1945 (IV)

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"Querido Xu Minghao,

Não sei como escrever-lhe agora. Não sei se verá. Não sei onde estás agora que passastes para o outro plano.

Eu prometi que retornaria, não prometi? Então por que não esperou-me?

Eu cumpri a minha promessa, Hao. Eu estou de volta. Retornei ao lar assim como foram minhas últimas palavras para ti antes de ir á guerra.

Tranquei-me em minha bolha de ignorância e recusei-me a aceitar a verdade quando ouvi pela primeira vez o que lhe ocorreu.

Quando me disseram á segunda vez eu disse-os que não conhecia ninguém do Partido.

E quando disseram-me pela terceira vez, descrevendo-me a tua aparência, eu recusei-me a acreditar que este alguém era você.

Não posso dizer-lhe o que eu pensava. Não sei que torcia para que não fosse tu pois eu sabia que tu não era o líder do Partido, e diziam que quem foi morto era um dos líderes. Não sei se queria manter uma ponta de esperança para agarrar-me e não sei se eu já sabia que era tu.

Não sei, mas acho que no fundo eu sabia a verdade inteira.

Ainda assim, retornei ao lar apenas para encontrar-lhe totalmente vazio, sem indícios de tua presença. Encontrei pilhas com as cartas que enviei-te jogadas pelo buraco da porta. Encontrei pilhas de cartas que escreveu-me, porém nunca chegou a enviar-me. Procurei-o e esperei, esperando que houvesse apenas ido a algum lugar, embora já estivesse anunciado o retorno dos soldados chineses. Torci para que apenas não soubesse e recusei-me a encarar a verdade, porque a verdade era dolorosa demais.

Deveria esperar que isto pudesse acontecer desde 1938, quando esviastes a primeira carta ao exterior.

Mas não. Recusei-me pois és a pessoa que mais amo, e não gostaria de perdê-lo.

No meu segundo dia esperando-o, recebi visita dos dois líderes do Partido, e podes imaginar o meu terror porque se os dois estavam aqui, então quem faleceu?

Eu sabia a resposta, mas, novamente, era ignorante demais para acreditar.

Então eles me explicaram cada detalhe.

Disseram que a reunião foi invadida por oficiais. Apenas tu e outro homem sabiam falar japonês a quando exigiram saber onde 'Xu Minghao' estava, tu não hesitou em responder-os. Foi-me contado que os integrantes do Partido que não conseguiram fugir foram amarrados e obrigados a assistirem os japoneses torturarem-o como uma espécie doentia de "aviso".

Disseram-me que quando estavas em uma linha mortal entre a vida e a morte, deram-te uma chance de ficar vivo, caso dissesses o nome dos líderes, mas que tu se recusou.

Novamente pergunto-o, meu anjo, minha Afrodite, por quê?

Não sabiam o teu rosto. Poderia ter mentido. Poderia ter dito que Xu Minghao não estava ali. Poderia ter dito o nome dos líderes ou mentido e falado nomes falsos. Poderias ter continuado vivo, então questiono-te, por que fizestes isso?

Tu achas que tua vida vale tão pouco assim, ao ponto de tua lealdade ter levado-te a ser torturado por dias, morrendo aos poucos quando teve a chance de ficar vivo?

Meu amor, por quê?

Por que deixaste-me?

Tu cansou-te de me esperar?

Tu querias morrer e apenas aceitou o que aconteceu?

Haviam tantas possibilidades, meu amor. Eu lhe alertei, disse-lhe a anos atrás que você deveria dar um passo para trás pois era um alvo.

Querido WJH - JunhaoOnde histórias criam vida. Descubra agora