina. Procurou por alguma lixeira na qual pudesse jogar a bituca, mas nao tinha nenhuma por perto, deu de ombros e, com peso na consciencia jogou no chao.
- Que gosto horrivel! - comentou para si mesma antes de entrar no carro e partir na direção do apartamento de Carol.
O motorista não trocou uma palavra, além das de praxe, o que para Natália foi um grande alívio. Deus me livre ficar vinte minutos conversando com um desconhecido, as duas horas da madrugada. Ia encostada na janela contemplando a paisagem noturna.
Poucas luzes acessas nas casas e prédios, pouco movimento nas ruas, uma paz quase perturbadora reinava. Tão absorta estava nesses pensamentos que sequer notou que tinha chegado ao seu destino.
Desafivelou o cinto, agradeceu o motorista e desembarcou na porta do edifício. Apertou o interfone e aguardou pela resposta do outro lado, liberando a subida. No peito, seu coração batia desesperadamente
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Notas
Oi meus amores, tudo bem?
Hoje passa do aqui só pra deixar meu @ do Twitter pra quem quiser acompanhar as atualizações da fic por lá@caraliaudas
Espero que estejam gostando.
Beijos
s.m
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Os outros são os outros
FanfictionDepois de vinte e cinco anos da morte de seu irmão, Natália ainda se sente presa à fatídica noite que encontrou o corpo de Bruno sem vida. Após ficar internada pela segunda vez, uma reunião de boas vindas organizada pelo grupo de amigas da adolescên...