1937

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Querido WJH,

Apenas um mês se passou desde que tu fostes embora.

Percebi que desconhecia uma parte de mim, a parte que não sabe viver sem ti.

Tu és meu tudo. Tu és meu amor, meu herói, meu melhor amigo, a melhor parte de mim, e não tenho-o mais.

Sei que estou a soar dramático, meu amor, e peço-lhe perdão por expressar tamanha preocupação e saudades, porém tu estás em meio a uma guerra. Os japoneses não perdoam, temo que nunca mais o verei, mesmo que tente acreditar em suas palavras de que voltarias ao lar.

Sinto falta de chegar em casa e ter o aroma de sua comida pelo ar.

Sinto falta de ler-te livros antes de dormirmos.

Recentemente, pude receber do exterior uma cópia do livro "De Profundis", de Oscar Wilde. Percebi que ler as obras deste gênio já não é o mesmo se não estou lendo para ti.

Entretanto, prometo-lhe ler tal obra para si quando voltares.

Pergunto-me se estás bem. Se tens se alimentado com refeições boas. Se estás ferido ou com dores. Se há alguém para cuidar de ti, embora saiba da tua capacidade.

Já cansei-me de chorar de preocupação e saudades. Sinto-me como se minhas lágrimas tivessem secado-se, então questiono-me se sou muito fraco, ou muito pessimista.

Espero-lhe dia após dia.

O meu "eu" como um todo pertence apenas a ti.

Amo-lhe.

Ass: XMH.
[24/08/1937]

Querido WJH - JunhaoOnde histórias criam vida. Descubra agora