Capítulo 4

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O relógio de pêndulo de sua casa ainda não havia soado às cinco da manhã, mas o coração de Grace fazia seu peito tremer.

Ela pegou o embrulho dos pães que havia guardado no armário do quarto. Leonor ainda estava dormindo com o cobertor até a cabeça, um sono pesado. Como um rato Grace se esgueirava pela cozinha buscando uma tigela de sopa que tinham preparado no jantar do dia anterior, ele precisaria de mais que alguns pães.

Na sua sala de atendimento ela, separava mais insumos para tratar do desconhecido que repousava no celeiro, ela passava as mãos pelos vidro gélido dos frascos, a procura de um recipiente… E ali estava entre os livros, um recipiente com açúcar, o açúcar que usava em feridas sujas, para que não surgisse a febre que muito frequentemente vinha com essas lesões.

Mas  não poderia esquecer de coletar cinzas do fogão e em uma tigela ela recolhe o pó escuro da queima da lenha, que já estavam frias, pois haviam sido queimadas ontem a noite.

E pela porta dos fundos assim como tinha feito antes, saiu com tudo nas mãos e com cuidado para não ser vista e nem ouvida, tomou rumo para o celeiro.

Antes de abrir as portas ela se preparou para o que encontraria ali, torcia para que ele tivesse sobrevivido aquela noite. Engole em seco antes de abri-las.
No amontoado de feno, de olhos fechados, na mesma posição que ela havia deixado, lá estava ele, imóvel, pálido. Desesperada, Grace deixa as coisas no chão e se aproxima dele, se ajoelhando próximo a ele,  toca a pele do seu rosto e a sua mão doía devido ao frio, como a pele sem vida de um defunto.

Mas aquilo não poderia ser verdade, não depois de tudo. Ela desce às mãos pele pescoço dele, afastando o colarinho da farda vermelha, ela toca sua carótida, o pescoço está morno e ao sentir seus dedos pulsar sobre o pescoço dele, Grace suspira de alívio.
Ele se move, tentando desvencilhar seu pescoço do toque dos dedos frio de Grace, soltando um grunhido.
Grace percebe que o soldado está acordando e se afasta.

Os olhos dele se abrem devagar e piscavam várias vezes, até se acostumar com a luz e então percorrem inerte pelo teto do celeiro e por fim pousam em Grace.
– Onde eu estou?–ele pergunta confuso.
–Você está no celeiro da minha casa, está seguro, mas você não pode fazer muito barulho, minha família não pode saber que você está aqui.– Ele toca as faixas no seu ombro com a mão direita e pousa seu olhar fixamente em Grace.

–Obrigado. Muito obrigado por me ajudar. Por favor, me desculpe por te trazer tanto incômodo. – Grace observava ele falar, seu olhar era sincero e preocupado.

– Olha, não se preocupe com isso, apenas descanse e em breve ficará melhor.
Grace observava o olhar dele vagar novamente pelo celeiro e ela se perguntava, quem era aquele homem, com o rosto sério, olhar confuso e por trás de todo aquele sangue, terra e sujeira, havia uma beleza jovial. Ele provavelmente tinha a mesma idade de Charles, na casa dos vinte e poucos anos.
Grace e seus pais viveram em épocas de pouquíssimas guerras, as que houveram eram distantes dali, mas para ela, jovens como eles não deveriam arriscar perder suas vidas, em guerras cruéis do reino vizinho, na qual a morte era quase certa. E era nesse quase que ela se apagava quando pensava no seu amigo Charles. E olhando para aquele desconhecido ela sentia uma enorme e  estranha empatia, que pesava em seu peito.

– Como você se chama.– ela pergunta baixo, quase num sussurro.
Ele sorriu, mas Grace não entendia, ela não imaginava aquele rosto que ontem estava tão perturbado pelo medo e pela dor, como um rosto fabricava aquele sorriso gentil.

– Perdão, eu não pude me apresentar adequadamente, meu nome é Augustus.
Ele estende uma das mãos para um cumprimento. A palma de sua mão levemente suja e embaixo das unhas também havia terra. Mas Grace, não se importava e apertou firme a mão de Augustus.

Lilac Gale (Uma história de amor)Onde histórias criam vida. Descubra agora