Mais Cedo Ou Mais Tarde

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- Jantar na residência dos Larios, aí vamos nós! - Fabiana diz alto, animada.

- Não fique tão animada Fabiana, é apenas um jantar. - Digo sem ânimo na voz, mas só Deus sabe o quanto estou ansiosa para ver minha pequena.

- Pode até ser apenas um jantar, mas nós nunca fomos convidadas a jantar na casa dos pais de nenhuma aluna do colégio. Nem saímos daqui. - Fabiana rebate enquanto remexe os cabides em seu guarda roupa. Não sei exatamente o que ela procura, todas as nossas roupas são iguais.

- Nunca nos convidaram por que não é certo. Nosso lugar é no colégio. - Digo, mas percebendo o olhar cabisbaixo de Fabiana, tento reverter. - A família da Dulce deve ser muito importante pra Madre, deve ser por isso que ela não exitou em aceitar.

- É, deve ser.

Me levando da cama onde estava sentada, e abro o armário para pegar minha bolsa. Fabiana me segue com os olhos.
Preciso sair.

- Calma Cecília, o jantar é só à noite. -

Bufo

- Eu sei Fabiana, tenho uma consulta com o Doutor André hoje, a Madre já me liberou. - Digo calma

- Outra consulta? - Pergunta olhando em meus olhos com as sobrancelhas arqueadas. - Já é a terceira só essa semana.

- Eu sei, mas tenho que manter os exames em dia. Cuidar da saúde nunca é demais. - Digo desviando o olhar do dela.

- Não sei não, pra mim isso é apenas mais uma desculpa para se encontrar com o doutor bigodudo. -

- Fabiana! Não diga esses absurdos. - Exclamo indo em direção a porta.

- Não sei por que continua tentando esconder as coisas de mim, sabe que eu sempre descubro, você querendo ou não, mais cedo ou mais tarde. - Ela diz com um olhar "macabro". Me dá calafrios.

- Às vezes você me dá medo. E eu não tenho nada pra contar. - Digo e saio do quarto, fechando a porta em seguida.

... Alguma horas depois ...

Gustavo

- Já está tudo pronto para o jantar, senhor Gustavo. - Silvestre diz formalmente.

- Obrigado Silvestre, agora é só aguardar as convidadas. Você pode ver com a Fran se a Dulce já está pronta? - Pergunto enquanto me sento no sofá da sala ao lado de Gabriel.

- Claro, com licença. - Diz e se retira, subindo as escadas em direção ao quarto de Dulce.

- Um jantar com freiras, só a minha filha pra conseguir me convencer de fazer isso. - Digo me encostando.

Liguei para o colégio depois da conversa com a Dulce, a Madre aceitou o convite para o jantar, mas antes fez várias perguntas a qual eu não sabia responder metade delas.
Uma das perguntas era se havia elevador no prédio, não entendi o sentido da pergunta mas não quis prolongar o assunto.

Talvez ela tenha alguma enfermidade nas perna, o que dificulta o uso de escadas.

- São noviças, Gustavo... - Estefânia aparece na sala me corrigindo. -

Tanto faz...

- E isso não é nenhum sacrifício, Gustavo. - Gabriel começa. - As irmãs são ótimas pessoas, muito educadas e gentis. Deveria se sentir honrado em tê-las em sua casa. -

- Não exagera, Gabriel. - Digo, logo em seguida o interfone toca, e Estefânia se levanta para atender.

- Claro, pode pedir para subir. - ela diz ao porteiro e logo desliga. - Chegaram!

...

- É um prazer revê-lo Padre, como vai? - A Superiora comprimeta meu irmão ao entrar em minha residência. Suas "súditas" estão atrás dela  e fazem o mesmo ao entrar.

- O prazer é nosso, em tê-las aqui. Não é Gustavo? - Gabriel se vira me olhando nos olhos.

- Claro, sejam bem vindas. Fiquem a vontade. - Digo e as comprimento, começando por Madre, depois a noviça que me mostrou o colégio outro dia. E por fim irmã Cecília, a famosa Irmã Cecília.

Por causa de Dulce, devo saber sobre essa noviça mais do que deveria.
Em todas as nossas conversas não teve uma vez que ela não citava Cecília.

Sei sua cor e comida preferida, a data de seu aniversário, a brincadeira preferida das duas, sua música favorita, sua estação do ano preferida, o número do seu sapato, a numeração de suas roupas, seu livro preferido.

Elas devem conversar sobre tudo, e isso é bem incomum, pois Dulce é apenas uma criança.

- Irmãzinha Cecília! - Dulce grita do alto da escada ao olhar para sala e ver a noviça. Depois de descer a escadas segurando no corrimão, ela corre ao encontro de Cecília.

- Minha carinha de anjo! Como eu estava com saudade de você! - Cecília exclama não tão alto, e pega Dulce no colo envolvendo-a em seus braços.

"Carinha de anjo?"

- Eu também irmãzinha, senti sua falta. - Sua voz é quase um sussurro, e consigo notar lágrimas escorrendo de seu pequeno rosto enquanto ela a abraça forte como se ela fosse fugir a qualquer momento.

O que Dulce viu nessa Noviça?

A Flor e o Beija-FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora